Archive for the ‘Política’ Category

A Lava-Jato construiu um escândalo para mudar resultado de eleição

8 de fevereiro de 2022

Marcio Chaer, via Conjur em 28/2/2022

A imprensa brasileira sempre teve importância fundamental em grandes momentos históricos do país. Um exemplo foi a capa da revista Veja do dia 23 de outubro de 2014, três dias antes da eleição presidencial daquele ano.

O segundo turno caiu num domingo. Na véspera, a notícia bombástica, espalhada em outdoors erguidos em todo o país, informava que “o doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção na Petrobras, revelou à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, na terça-feira (21/2), que Lula e Dilma Rousseff tinham conhecimento das tenebrosas transações na estatal”. “Eles sabiam de tudo”, explodia a manchete.

Mas Dilma, com 51,6% dos votos, acabou vencendo a disputa com Aécio Neves, para o desgosto de quem tanto trabalhou no sentido contrário. O grande feito jornalístico, contudo, ganha outras cores quando se passa em revista a participação de Sergio Moro, da PF, do MPF e dos jornalistas nesse episódio clamoroso.

Até agora, a manobra era criticada pelo seu vazamento. Agora se sabe que as poucas linhas do “depoimento” – na verdade, um “adendo” de uma delação que ainda não existia – foram fabricadas apenas para viabilizar a reportagem. A prova está em vídeo (clique aqui para ouvir). Delegados, procuradores e juiz de primeira instância investigam uma presidente da República.

O próprio Moro comandou a audiência preliminar, quando o caso já estava a cargo do Supremo. Ele concentra os papéis da PF, do MPF e do STF. Para garantir o adendo de Youssef, prometeu: se Teori Zavascki não homologasse a delação, ele, Moro, concederia os benefícios nos autos – como já fizera outras vezes em negociações semelhantes. Teori homologaria a delação em dezembro, sem qualquer anexo que falasse de Dilma ou Lula. O objetivo do “adendo” já fora atingido.

A produção desse momento da Lava-Jato foi protagonizada pelo delegado da PF Márcio Anselmo e pelos procuradores Diogo Castor de Mattos e Roberto Pozzobom, sob a direção de Sergio Moro. Depois da eleição, foram flagradas conversas dos delegados, comemorando a capa de Veja.

Alberto Youssef, preso havia mais de sete meses, estava com problemas de saúde – o que o levou a ser hospitalizado, mas só depois de concordar com o depoimento contra o PT. A própria revista reproduziu o “adendo” com que o doleiro comprou sua alforria:

“Perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, o doleiro foi taxativo:
– O Planalto sabia de tudo!
– Mas quem no Planalto? …
– Lula e Dilma, respondeu o doleiro”.

A fabricação do depoimento extraído a fórceps irritou os advogados. Sérgio Moro não tinha alçada sobre a delação de Youssef, mas foi quem articulou o depoimento, em contato com os advogados, com a polícia e com o MPF. Foi por pressão do juiz que o doleiro foi levado a depor. Nos Estados Unidos, isso se chama “prática jurídica corrupta”.

As “discrepâncias” do depoimento quando ainda não havia delação foram registradas nas impugnações feitas pelos advogados. Mas o domínio lavajatista escolhia as verdades que queria. O gerente da Petrobras, Pedro Barusco, sempre declarou que recebia propinas na empresa desde a década de 90. Mas, obedecendo os procuradores, só lançou nas planilhas as propinas recebidas a partir de 2003, porque foi orientado no sentido de que a Lava-Jato não cobria os períodos anteriores. Ou seja, o objeto do processo eram os governos do PT. Mais ainda: ele foi proibido de citar autoridades com foro em Brasília para que a delação não escapasse de Curitiba.

