Paulo Nogueira: O mundo de Jabor

Ele se dá ares martirizados de dissidente soviético quando tem vida mansa de aposentado escandinavo.

Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo

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O mundo de Jabor, a julgar pelos seus textos, é sombrio. Nele, o Brasil “está evoluindo em marcha à ré”, para usar uma expressão de uma coluna.

“Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia prevaleça”, já escreveu ele.

Bem, vamos aos fatos. Primeiro, e acima de tudo, se não vivêssemos numa democracia plena os artigos de Jabor não seriam publicados e ele não teria vida tão tranquila para fazer palestras tão bem remuneradas em que expõe às pessoas seu universo gótico, em que brasileiros incríveis como ele devem se preparar para a guerra caso queiram a paz. Esta é outra expressão de um texto dele.

Comprar armas? Estocar comida? Construir um abrigo antibombas? Fazer um curso de guerrilha? Pedir subsídios para a CIA? Talvez um dia Jabor explique o que é se preparar para a guerra.

Já escrevi muitas vezes que o Brasil sob Lula perdeu uma oportunidade de crescer a taxas chinesas. Já escrevi também que os avanços sociais nestes dez anos de PT, embora relevantes e inegáveis, poderiam e deveriam ter sido maiores. Mas somos hoje um país respeitado globalmente. Passamos muito bem pela crise financeira global que transtornou tantos países e deixou bancos enormes de joelhos.

Temos problemas para resolver? Claro. Corrupção é um deles? Sem dúvida. Mas entendamos: a rigor, onde existe política, a possibilidade de corrupção é enorme. No Brasil. Na China. Na França. Nos Estados Unidos. Na Inglaterra. Na Itália. Em todo lugar. Citei estes países apenas porque, recentemente, grandes escândalos sacudiram seu mundo político. Na admirada França, o ex-presidente Sarkozy é suspeito de ter recebido dinheiro irregularmente da dona da L’Oreal.

O problema na corrupção política é a falta de punição. Não me parece que seja o caso do Brasil. Antes, sim. No ditadura militar, a corrupção era muito menos falada, vigiada e punida.

O maior cuidado hoje é saber se não se está explorando o “mar de lama” da corrupção com finalidades cínicas e inconfessáveis, como aconteceu em 1954 e em 1964. O moralismo exacerbado costuma esconder vícios secretos.

A choradeira melodramática de Jabor não ajuda a causa que ele defende. Jabor representa a direita política. Para persuadir as pessoas de que suas ideias são corretas, são necessários argumentos melhores do que os que ele apresenta.

O primeiro ponto é que muito pouca gente acredita que o Brasil descrito por Jabor é o Brasil de verdade. Basta tirar os olhos de sua coluna e colocá-los na rua. A realidade é diferente. Há sol onde na prosa jaboriana parece só existir treva. Jabor se dá ares de dissidente cubano quando tem padrão de vida – e de liberdade – escandinavo.

Jabor parece estar preparado não para a guerra, mas para permanecer no papel enfadonho e ranzinza de mártir, de vítima impotente de um país que, se fosse tão ruim assim, ele já teria trocado por outro, como fez Paulo Francis. Esse papel pode ser bom para palestras. Segundo um site que agencia palestras, “o palestrante Arnaldo Jabor mostra-se extremamente habilidoso ao aliar citações eruditas a uma visão crítica da realidade brasileira”.

Mas a choradeira não é boa sequer para a própria causa que ele defende – uma economia à Ronald Reagan em que o mercado não tenha freios ou limitações. Para erguer esse universo, são necessários argumentos inteligentes – e não pragas como as usuais. “Malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.”

Tenho a sensação de que os editores de Jabor no Estado e no Globo não conversam com ele sobre o que ele vai escrever. Acho que deveriam. Às vezes um simples “calma, está tudo bem” resolve. Uma conversa prévia seria útil para Jabor,a causa, o leitor e o debate.

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Embaixada lamenta desrespeito de Jabor com venezuelanos

Nota

Além de desrespeitar os venezuelanos, povo irmão do Brasil, e de proferir acusações sem base nos fatos reais, o comentário de Arnaldo Jabor nesta quinta-feira, 10 de janeiro, no Jornal da Globo, demonstra total desconhecimento sobre a realidade de nosso país.

