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Marina quer ser o FHC esverdeado

17 de outubro de 2013

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Fernando Brito, via Tijolaço

Graças ao Valor Econômico, ficamos sabendo que Marina Silva, a campeã da transparência, teve um encontro privado – secreto seria melhor, porque nem sequer foi informado que haveria a reunião, da qual só se soube por uma nota na coluna de Sonia Racy, no Estadão – com a “turma da bufunfa” reunida pelo Banco Credit Suisse.

Conversar, com quem quer que seja, não é um problema – antes, é um dever – de qualquer candidato, como está evidente que Marina é, mas chama atenção o que foi dito.

Transcrevo:

“A ex-senadora defendeu a volta do tripé macroeconômico baseado na adoção de metas de inflação, câmbio flutuante e política fiscal geradora de superávits primários. Conforme relato de investidores que estiveram no encontro, ela disse que o tripé ‘ficou comprometido e é preciso restaurá-lo’.”

Bem, como se sabe que esse colar cervical implantado sobre a economia brasileira – para que ela não deixe de estar voltada para os interesses do “mercado” – jamais foi retirado, mesmo pelos governos Lula e Dilma, mas simplesmente afrouxado, o que Marina propõe pode ser resumido em uma palavra: arrochá-lo.

E como é “arrochar” esta coleira?

Primeiro, cortar gastos e investimentos. Nada de inventar ampliação de programas sociais, expandir investimentos e nada que tire nossos olhos de gerar superávits primários “expressivos, sem manobras contábeis”.

Manobras contábeis de que tipo? A de tirar os investimentos do PAC das contas do superávit que o “mercado” nos exige?

O que propõe a líder da nova política, quase sem rebuços, a líder da nova política é voltarmos aos tempos de Fernando Henrique. Com muito boa vontade, talvez, aos primeiros anos do Governo Lula, quando este ainda teve de manter o tal colarzinho neoliberal apertado, até que a água tivesse baixado do pescoço e permitisse a ele se mover.

Dia ainda o jornal:

“Na avaliação dela, o combate à inflação foi relegado (sic) pelo governo. Para recuperar a credibilidade, afirmou, é preciso dar ao mercado sinais claros, ‘quase teatrais’, de que a inflação será levada ao centro da meta.”

Como seria este relegar (supõe-se que a uma posição secundária) o combate à inflação? Aumentar mais as taxas de juros? Impedir aumentos salariais, especialmente na administração pública? Cortar financiamentos e subsídios públicos? Travar os programas de transferências de renda?

Seriam perguntas interessantes a fazer para a candidata que “arrendou” o PSB para seus apetites eleitorais, se a imprensa brasileira, em relação a Marina Silva buscasse alguma objetividade, fora das expressões pernósticas e vazias.

Quanto aos “gestos teatrais” de que a inflação será levada ao centro da meta, de tão ridículo, é algo que me poupo de comentar. A ideia de aterrorizar o país em relação a aumentos de salários, de preços e de falta de recursos para ações sociais é tão velha e inútil quanto os “fiscais do Sarney”.

Nenhuma palavra sobre os desafios sociais que o Brasil precisa enfrentar, apenas sobre o regresso a práticas que só aumentaram este passivo do país para com o povo brasileiro.

Marina vai completando sua antimetamorfose e se oferece como a possibilidade de dar uma cara nova ao que, nos últimos anos, tem sido a forma de dominação deste país: ser governado para a moeda, não para o povo.

Não é à toa que os endinheirados da plateia tenham adorado:

“Com um discurso marcado por questões caras ao mercado financeiro, a ex-senadora foi descrita como “impressionante” e “cativante” por fontes que assistiram à palestra”.

Marina absorveu a ideologia das elites. Já pode ser seu instrumento.

PS 1: Alguém aí sabe o que pensa Eduardo Campos? Ou será que o contrato de arrendamento do PSB impõe silêncio?

O que está em jogo depois da cúpula do G20 em São Petesburgo

12 de setembro de 2013
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Lideres de nações compareceram na reunião do G20, me São Petesburgo.