Youssef jamais admitiu a seus advogados saber qualquer coisa sobre o Palácio do Planalto. O que ele sempre informou foi que as conversas sobre dinheiro com o PT se davam por meio do ex-deputado José Janene, que, por sua vez, relacionava-se com Paulo Roberto da Costa. Não existe um único registro de que Alberto Youssef tenha feito qualquer referência a Dilma ou Lula, fora do depoimento criado por Sérgio Moro.

Márcio Chaer é diretor da revista Consultor Jurídico e assessor de imprensa.

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A LAVA-JATO QUEBROU O BRASIL
Fernando Horta em 29/1/2020

A Lava-Jato não recuperou nem um terço dos impostos que deixaram de ser arrecadados das empresas que ela faliu. No total o Brasil perdeu mais de R$500 bilhões em faturamento anual das empresas diretamente envolvidas. Isso são empregos perdidos, fome, desespero e um futuro roubado.

Lula: “As pessoas se incomodam com o pobre tendo carro ou andando de avião”.

8 de fevereiro de 2022

Pensar a História em 31/1/2022

“As pessoas se incomodam com o pobre tendo carro ou andando de avião”. Foi assim que o ex-presidente Lula respondeu a uma crítica sobre as filas nos aeroportos brasileiros durante uma palestra sediada na Universidade Federal do ABC em julho de 2013.

“Em 10 anos, fizemos com que 53 milhões começassem a andar de avião. Claro que tem problema em aeroporto.” Meses depois, em uma cerimônia de aniversário de 10 anos do Bolsa Família, Lula insistiria no tema: “Eu sei que incomoda muita gente que os pobres estão evoluindo.”

“A patroa bota um perfume à noite para ir jantar e a empregada vem de manhã com o mesmo perfume. […] O cidadão vai para o aeroporto, chega lá está a empregada dele com a família no avião, pegando o lugar dele”, disse Lula.

As falas de Lula foram duramente criticadas pela imprensa. O discurso foi rotulado como demagógico, irresponsável e populista. Os jornais afirmavam que o ex-presidente tentava “dividir a sociedade” – como se esta já não estivesse dividida há séculos”.

A observação de Lula, entretanto, estava correta. A ascensão dos pobres criou um profundo mal-estar nas classes médias e na elite, que interpretaram o avanço das camadas menos favorecidas da sociedade como um processo de perda de status e de privilégios.

Em um país tão socialmente segregado quanto o Brasil, onde as relações sociais foram forjadas pela dinâmica da exploração e da escravidão, as aparências, o status social e a ostentação de poder aquisitivo têm enorme importância nas dinâmicas de sociabilização.

Um celular caro, um carro novo, uma roupa de grife e até mesmo uma viagem são ferramentas de afirmação social que, no imaginário popular, garantem respeitabilidade. Nesse contexto, a mobilidade social no governo Lula teve um profundo impacto psicológico na sociedade.

Durante o governo Lula, 60% dos brasileiros tiveram incremento de renda e 36 milhões saíram da miséria. Formou-se uma nova classe média que, embora despida de status, logrou concentrar um importante poder de consumo.

Essa nova classe média passou a comprar carro, casa, frequentar restaurante, fazer cursos, viajar etc. O potencial de consumo alimentou um sentimento de bem estar, fomentando um novo ciclo de investimentos e a criação de novos nichos econômicos voltados à classe C.

O ingresso desses consumidores emergentes em espaços até então relegados à elite e à classe média tradicional causou atritos, desconforto e reações violentas – um desejo visceral de “devolver” a nova classe média ao seu “devido lugar”.

O exemplo mais bem acabado desse fenômeno é um texto de Danuza Leão, publicado na Folha em 2012, em que, com desconcertante sinceridade, a socialite se queixa do fato de que “ser rico perdeu a graça”, demonstrando inconformidade com o fenômeno da ascensão social.

“Bom mesmo é possuir coisas exclusivas, a que só nós temos acesso; se todo mundo fosse rico, a vida seria um tédio”, pontua a socialite, mostrando-se irritada porque não pode mais “se diferenciar do resto da humanidade”, pois “todos têm acesso a absolutamente tudo”…

…uma vez que os emergentes agora podem parcelar tudo “pagando módicas prestações mensais”. E conclui que viajar para Nova York ou Paris perdeu o encanto, pois agora, “por R$50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual é a graça?”.