Existe hoje na Venezuela, graças à decisão de um povo que escolheu ser soberano, um sistema político democrático participativo com amplo respaldo popular, comprovado pela alta participação da população toda vez que é convocada a votar em candidatos a governantes ou a decidir sobre temas importantes para o país. Desde que Hugo Chávez chegou ao poder, o governo já se submeteu a 16 processos democráticos de consulta popular – entre referendos, eleições ou plebiscitos.

Não nos parece ignorante ou despolitizado um povo que opta por dar continuidade a um projeto político que diminuiu a pobreza extrema pela metade, erradicou o analfabetismo, democratizou o acesso aos meios de comunicação e que combina crescimento econômico com distribuição de renda. Esse povo consciente de seus direitos não se deixa manipular pelas mentiras veiculadas por um setor da mídia corporativa – essa que circula livremente também na Venezuela.

Considerando o alto grau de organização e conscientização da população venezuelana, não são nada menos do que absurdas as acusações feitas por Jabor da existência de um aparato repressor contra o livre pensamento. Na Venezuela, civis e militares caminham juntos no objetivo de garantir a defesa, a segurança e o desenvolvimento da nação. É importante lembrar que se trata do mesmo comentarista que em 11 de abril de 2002, quando a Venezuela sofreu um golpe de Estado que sequestrou seu presidente durante 48 horas, saudou e comemorou este ato antidemocrático, durante comentário feito na mesma emissora, a Rede Globo.

Embaixada da República Bolivariana da Venezuela

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8 Respostas to “Paulo Nogueira: O mundo de Jabor”

  1. Airton Says:

    Luiz, esses caras que pintam o Brasil como uma M, nem são tantos assim. Na verdade não passa de meia dúzia. O problema é que seus espaços são grandes e poderosos, alimentados exatamente pelo governo que eles defenestram. Se “cada povo tem o governo que merece”, cada governo tem a imprensa que merece.

  2. Luiz Says:

    É por isso que ele é um ilustre representante do PIG, tal como Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Diogo Mainardi, Cláudio Humberto, José Nêumanne Pinto, Eliane Cantanhede, etc. A lista é imensa se formos citar os neo integrantes do PIG que se encontram encastelados em institutos de tendência conservadora e de direita no país como o Mises Brasil e o Millenium: Hélio Beltrão Filho, Pedro Bial, Eurípedes Alcântara, Marcelo Madureira, Carlos Alberto Sardenberg, dentre outros ilustres que acham que o Brasil está uma merda e todos eles estão aí para limpar a “sujeira”. É por isso que o Emir Sader já previu o suícidio dessa imprensa no país.

  3. Marco Tulio Dias Souza Says:
  4. Marcos Pinto Basto Says:

    Arnaldo Jabor, cada vez mais se mostra um irresponsável falastrão que planta toda e qualquer idéia de jerico que lhe invade a cabecinha. É um ícone da sinistrose nacional que deveria tratar-se da diarreia cerebral que o atormenta no dia a dia!

  5. ANTONIO CARLOS BREDER Says:

    A velha e surrada tática de desqualificar o inimigo.Isto não cola mais.Jabor é muito inteligente e o povão está atento.Tentar insistentemente defender o indefensável acaba virando motivo de desconfiança e o tiro pode sair pela culatra.

    “Considerando o alto grau de organização e conscientização da população venezuelana, não são nada menos do que absurdas as acusações feitas por Jabor da existência de um aparato repressor contra o livre pensamento.
    Escrever uma asneira destas beira ao ridículo.

  6. Paulo Nolasco Says:

    Eu posso resumir o Jabor numa só palavra: Palhaço.

  7. Adalberto Coutinho de Araújo Neto Says:

    Bravo! Algumas palavras têm que ser ditas e tendências definidas.

  8. Sayuri Itow Says:

    O governo Brasileiro e a Embaixada Venezuelana deveriam exigir retratacao publica no mesmo horario e com o mesmo tempo usado para tais difamacoes a todos os paises da AL onde realmente existe democracia e nao ditadura capitalista corrupta submissa ao imperialismo global.

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