Martín Granovsky, via Página 12 e lido na Carta Maior

Em 1712, Pedro, o Grande, o primeiro dos Romanov, estabeleceu sua capital em São Petersburgo. Queria abrir uma porta à Europa. Em 1917, caiu o último dos czares, Nicolás II Romanov e, em 1918, a capital passou a ser Moscou. Vladimir Putin, que governa em terra moscovita, acaba de ser o anfitrião do Grupo dos 20 em São Petersburgo. Desta vez a cidade foi uma porta por onde entraram os problemas irresolutos do mundo, entre eles a crise financeira e a catástrofe síria.

O documento final que fala de “guaridas fiscais” em referência aos paraísos, e que alegrou a presidenta argentina, Cristina Kirchner, tem uma raiz nos problemas dos países mais desenvolvidos.

“Nos últimos 12 meses saíram da Itália para Luxemburgo €140 bilhões para atesourar dinheiro fora da Itália em proteção para um eventual debacle”, explica o economista Arnaldo Bocco, ex-diretor do Banco Central sob Néstor e Cristina Kirchner. “Os grandes contribuintes deixam de sê-lo nos países onde antes residiam, o que gera grandes problemas na arrecadação tributária dos países desenvolvidos como a Alemanha e os Estados Unidos”, afirma Bocco.

Por que dentro do G-20 os países desenvolvidos começaram dando um alto perfil ao debate sobre os paraísos fiscais em 2009, logo baixaram o perfil do assunto e voltaram a elevá-lo nos últimos meses?

“Os paraísos fiscais são o pátio traseiro do sistema financeiro”, diz o deputado nacional pela ‘Frente para la Victoria’ Eric Calcagno, que oferece um dado para entender a magnitude do fenômeno que os especialistas chamam “financeirização”: “Há 30 anos, para cada ponto de produção havia um ponto de estoque financeiro. Hoje, para cada ponto há 3,6 de estoque”. Os paraísos fiscais ficam articulados com a prática dos fundos-abutre que, segundo Bocco são estúdios de advogados especialistas em comprar títulos de dívida a baixo preço em meio às crises para especular com uma alça futura.

“Os fundos-abutre representam um poder financeiro marginal ao sistema capitalista”, diz Calcagno. Mas não tão marginal: “Fazem uma parte do trabalho mais sujo e ao mesmo tempo conspiram contra a estabilidade de todo o sistema”.

Para Bocco, paraísos e fundos-abutre se relacionam com a lavagem de dinheiro “porque no paraíso fiscal se faz residente a maioria dos grandes evasores e o grande dinheiro da corrupção”.

O economista sustenta que, dentro do G-20, a resistência ao desmonte dos paraísos fiscais está encabeçada pela Grã Bretanha, que “exerce uma proteção sobre os lugares de livre trânsito e sem regulações transparentes”. Mas aos países desenvolvidos cada vez lhes custa mais equilibrar as contas fiscais, e isso explicaria que, ciclicamente, a tensão com a existência dos paraísos aumente.

Em parte a queda de arrecadação acontece pela utilização de fideicomissos de existência discreta alojados em um paraíso. “Com frequência um fideicomisso alojado em um paraíso administra os bens de uma família de fortuna que vive de seus benefícios e não tributa todo o possível no país onde reside”, ilustra Bocco.

O ex-diretor do BCRA recomenda continuar com atenção um dado que atua nesse contexto mundial: quem pilotará a Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos. Uma candidatura é a da atual vice-presidenta, Janet Yellen. Outra é a de Larry Summers, que foi o poderoso conselheiro de Bill Clinton para as questões financeiras.

A desigualdade

Em um artigo publicado sexta-feira no The New York Times, o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz escreveu que trabalhou com ambos e, antes que Summers, prefere Yellen.

“Como autoridade do Departamento do Tesouro durante a administração Clinton, o senhor Summers apoiou a desregulamentação dos bancos, incluindo a recusa à lei Glass-Steagall, o que foi chave na crise financeira dos Estados Unidos”, diz o texto de Stiglitz. Ao abundar sobre Summers escreveu o Nobel que, quando Summers foi secretário do Tesouro, entre 1999 e 2001, sua grande “façanha”, entre aspas, foi garantir que os derivativos, ou seja, os produtos não controlados do sistema financeiro, “não fossem regulados, uma decisão que ajudou na explosão dos mercados financeiros”.