Danuza pode ter sido a mais vocal, mas estava longe de ser a única personalidade afluente incomodada com a ascensão dos emergentes.

Em novembro de 2010, por exemplo, o apresentador Luiz Carlos Prates, da RBS – retransmissora da Rede Globo em Santa Catarina –, fez um comentário raivoso atribuindo o aumento dos acidentes de trânsito à popularização dos automóveis no Brasil.

Prates se queixou do fato de que agora “qualquer miserável pode comprar um carro”, o que, na sua visão, ocorreu graças a “este governo espúrio que popularizou, pelo crédito fácil, o carro para quem nunca tinha lido um livro”.

Em 2014, Rosa Marina de Brito Meyer, professora de letras da PUC/RJ, fez uma publicação nas redes sociais zombando de um passageiro que aguardava para embarcar no mesmo avião onde ela viajaria, ironizando com a legenda: “Aeroporto ou rodoviária?”.

Mais recentemente, Lilian Taranto, ex-esposa de Renato Aragão, queixou-se de ter de dividir o voo com um passageiro que usava bermuda e chinelo. “Para uma blogueira vintage, passando dos 50, o aeroporto começa a ficar um saco… Parece rodoviária, né, gente?”

Em fevereiro de 2020, Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, demonstrou incômodo semelhante ao justificar a alta da cotação do dólar. Guedes criticou a taxa de câmbio do dólar a R$1,80 durante os governos petistas.

Segundo o ministro, a cotação estava tão baixa que “até empregada doméstica estava indo para a Disneylândia”, o que rotulou como “uma festa danada” que precisava acabar.

Guedes e outros representantes de sua classe podem ficar tranquilos agora. Cerca de 60% da classe trabalhadora relata redução de sua renda. Mais de 20 milhões de brasileiros voltaram a passar fome e temos o menor consumo de carne da história.

Metade dos brasileiros está sobrevivendo com menos de R$500,00 mensais. E os aeroportos estão novamente vazios para o usufruto exclusivo e confortável da elite e dos setores médios do Brasil.

A barrigada da Folha e o Picasso largado no INSS

8 de fevereiro de 2022

Pensar a História em 6/2/2022

Os apreciadores de arte moderna certamente se surpreenderam com a matéria ilustrada na capa da Folha de S. Paulo em 7 de março de 2004. O jornal assegurava que uma obra do mestre espanhol Pablo Picasso teria sido descoberta por acaso em uma repartição do INSS em Brasília.

Ilustrando a matéria de capa, uma foto com ângulo cuidadosamente selecionado para abranger o retrato oficial do presidente Lula no segundo plano. O ex-metalúrgico havia acabado de completar um ano e dois meses no cargo.

Sob a chamada “Decoração burocrata”, a matéria deixava clara a intenção de ressaltar o amadorismo, a ignorância, a falta de cultura do novo governo, suficientemente obtuso para deixar uma obra que valeria milhões de dólares largada em uma repartição pública qualquer.

“Uma mulher desenhada por Pablo Picasso passa os dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal”, dizia o texto, que ressaltava duas vezes o fato de que a obra “dividia a moldura com restos de inseto”.

O texto ressaltava a responsabilidade do governo atual pelo desleixo: “Pendurada desde o final do ano passado numa das salas da diretoria do instituto próxima de uma fotografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a mulher de Picasso ainda aguarda um destino melhor.”

A reportagem não disfarçava o elitismo típico manifestado pela imprensa em relação ao governo petista. Um Picasso largado em uma repartição, sem controle de temperatura e umidade, sem os cuidados de um especialista. Que tipo de apedeuta cometeria tal barbaridade?

