Quando jornalistas e juízes se tornam amigos, o interesse público fica ameaçado

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Merval, com Gilmar Mendes e Ayres de Britto no lançamento do livro.

O grande editor Joseph Pulitzer dizia que jornalista não podia ter amigo. No Brasil tem – e o pior é que entre as amizades estão juízes.

Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo

Já falei de Mensalão, o livro de Merval. Volto ao assunto, depois de ver fotos do lançamento em Brasília. Figuras eméritas da Justiça Nacional correram, sorridentes, a prestigiar a cerimônia.

O pudor, se não a lei, deveria impedir este tipo de cena. Veja as expressões de contentamento e cumplicidade. Que isenção se pode esperar da Justiça brasileira em casos relevantes que porventura envolvam Merval e, mais ainda, a Globo?

Mas o pudor se perdeu há muito tempo. Em outra passagem imoral desse interesseiro caso de amor entre mídia e justiça, o ministro Gilmar Mendes compareceu sorridente, em pleno julgamento do “mensalão”, ao lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo em que os réus eram massacrados.

Ali estava já a sentença de Gilmar.

O grande editor Joseph Pulitzer escreveu, numa frase célebre, que “jornalista não tem amigo”. Ele próprio viveu em reclusão para evitar que amizades influenciassem os rumos do jornal que comandou.

Para que você tenha uma ideia da estatura de Pulitzer, foi ele quem rompeu com a tradição de publicar as notícias na ordem cronológica. Ele estabeleceu a hierarquia no noticiário. Estava inventada a manchete, bem como a primeira página.

Era um idealista. “Acima do conhecimento, acima das notícias, acima da inteligência, o coração e a alma do jornal reside em sua coragem, em sua integridade, sua humanidade, sua simpatia pelos oprimidos, sua independência, sua devoção ao bem estar público, sua ansiedade em servir à sociedade”, escreveu.

Tinha uma frase que me tem sido particularmente cara na carreira: “Jornalista não tem amigo.”

Como a “Deusa Cega da Justiça”, afirmava Pulitzer, ele ficava ao largo das inevitáveis influências que amizades com poderosos trazem. “O World [seu jornal], por isso, é absolutamente imparcial e independente.”

Merval tem muitos amigos, como se vê na foto deste artigo. Não é bom para o jornalismo que ele faz. E pior ainda é que ele é correspondido no topo da Justiça brasileira.

Juízes, como os jornalistas, não deveriam ter amigos, como pregou Pulitzer. Pelas mesmas razões.

Os nossos têm e parecem se orgulhar disso, como se vê na foto acima.

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4 Respostas to “Quando jornalistas e juízes se tornam amigos, o interesse público fica ameaçado”

  1. Marcos Pinto Basto Says:

    Merval e Gilmar Mendes, são uma dupla perfeita ao qual se junta Aires Brito, formando o trio CÓCÓ, RALHETA & FACADA!

  2. Quando jornalistas e juízes se tornam amigos, o interesse público fica ameaçado | O LADO ESCURO DA LUA Says:

    […] Quando jornalistas e juízes se tornam amigos, o interesse público fica ameaçado […]

  3. Leandro Fortes: O salvador da pátria | SCOMBROS Says:

    […] Quando jornalistas e juízes se tornam amigos, o interesse público fica ameaçado […]

  4. Benevenuto Nadal Says:

    Fica difícil até de falar de imparcialidade, de retidão, de Pulitzer, de World, de não ter amigos para salvaguardar a notícia… Especialmente quando se vive num país onde, senadores de direita(portanto Congresso); ministros do Supremo que soltam os pés pelas mãos(portanto STF); jornalistas de “baixíssimo calibre” que trabalham em grandes conglomerados de mídia, se misturam com quadrilhas( ver cachoeira), com ministros do STF, com bandidos condenados e soltos, pelo próprio Supremo… Se prestarmos bem atenção, veremos que isso tudo, visto de longe, parece “uma grande micelânia”… No entanto se prestarmos bem atenção, vamos verificar que tudo indica; “UMA GRANDE ORQUESTRAÇÃO CONTRA A DEMOCRACIA”, na verdade um “NOVO GOLPE À LA SUPREMO”, que nós conhecemos muitos bem.
    Espero que nossas autoridades constituidas, que ainda não estejam contaminadas, acordem a tempo, pois se sofrermos um novo revés democrático… levaremos outros quinhentos e dois anos para recuperar o que acabamos de jogar “na lata de lixo”, por pura “burrice”!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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