Segundo Stiglitz, a desregulamentação é uma das causas da desigualdade por quatro motivos:

● Dependendo de como sejam manejadas, as crises são criadoras de desigualdade e pobreza. Na última crise, os ingressos médios caíram 40%, muitíssimos trabalhadores perderam seu emprego e a sociedade sofeu o corte de serviços públicos. Ao contrário, o um por cento mais rico “disfruta os resultados da recuperação”.

● A desregulamentação contribuiu para a financeirização da economia.

● A desigualdade se vê reforçada “pelas práticas abusivas do setor financeiro, que prospera a custa dos norte-americanos comuns, através de empréstimos predatórios, manipulação de mercados, abuso com os cartões de crédito e aproveitamento do monopólio do sistema de pagamentos”. Frente a isso o Fed não usou seu enorme poder, que sim utilizou “para fortalecer os balanços bancários a expensas dos cidadãos comuns”.

● Além do que fez mal feito, o setor financeiro continua sem fazer coisas como facilitar créditos para as pequenas e médias empresas.

Outro Nobel de Economia, Paul Krugman, escreveu no sábado que, a ponto de completar cinco anos da crise do Lehman Brothers, símbolo da atual grande queda, a administração Obama protagonizou “um grande fracasso”. Krugman o atribui à ênfase na austeridade e não na criação de emprego e na preservação dos lares frente ao leilão massivo.

O dilema sírio

Neste tabuleiro foi que secionou a última cúpula do G-20 na qual a Argentina e o Brasil elevaram seu protesto contra os paraísos fiscais e a desregulamentação financeira que ainda governa o mundo. No caso argentino não houve uma cúpula bilateral entre Cristina Fernández de Kirchner e Barack Obama. A Presidenta, por outra parte, escolheu personalizar críticas no colega norte-americano. No caso brasileiro, a revelação de que a Agência Nacional de Segurança espionou, em 2012, a própria Dilma Rousseff e seus conselheiros gerou sim uma entrevista reservada. Dilma anunciou publicamente na sexta-feira que Obama havia prometido uma explicação. Também condicionou sua programada visita de Estado a Washington à resposta, que deveria chegar daqui até sexta-feira.

É o mesmo período em que o presidente dos Estados Unidos anunciará sua decisão final sobre a Síria, onde já há 90 mil mortos e dois milhões de desalojados dentro e fora do território.

“Todo o mundo está à espera do anúncio de Obama e hoje (domingo) há uma probabilidade de 85 ou 90% no sentido de um ataque sobre a Síria nos próximos dois ou três meses”, opina Khatchik Derghougassian, especialista da Universidade de San Andrés.

Uma dúvida é se Obama insistirá ou não em sua nova estratégia de convencer ao Congresso antes de lançar um ataque, ao parecer uma medida necessária frente ao repúdio de 6 de cada 10 norte-americanas, cifra muito alta em um país que já não tem conscrição.

Quer conseguir uma mínima ‘legitimidade’”, diz Derghougassian. “Tomar essa decisão será difícil para ele. Não tomá-la também, porque já deu sua palavra.”

Samantha Power, a flamante embaixadora nas Nações Unidas reforçou, nos últimos dias, sua argumentação frente os setores progressistas.

Na sexta-feira disse, no Center for American Progress, que diante da denunciada utilização de ataques com gás venenoso e a paralisia do Conselho de Segurança pela divergência entre Washington e Moscou, “não há um Plano B sem riscos”. Seu Plano A, como aconteceu frente à crise líbia, é a intervenção militar. “O governo deve tomar a responsabilidade pelos riscos e as consequências potenciais de sua ação”, dito o qual preferiu deixar sem detalhe algum a exposição desses efeitos eventuais enquanto se concentrava em publicitar a necessidade de uma intervenção militar imediata.

A Argentina havia votado contra as violações aos direitos humanos na Síria no marco das Nações Unidas, mas se opõe à uma ação militar como quase toda a América Latina.