A “denúncia” da Folha teve repercussão imediata. Foi tratada com destaque por Estadão, Correio Braziliense, Época, IstoÉ e sites como UOL e Terra. Causou também espanto na Espanha, onde um embasbacado El Mundo informava que havia um Picasso largado em um sótão do Brasil.

O tom das matérias variava da indignação à ironia cáustica. O cuidado em apontar o despreparo do governo Lula em lidar com a cultura e a arte era inversamente proporcional à diligência dedicada à descrição da obra, indistintamente tratada como pintura, gravura e desenho.

A mídia acertou ao dizer que a obra era valiosa. De fato é. Intitulado “Mulher em Branco”, o quadro foi pintado por Picasso em 1923 e é considerado uma das obras mais famosos da chamada “fase neoclássica”. O problema é que essa obra nunca esteve no Brasil.

A modelo do quadro é Sara Murphy, uma estadunidense expatriada em Paris que Picasso conheceu no Théâtre du Châtelet. A obra “Mulher em Branco” pertence ao acervo do Metropolitan Museum of Art de Nova York, onde se encontra localizada desde 1951.

O “Picasso do INSS” era apenas uma reprodução sem valor artístico – uma fotografia da obra original com tons esmaecidos, dessas que são vendidas em bancas de jornal e que costumam ser mais baratas do que a própria moldura.

Vários leitores alertaram a Folha sobre a “barrigada” – incluindo o cineasta Jorge Furtado, que passou 2 anos trocando correspondências com a redação e com o ombudsman. O jornal, entretanto, se negou a reconhecer o erro e seguiu tratando o “Picasso do INSS” como original.

Diante da insistência de que a obra era um desenho original, Jorge Furtado chegou a realizar uma colagem sobrepondo o “Picasso do INSS” com o Picasso do Metropolitan. A sobreposição perfeita não deixava dúvidas de que se trata de uma reprodução mecânica, como uma foto.

Em janeiro de 2006, ocorreu um incêndio no prédio do INSS em Brasília. Os bombeiros foram alertados que deveriam entrar no prédio em chamas e arriscar suas vidas para salvar a “valiosa” obra de arte.

O incêndio que colocou em risco o “Picasso do INSS” foi a justificativa perfeita para mais uma rodada de linchamento político e críticas exaltadas à negligência do governo Lula com o patrimônio cultural da nação. Mas, por sorte, a “obra” sobreviveu ao fogo.

A Folha seguiu sustentando que o “Picasso do INSS” seria uma obra autêntica por dez anos. Em 2014, entretanto, a narrativa foi magistralmente contestada pelo documentário “O Mercado de Notícias”, dedicado à análise crítica do papel do jornalismo. A farsa então ruiu.

Em 11 de agosto de 2014, mais de dez anos após a denúncia original, a Folha corrigiu sua desinformação e admitiu que o “Picasso o INSS” era apenas uma reprodução mecânica. Todos os 4 especialistas ouvidos pelo jornal e o curador do INSS descartaram a autenticidade da obra.

Dilma Rousseff: A Globo sempre está do lado errado da História

10 de novembro de 2020

Reportagem inventa, omite e silencia para negar ao telespectador a verdade sobre a crise atual do Brasil.

Dilma Rousseff em 9/11/2020

Em longa reportagem exibida ontem, o Fantástico, da Rede Globo, apontou o aumento da desigualdade no Brasil a partir de 2016, revertendo o processo ocorrido desde o início dos anos 2000. Embora tenha chamado atenção para um problema essencial da sociedade brasileira e reforçar causas estruturais, como o racismo, sonegou de seus telespectadores a verdade sobre a crise social pela qual o país está passando.

Atribuir, como nas primeiras frases da reportagem, a atual crise por que passa o Brasil a fatos ocorridos em 2015 e 2016 é uma manipulação da história. O Fantástico omite que fui impedida de governar em 2015, esconde que fui afastada de fato do governo em maio de 2016, e omite cinco anos dos governos Temer e Bolsonaro, em que o Executivo se dedicou, cotidianamente, a boicotar o crescimento do Brasil, a dilapidar o patrimônio da Nação e a eliminar direitos dos trabalhadores, do que são exemplo a emenda constitucional do teto de gastos, as reformas trabalhista e previdenciária. São cinco anos de escolhas políticas, todas apoiadas pela Rede Globo, cujo principal resultado foi a volta da fome e a ampliação da pobreza e da desigualdade no Brasil. Esconder dos telespectadores estes fatos é mais que desonesto, é a metódica e deliberada disposição da Rede Globo de interferir de forma perniciosa nos rumos políticos do País.

Os telespectadores mereciam saber, por exemplo, que a economia brasileira está hoje em 12ª posição no mundo, e caindo. Deveriam ser informados ainda que durante o meu governo estivemos sempre entre as oito maiores economias do mundo.

Toda a imprensa noticiou que a insegurança alimentar grave havia recuado de 8,2% da população em 2004 e para 5,8% em 2009, segundo pesquisa do IBGE. Em 2013, a proporção havia cedido para 3,6%. A melhora tirou o Brasil do Mapa Mundial da Fome em 2014, segundo relatório global divulgado à época pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O Fantástico falseou a verdade, ao esconder a informação relevante de que a queda do PIB em 2015 e, até maio de 2016, quando de fato fui afastada do governo, se deveu, em grande parte, à crise política gerada pelo boicote ao meu governo no Congresso e pelo processo de impeachment, que inibiu a atividade econômica e, assim, reduziu a arrecadação tributária. Tudo com o devido respaldo e apoio da Rede Globo.

Praticamente desde a minha posse, ao longo do primeiro semestre de 2015, o Congresso mobilizado pelo golpista Eduardo Cunha atuou ativamente para desestabilizar economicamente o governo, por meio das chamadas pautas-bombas, que forçavam a ampliação das despesas com as quais o Tesouro não conseguiria arcar.

Ao mesmo tempo, impedia a aprovação de projetos com os quais pretendíamos enfrentar as dificuldades fiscais, como a retirada da isenção das grandes empresas. Na época, a própria imprensa noticiou o processo permanente de sabotagem de Eduardo Cunha, na verdade uma verdadeira pré-estreia do que viria a ser Jair Bolsonaro em termos de pauta neoliberal na economia e conservadora nos costumes.

No 2º semestre de 2015, impulsionado pelos golpistas, ganhou força a tese do impeachment, cujo processo foi aceito pelo presidente da Câmara, em dezembro. Ficou claro que o país entrara naquele momento em estado de semiparalisia política e quase anomia econômica.

Em 12 de maio de 2016, fui afastada do cargo de presidenta da República, por força da abertura do processo de impeachment pelo Senado. Não voltei mais ao cargo para o qual havia sido eleita democraticamente. O boicote, iniciado em 2015, deu frutos em 31 de agosto de 2016.

Além de ter escolhido culpar pela crise atual alguém que está fora da Presidência há cinco anos, o Fantástico silenciou de maneira maliciosa sobre outros fatos relevantes mostrados em sua reportagem. Silenciou sobre a desastrosa política econômica de Paulo Guedes, a criminosa omissão do governo Bolsonaro diante do Covid-19, que transformou o Brasil no segundo país com maior número de mortes. Silenciou ainda sobre a inanição das políticas sociais e de saúde, silenciou sobre a política de abastecimento de alimentos do país, silenciou sobre o acesso à habitação. Enfim, calou-se sobre o aspecto multidimensional do combate à miséria a à pobreza.

E silenciou porque concorda e apoiou todos os fatos relevantes responsáveis pelo atual desastre econômico, notadamente a política de restrição fiscal.

Quando exibiu personagens que contaram que a vida deles havia sido boa no passado, não informou que este passado foi o governo Lula e o meu governo.