“Somente o México, a Colômbia e o Chile guardaram distância e silêncio”, diz o analista venezuelano Modesto Emilio Gorrero. O resto condenou uma invasão ou uma intervenção militar. “Nunca tem razão para invadir, mas no caso da Síria sequer consegue sustentar o que diz. O governo russo informa que o gás usado que se encontrou tem cheiro. Se tem cheiro não é militar. Se não, é do governo sírio. E agora? A Liga Árabe não apoia a intervenção militar. A oposição ao governo sírio está fragmentada e os dilemas são muitos. Os Estados Unidos querem construir um regime com Al Qaeda dentro?”

Derghougassian realça que “já houve uma tentativa para uma conferência internacional, mas as partes não estão de acordo, o que é um problema porque não há uma oposição unida, mas vários grupos e os mais extremistas não querem saber nada de chegar a um acordo”.

Agrega o especialista: “A oposição política do Exército Libre Sírio, ao contrário, quer modificar o regime baasista. Enquanto isso, a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar apoiam os islamistas. Cada país tem seu próprio jogo. Arábia joga para fissurar a aliança entre Síria e Irã. Turquia encontrou nas revoltas árabes a oportunidade de apresentar-se como uma potência regional”.

O quadro é complexo e há grandes atores internacionais tratando de influir. Tal como se informa à parte, o papa Francisco foi, no último sábado, o principal. Entretanto, no Senado norte-americano avança uma proposta dos legisladores Joe Manchi e Heidi Heitkamp segundo a qual se poderia pedir ao presidente Bashar al-Assad que a Síria assine a Convenção sobre Armas Químicas e adote passos concretos para cumpri-la em 45 dias. Passado esse tempo, os Estados Unidos ficariam com as mãos livres.

Tradução: Liborio Júnior

Mauro Santayana: Uma rede para os Brics

9 de setembro de 2013
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A presidenta Dilma Rousseff posa para foto oficial com os chefes de estado do Brics.

Mauro Santayana, via Jornal do Brasil

Entre as diferentes hipóteses de resposta à espionagem da presidente da República e de seus ministros e assessores, aventa-se a possibilidade – segundo afirmam os meios de comunicação, teria sido suspenso o envio da delegação precursora – do cancelamento da viagem de Dilma Rousseff aos EUA, no mês que vem.

Pensando fria e estrategicamente, esta pode não ser a opção mais adequada para enfrentar o problema. Ao deixar de comparecer a uma visita de Estado, mesmo que em previsível gesto de protesto, o Brasil estaria abdicando de mostrar ao mundo que procura ter com os Estados Unidos uma relação à altura.

Estaríamos, guardadas as devidas proporções e circunstâncias, agindo como o governo golpista de Federico Franco, que, ao tentar – de maneira inócua – reagir contra a suspensão do Paraguai do Mercosul por quebra de suas salvaguardas democráticas, resolveu votar contra a vitoriosa eleição de representantes brasileiros na OMC e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Muito mais efetivo seria se, no âmbito dos Brics, Dilma obtivesse de nossos parceiros russos, chineses, indianos e sul-africanos, o compromisso de se trabalhar, coordenada e aceleradamente, no desenvolvimento de uma Bricsnet.

O grande alvo da espionagem norte-americana – e isso está claro no caso brasileiro – são os Brics

Uma rede de internet para o grupo, alternativa e paralela à que foi criada pelos Estados Unidos e que permanece sob estrito controle dos norte-americanos. Um sistema que contasse com avançados programas criptográficos que embaralhassem a informação entre origem e destino, impedindo que ela fosse decifrada pelas agências de inteligência dos EUA.

Segundo o analista geopolítico Eric Drauster, entrevistado pela edição espanhola do Russia Today esta semana, o grande alvo da espionagem norte-americana – e isso está claro no caso brasileiro – são os Brics, como a única aliança capaz de rivalizar com o bloco EUA-União Europeia nos planos político, estratégico e econômico nos próximos anos, e essa mesma premissa vale para o campo das redes globais de comunicação instantânea.