Quando falou que a desigualdade no Brasil caiu de forma intensa no início dos anos 2000 até 2015, omitiu que este foi exatamente o período dos governos Lula e Dilma.

Quando mostrou uma economista francesa ganhadora do Nobel afirmando que as cotas raciais nas universidades e o Bolsa Família foram decisivos para reduzir a desigualdade e a fome no Brasil, deixou de lembrar que estes dois programas foram implantados por Lula e por mim.

E quando fez menção ao fato de que, apesar da crise atual, todas as crianças frequentam a escola, mais uma vez deixou de gastar pelo menos alguns segundos dos mais de 14 minutos da reportagem para lembrar que esta condicionalidade sempre fez parte do Bolsa Família, o mais bem sucedido programa de transferência de renda do mundo, criado pelo PT.

O Brasil precisa enfrentar e superar sua estrutural desigualdade e exclusão e precisamos muito falar sobre estes desafios. Mas não será distorcendo fatos, montando uma avalanche de “fake news” e omitindo quem estava no governo quando que este processo mais avançou que a Globo contribuirá para isto. Não é escondendo as conquistas do período do PT nem a destruição promovida pelos governos golpistas e de extrema direita que a Globo ajudará este processo.

Como vem fazendo ao longo da história brasileira recente, o Grupo Globo é um dos grandes responsáveis pela desigualdade e pelo atraso no desenvolvimento do País, ao sempre defender ajustes recessivos sobre os ombros da população. Por isso, a Globo sempre esteve do lado errado da história.

Leia também: Responsabilidade da diretoria: CVM absolve Dilma de irregularidades em projetos da Petrobras

“Coincidência”: Ação no STF contra Flávio no caso da rachadinha fica com ministro indicado por Bolsonaro

10 de novembro de 2020

QUE “COINCIDÊNCIA”, NÉ?
Deputado Rogério Correia em 9/11/2020

Uma ação direta de inconstitucionalidade contra o foro privilegiado concedido pelo Tribunal de Justiça do Rio ao senador Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha foi redistribuída para relatoria do novo ministro Kassio Nunes Marques, indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (clique aqui).

Escolhido por Bolsonaro com o apoio de políticos do centrão, que tem diversos investigados na Lava-Jato, ele é apontado como de perfil garantista. Nos bastidores, sua indicação também é atribuída a uma escolha do próprio Flávio Bolsonaro.

Resta saber se o ministro Kassio Nunes honrará a independência do cargo ou se atuará como “advogado” da família Bolsonaro. Esta distribuição do STF soou estranho. Cair justamente no ministro indicado por Bolsonaro e com apoio do próprio Flávio pareceu “coincidência” demais.

Além de comprar imóveis, rachadinhas de Flávio Bolsonaro e Queiroz pagaram cabos eleitorais em 2018

10 de novembro de 2020
Larissa Dantas, Jack Souza, Gaby Damasceno e Edianne de Abreu, que formaram um quarteto de cabos eleitorais, junto com Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Imagem: Reprodução/Instagram.

Leonardo Sakamoto em 9/11/2020

O dinheiro público desviado pelo esquema encabeçado por Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e operado por seu ex-assessor Fabrício Queiroz não apenas se transformou em imóveis, mas também ajudou a elevar o então deputado estadual ao Senado Federal em 2018.

Pagamentos a cabos eleitorais constam na quebra de sigilo bancário de Queiroz determinada pela Justiça do Rio no processo que investiga as “rachadinhas”, de acordo com reportagem divulgada, na segunda [9/11], pelo núcleo de jornalismo investigativo do UOL.

Ele comprovou com entrevistas, textos e vídeos em redes sociais que essas pessoas trabalharam efetivamente na campanha de Flávio Bolsonaro. Foram 15 transferências da conta de Queiroz para elas, num total de R$12 mil, em setembro e outubro de 2018. Isso sem contar os saques em dinheiro vivo, que impossibilitam o rastreamento de seu uso.