A China possui, hoje, tecnologia de ponta na área de telecomunicações, a ponto de a Huawei ter sido impedida de trabalhar nos EUA, pelo Congresso dos Estados Unidos, sob a suspeita – olhem só quem está falando – de que seus equipamentos fossem usados para espionar os norte-americanos.

A Índia, com centenas de milhares de programadores formados, todos os anos, nas mais avançadas linguagens da engenharia da computação, dispõe de um verdadeiro exército para o desenvolvimento de softwares e chaves criptográficas virtualmente imunes à bisbilhotice da CIA ou da NSA.

Juntos, Rússia, China, Índia, Brasil e África do Sul poderiam, se quisessem, em menos de um ano, espalhar uma rede de cabos submarinos da Bricsnet unindo seus respectivos continentes sem que esses equipamentos passassem, como acontece hoje, pelo território dos EUA.

Uma rede de satélites de comunicação da Bricsnet também poderia ser desenvolvida e lançada em curto espaço de tempo – quem sabe, como o primeiro projeto a ser financiado pelo banco de infraestrutura dos Brics – nos moldes de outros programas já existentes, como o Cbers, o Programa de Satélites China-Brasil de Recursos Terrestres.

Uma aliança na Bricsnet entre desenvolvedores indianos e a manufatura chinesa, com a colaboração de russos, brasileiros e sul-africanos, seria praticamente imbatível no desenvolvimento e venda, para os países emergentes – só o Grupo Brics representa mais de 40% da população do mundo – de novos serviços de e-mail, redes sociais, navegadores, sistemas de exibição e distribuição de vídeos e música, sistemas operacionais para tablets e telefones inteligentes, tudo desenvolvido à margem das empresas ocidentais que hoje colaboram, prestimosamente, com os serviços de espionagem dos Estados Unidos.

A presidente Dilma poderia, sim, fazer sua visita de Estado aos Estados Unidos. É importante que ela escute as explicações – se houver e forem dadas– do presidente Barack Obama, que pode ter lá seus problemas com a área de inteligência, como temos aqui, de vez em quando, com a nossa.

Mas é muito mais importante, ainda, que ela discurse no jardim da Casa Branca, dizendo na cara dos norte-americanos, e diretamente ao próprio presidente Barack Obama, que a nenhum país foi dado o direito de tutelar os outros em assuntos de segurança. Que o Brasil, assim como outros grandes países, não delegou a ninguém a licença de defendê-lo no mundo. Que somos uma nação soberana que não aceita ser monitorada, sob nenhum pretexto, por quem que seja.

E que a comunicação entre países e entre pessoas não pode – em defesa justamente da liberdade e da democracia – ficar, sob nenhuma hipótese, a cargo de um único estado, por mais que esse estado acredite em mandato divino ou destino manifesto.

Com pactos por reformas, Dilma cala mídia golpista, oposição e setores fascistas da sociedade

24 de junho de 2013
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Dilma pediu que o Congresso aprove rapidamente a destinação de mais recursos à educação. Foto de Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr.

A presidenta propôs convocação de plebiscito para estabelecer constituinte para reforma política e foram fechados cinco pactos com governos estaduais e municipais.

Via Rede Brasil Atual

A presidenta Dilma Rousseff propôs na segunda-feira, dia 26, a 27 governadores e 26 prefeitos de capitais uma agenda com cinco pactos de mudanças sociais e a realização de um plebiscito sobre a proposta de estabelecer um processo constituinte para promover uma reforma política. Segundo a presidenta, é preciso aproveitar o momento de ampla participação popular nas manifestações e garantir que este processo que já entrou e saiu da pauta política seja levado adiante. “Estamos ouvindo a voz das ruas, pois só elas nos levam a mudanças em menos tempo. Se aproveitar o impulso, podemos fazer muita coisa mais rápido, pelo povo e pelo Brasil”, concluiu.

Será criado um grupo de trabalho específico para debater a constituinte, que depende de autorização do Legislativo. A princípio, um dos feriados do segundo semestre, o Dia da Independência (7 de setembro) e a Proclamação da República (15 de novembro), poderia ser utilizado para a votação.

Além disso, Dilma quer que a corrupção seja tratada como crime hediondo, propondo que seja desenvolvida uma nova legislação sobre o tema. A reunião com governadores e prefeitos em Brasília foi uma das promessas feitas na sexta-feira, dia 21, durante pronunciamento em cadeia de rádio e televisão. Naquela ocasião, Dilma prometeu também se reunir com representantes dos grupos sociais que têm promovido manifestações nas últimas semanas. Hoje a presidenta teve encontro no Palácio do Planalto com integrantes do Movimento Passe Livre. Na quarta-feira, dia 26, ela recebe representantes das cinco centrais sindicais reconhecidas legalmente.

Na abertura da reunião, convocada para discutir com governadores e prefeitos de 26 capitais sobre as manifestações que vêm ocorrendo em várias cidades brasileiras, a presidenta propôs cinco pactos entre os governantes, nas áreas de responsabilidade fiscal, combate à corrupção, saúde, educação e transporte. Dilma propôs que se amplie a participação da população nas decisões sobre os rumos do País, pois as pessoas querem mais cidadania, políticas públicas de qualidade, eficiência no combate à corrupção, “onde os governos coloquem o cidadão e não o poder econômico em primeiro lugar”.

Dilma pediu esforços e apoio para garantir a aprovação do Projeto de Lei 5.500, de 2013, que propõe destinar 100% dos royalties do petróleo para educação e de 50% dos recursos arrecadados diretamente com o petróleo em estados e municípios para o mesmo fim. O plenário da Câmara pode aprovar amanhã [25/6] a matéria. “Somente o esforço em desenvolver a educação transforma um país em nação desenvolvida”, destacou. No caso da responsabilidade fiscal, primeira questão levantada, a presidenta cobrou dos governadores e prefeitos que atuem para garantir estabilidade econômica e controle da inflação, pois a crise econômica, iniciada em 2008, “ainda castiga as nações”.

Em mobilidade, Dilma afirmou que é objetivo do governo mudar a matriz dos transportes, privilegiando investimentos em metrô, veículos leves sobre trilhos (VLT) e corredores de ônibus. A presidenta destacou as desonerações tributárias sobre as empresas de transporte coletivo realizadas pelo governo federal e convidou os estados a participarem do processo, também concedendo desonerações. Dilma afirmou que vai instituir o Conselho Nacional de Transportes, com participação da sociedade civil, e ampliar o debate sobre a forma de financiamento do transporte público. Ela pediu que estes colegiados sejam instituídos em todas as cidades e estados.

Dilma reafirmou que o País vai trazer médicos estrangeiros para atuar em regiões carentes de profissionais, e se dirigiu diretamente à categoria, ao afirmar que não pretende uma política hostil ou desrespeitosa, mas que “essas regiões não podem continuar sem atendimento”. A presidenta garantiu que os brasileiros serão priorizados em todos os preenchimentos de vagas e afirmou que o governo vai ampliar em 11.447 as vagas de graduação nas universidades, e criará 12.376 novos postos de residência. Além disso, pediu que os governantes acelerem os investimentos já contratados na área da saúde.

Todos os pontos pactuados pelo governo federal, governadores e prefeitos vão depender de aprovação do Congresso Nacional.

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A presidenta Dilma Rousseff durante encontro com representantes do Movimento Passe Livre, no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR.

Governo se reúne com Movimento Passe Livre

Via Blog do Planalto

A presidenta Dilma Rousseff se reuniu, na segunda-feira, dia 24, no Palácio do Planalto, com representantes do Movimento Passe Livre (MPL), de São Paulo. No encontro, o governo ouviu as reivindicações do grupo e, segundo o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, apresentou os investimentos de R$88,9 bilhões já disponibilizados para a área de mobilidade urbana. A presidenta Dilma Rousseff, depois do encontro, ainda anunciou que investirá mais R$50 bilhões para projetos de mobilidade urbana que privilegiem o transporte coletivo.

Segundo a estudante Mayara Vivian, presente na reunião, o encontro é importante porque significa uma abertura do diálogo e ressaltou que essa é a primeira vez que um movimento por transporte é recebido por um presidente da República. Mayara destacou que a presidenta Dilma também considera o transporte como direito social e que o movimento espera, das três esferas de governo, que haja medidas concretas no sentido de melhorar o sistema de transporte.