A conta é a mesma em que, segundo a reportagem, ele recebia a devolução compulsória de parte dos salários dos funcionários públicos do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa. Ou seja, além da origem problemática do dinheiro, como os pagamentos não foram declarados à Justiça Eleitoral, também haveria caixa 2.

O Ministério Público, que pediu na denúncia que acusa o senador de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, que, ao final, ele perca o seu mandato, precisa investigar não apenas esse caixa 2, mas as ramificações dele com outras candidaturas.

A assessoria de Flávio Bolsonaro disse ao UOL que “todos os pagamentos da campanha de 2018 foram registrados junto à Justiça Eleitoral e estão dentro das regras” e que ele “desconhece qualquer tipo de pagamento que não tenha cumprido as determinações legais”.

Porém, o próprio Queiroz, em depoimento por escrito que entregou ao Ministério Público, em 28 de fevereiro de 2019, já tinha confessado que recolhia parte dos salários dos funcionários do chefe para remunerar, de maneira informal, “assessores” na base eleitoral de Flávio.

A isso, Queiroz deu o nome de “desconcentração de remuneração”. Disse que não acreditava ter cometido uma ilegalidade, pois o objetivo era “multiplicar e refinar os meios de escuta da população por um parlamentar”.

Ou seja, ele afirmou que fazia algo ilegal – desviar recurso público do salário dos funcionários do gabinete para benefício eleitoral de Flávio – a fim de afastar denúncias de algo mais grave ainda aos olhos do público: que estava operando como laranja para viabilizar o desvio de dinheiro público para aumentar o patrimônio pessoal de membros da família Bolsonaro.

O desenrolar das investigações mostrou que as duas finalidades existiram ao mesmo tempo.

“O peticionante [Queiroz] entendeu que a melhor maneira de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores de base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento financeiro dos valores que cada um destes recebia mensalmente”, afirmou sua defesa.

Na época, ficou a indagação de como isso aconteceria, o que a apuração do UOL mostra agora.

Como o senador tem base eleitoral também em área controlada por milícias, na zona oeste do Rio, seria importante o Ministério Público verificar se houve transferência de recursos para milicianos com essa finalidade. Policiais e militares criminosos que fazem parte desses grupos são conhecidos por táticas de “convencimento” de eleitores.

Vale lembrar que, na denúncia, o MP incluiu na organização criminosa chefiada por Flávio, o falecido miliciano Adriano da Nóbrega, então chefe do Escritório do Crime – grupo de matadores de aluguel.

No depoimento do ano passado, Queiroz livrou a cara do chefe, dizendo que a “arquitetura interna do mecanismo” era dele mesmo.

Por essa justificativa, Flávio Bolsonaro é apresentado como um fantoche nas mãos do ex-assessor. Só faltou dizer que são de Queiroz os imóveis comprados com esses recursos e que estão com a família Bolsonaro. Ou que o pagamento que o ex-assessor fez das mensalidades dos planos de saúde e da escola das filhas do senador, durante anos, foi um mimo a ele.

A história revelada pelo UOL, nesta segunda, reforça que a “rachadinha” não ajudava apenas a enriquecer Flávio Bolsonaro, mas também contribuiu para sua eleição em 2018. Ou seja, ele pode ter conquistado o direito de representar os interesses do Estado do Rio de Janeiro com a ajuda de uma ilegalidade, por sua vez, financiada com recursos ilegais. Uma cascata de ilegalidades.

Por fim, os desvios envolvendo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz são de valores menores que os de outros escândalos da República – o que vem sendo dado como motivo, inclusive, para seus apoiadores passarem pano na história. Isso não reduz a gravidade desses atos, apenas reforça a posição lateral em que a família Bolsonaro esteve na política nacional até a eleição de Jair.

O caso não seria como o de “ladrões de galinha”, que cometem um crime para aplacar a fome, mas de um esquema que assaltou salários de funcionários talvez porque não tinha a oportunidade de acesso a algo maior.

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