Jornais estampam o medo da volta de Lula

18 de janeiro de 2013

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Folha e O Globo tratam o ex-presidente Lula como se ele fosse, de fato, o prefeito de São Paulo em abordagens que reduzem a autoridade de Fernando Haddad. O jornal paulista destaca “diretrizes” passadas por Lula; e publicação do Rio afirma que Lula colocou em prática a “teoria do poste”. No entanto, Lula mostrou que está vivo e assustou.

Via Brasil 247

Quem é o prefeito de São Paulo? Pela leitura dos grandes jornais brasileiros, seu nome não é Fernando Haddad, que foi eleito com 3.387.720 votos, mas sim Luiz Inácio Lula da Silva. A abordagem da mídia tradicional na quinta-feira, dia 17, sobre o encontro entre Lula, Haddad e seus secretários reduz a autoridade do prefeito e a transfere ao ex-presidente, que seria, segundo essa visão, o comandante, de fato, da maior cidade do Brasil.

Na manchete da Folha, informa-se que “Lula se reúne com equipe de Haddad e dá diretrizes”. Em O Globo, na primeira página, uma ironia na legenda da foto, como se Lula estivesse colocando em prática a “teoria do poste”, seguida da informação “Haddad atento às dicas do seu mentor”.

Antes mesmo de ser eleito, Haddad já havia deixado claro que teria Lula como um de seus principais conselheiros. “Ele é a maior liderança política do Brasil e seu governo foi um laboratório de políticas públicas bem-sucedidas”, disse Haddad, ao 247, durante a campanha. “Não há por que desprezar essa experiência”. Ontem mesmo, quando indagado sobre o encontro, Haddad disse que convidou o ex-presidente a falar a seus secretários e que ele se colocou à disposição. Na reunião, Lula recomendou que Haddad e seus assessores fiquem atentos a políticas públicas de inclusão social colocadas em prática no Rio de Janeiro, que ajudaram a diminuir a violência.

O encontro deveria ser encarado com naturalidade, mas Haddad já foi carimbado como poste com apenas uma quinzena de gestão. Talvez porque os grandes jornais tenham descoberto agora que, a despeito de tudo, Lula continua vivo e é um dos principais atores – se não, o principal – da política brasileira.

Fala FHC: Como seria o Brasil em mãos tucanas?

30 de agosto de 2012

FHC: Dependência ao Norte!

Saul Leblon, via Carta Maior

Um grande banco de São Paulo reuniu na terça-feira, dia 28, três vigas chamuscadas do incêndio neoliberal que ainda arde no planeta: Clinton, Blair e FHC. Que um banco tenha promovido um megaevento com esses personagens a essa altura do rescaldo diz o bastante sobre a natureza do setor e da ingenuidade dos que acreditam em cooptar o seu “empenho” na travessia para um novo modelo de desenvolvimento. Passemos.

As verdades às vezes escapam das bocas mais inesperadas. Clinton e Blair jogaram a toalha no sarau anacrônico do dinheiro com seus porta-vozes. Coube ao ex-presidente norte-americano sintetizar um reconhecimento explícito: “Olhando de fora, o Brasil está muito bem. Se tivesse de apostar num país, seria o Brasil.”

Isso, repita-se, vindo de um ex-presidente gringo que consolidou a marcha da insensatez financeira em 1999, com a revogação da lei de Glass-Steagall.

Promulgada em junho de 1933, três meses depois da Lei de Emergência Bancária, que marcou a posse de Roosevelt, destinava-se a enquadrar o dinheiro sem lei, cujas estripulias conduziram o mundo à Depressão de 29.

A legislação revogada por Clinton submetia os bancos ao rígido poder regulador do Estado. Legitimado pela crise, Roosevelt rebaixou os banqueiros à condição de concessionários de um serviço sagrado de interesse público: o fornecimento de crédito e o financiamento da produção. Enquanto vigorou, a Glass-Steagall reprimiu o advento do supermercado financeiro, o labirinto de vasos comunicantes dos gigantes financeiros em que bancos comerciais agem como caixa preta de investimento especulativo, com o dinheiro de correntistas.

O democrata que jogou a pá de cal nas salvaguardas do New Deal elogiou o Brasil, quase pedindo desculpas por pisotear o ego ao lado do grande amigo de consensos em Washington e de corridas de emergência ao guichê FMI.

Mas FHC é um intelectual afiado nas adversidades.

A popularidade contagiante do tucano, reflexo, como se sabe, de seu governo, poupa-o da presença física nos palanques do PSDB, preferindo seus pares deixá-lo no anonimato ocioso para a necessária à defesa do legado estratégico da sigla.

É o que tem feito, nem sempre dissimulando certo ressentimento, como na terça-feira, dia 28, mais uma vez.

Falando com desenvoltura sobre um tema, como se sabe, de seu pleno domínio sociológico, ele emparedou Clinton, Hair e tantos quantos atestem a superioridade macroeconômica atual em relação à arquitetura dos anos 90.

Num tartamudear de íngreme compreensão aos não iniciados, o especialista em dependência – acadêmica e programática – criticou a atual liderança dos bancos públicos na expansão do crédito, recado oportuno, diga-se, em se tratando de palestra paga pelo Banco Itaú; levantou a suspeição sobre as mudanças que vem sendo feitas – “sem muito barulho” – na política econômica (“meu medo é que essa falta de preocupação com o rigor fiscal termine por criar problemas para a economia”) e fez ressalvas ao DNA das licitações – que não reconhece, ao contrário de parte da esquerda, como filhas egressas da boa cepa modelada em seu governo.

Ao finalizar, num gesto de deferência ao patrocinador, depois de conceder que a queda dos juros é desejável fuzilou: “houve muita pressão para isso”.

O cuidado tucano com os interesses financeiros nos governos petistas não é novo.

Há exatamente um ano, em 31 de agosto de 2011, quando o governo Dilma, ancorado na correta percepção do quadro mundial, cortou a taxa de juro pela primeira vez em seu mandato, então em obscenos 12,5%, o dispositivo midiático-tucano reagiu indignado. A pedra angular da civilização fora removida por mãos imprevidentes e arestosas aos mercados.

O contrafogo midiático rentista perdurou por semanas.

Em 28 de setembro, Fernando Henrique Cardoso deu ordem unida à tropa e sentenciou em declaração ao jornal Valor Econômico: a decisão do BC fora “precipitada”.

Era a senha.

Expoentes menores, mas igualmente aplicados na defesa dos mercados autorreguláveis, credo que inspirou Clinton a deixar as coisas por conta das tesourarias espertas, replicaram a percepção tucana do mundo: “Não há indícios de que a crise econômica global de 2011 seja tão grave quanto a de 2008”, sentenciou, por exemplo o economista de banco Alexandre Schwartzman, indo para o sacrifício em nome da causa.

Na quarta-feira, o BC brasileiro completa um ano de cortes sucessivos na Selic com um esperado novo recuo de meio ponto na taxa, trazendo-a para 7,5% (cerca de 2,5% reais).

Ainda é um patamar elevado num cenário de crise sistêmica, quando EUA e países do euro praticam juros negativos e mesmo assim a economia rasteja.

Uma pergunta nunca suficientemente explorada pela mídia, que professa a mesma fé nas virtudes do laissez-faire, quase grita na mesa: “Onde estaria o Brasil hoje se a condução do país na crise tivesse sido obra dos sábios tucanos?”

As ressalvas feitas por FHC no evento de banqueiros de terça-feira, dia 28, deixam a inquietante pista de que seríamos agora um grande Portugal, ou uma gigantesca Espanha – um superlativo depósito de desemprego, ruína fiscal e sepultura de direitos sociais, com bancos e acionistas solidamente abrigados na sala VIP do Estado mínimo para os pobres.

Em tempos de eleições, quando candidatos de bico longo prometem fazer tudo o que nunca fizeram, a fala de FHC enseja oportuna reflexão.

Leia também:

Trio neoliberal: FHC, Clinton, Blair e seus trololós