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Breno Altman: O que o PT pode aprender com os comunistas italianos?

28 de fevereiro de 2014

Italia_PCI01Breno Altman, via Conversa Afiada

Corria o ano de 1976. O Partido Comunista Italiano alcança 36% dos votos nas eleições parlamentares (quase o dobro do PT em disputas pela Câmara dos Deputados). O secretário-geral do partido, Enrico Berlinguer, anuncia a política de solidariedade nacional. Apesar de não integrar o governo hegemonizado pela Democracia Cristã, passaria a apoia-lo no parlamento. O objetivo era dar estabilidade política ao país, que vivia longa situação de empate entre esquerda e direita, abrindo hipoteticamente caminho junto ao eleitorado mais conservador.

Esta política provoca muita tensão em setores do partido. Não há dissidências expressivas, mas o diálogo com a juventude estudantil e operária, cujo ápice de mobilização tinha ocorrido nos anos anteriores, é bastante afetado. Organizações extraparlamentares ganham espaço para liderar parcelas da esquerda, em um rumo oposto ao pregado pelos comunistas.

Nesse caldo de cultura – que combina o quadro internacional com a podridão da DC e a guinada do PCI –, emerge a luta armada na Itália, até então circunscrita a ações de propaganda. As Brigadas Vermelhas, fundadas em 1970, conquistam certo apoio e se lançam na chamada “estratégia da tensão”, declarando guerra aberta ao Estado burguês. Sua principal ação: o sequestro e assassinato, em 1978, do ex-primeiro ministro Aldo Moro, um dos chefes máximos da Democracia Cristã.

A direita pressiona por mudanças legais e constitucionais. Aspira por leis de exceção que permitissem a radicalização da repressão não apenas contra as Brigadas e outras organizações combatentes, mas contra o chamado “movimento” – os numerosos grupos sociais que davam suporte, direto ou indireto, à luta armada.

O PCI vive, então, um impasse. Romper com a política de solidariedade nacional, defendendo a Constituição e recompondo sua influência à esquerda. Ou manter seu compromisso com a DC, abraçando as políticas repressivas. Prevalece a segunda hipótese. A Itália passa a ter juízes sem rosto, suspensão de garantias constitucionais, aceitação de culpa por presunção, repressão massiva sem ordem judicial. Com o aval comunista.

Após alguns anos, as Brigadas estavam derrotadas. Quem havia se fortalecido era a direita mais dura, no seio da DC. O PCI tinha perdido influência e vê sua votação decair fortemente. Berlinguer se dá conta do erro cometido desde 1976 e comanda a virada da política no início dos anos 80, voltando à estratégia de confrontação contra as classes dominantes e o conservadorismo.

O partido recupera um pouco de sua força. Com a morte súbita do secretário-geral, em 1984, chega aos 33% dos votos nas eleições europeias e é, pela primeira vez, o partido mais votado da Itália. O “efeito Berlinguer”, no entanto, dura pouco. A decadência eleitoral e social se impõe nos anos seguintes. Uma forte corrente revisionista, forjada durante a política de solidariedade nacional, impede que se consume a guinada proposta pelo líder comunista antes de sua morte.

Final dos anos 80. Crise do socialismo. Colapso da União Soviética. A queda de influência se combina com o caos político-ideológico. A ala de direita assume o comando e liquida o PCI, que passa a se chamar Democratas de Esquerda, depois apenas Democratas e finalmente Partido Democrata. Rompe com o marxismo e o socialismo. Vira um trapo político, cuja ascensão eventual na política italiana depende de sua aliança com os antigos democratas-cristãos e seus satélites. Apoia o neoliberalismo, a política norte-americana e as posições mais conservadoras.

Os setores que discordaram dessa revisão ficam isolados e entram em processo de divisão. A esquerda italiana, a mais potente e vigorosa de todo o mundo ocidental, passa a viver sua longa crise terminal.

Obviamente as situações são distintas. Mas não é o caso da esquerda brasileira e do PT aprenderem algumas lições com essa experiência? Não seria útil refletir o que acontece quando um partido de matiz socialista passa a defender os instrumentos de repressão de um Estado que segue sob hegemonia burguesa? Não seria importante pensar quais as consequências quando a esquerda abandona o papel de campeã radical da democracia para ser o partido de uma ordem que não é a sua?

Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi.

Fuja para as montanhas: “Golpe comunista 2014 no Brasil” terá início em 1º de janeiro

27 de dezembro de 2013

Golpe_Comunista04A

Baseado em texto publicado na CartaCapital

Criado para satirizar o temor de determinados setores conservadores (eles querem conservar o quê?) da sociedade, segundo os quais o Brasil estaria à beira de uma ditadura comunista, o evento “Golpe Comunista 2014 no Brasil” já tem perto de 77 mil pessoas confirmadas.

A página do “Golpe comunista 2014 no Brasil” foi criada no começo de maio deste ano no Facebook e vem abrigando dezenas de enquetes bem-humoradas de seus participantes, tais como:

Capa de iPhone com o Che Guevara, comprar ou não comprar?

a) Claro! Dá pra xingar muito no Twitter com estilo!

b) Lógico! Hay que revolucionar pero sin perder la fofura

c) Não, prefiro uma com a foto do Kim Jong-un.

Que traje usar no golpe?

a) Todo mundo nu!

b) Uniforme da FFLCH

c) Se for homem, ir de saia

Depois dos médicos, o que mais iremos importar de Cuba?

a) Mecânicos de carro vintage;

b) O cirurgião plástico do Zé Dirceu

c) Blogueiros

Qual será o nome da moeda após a libertação?

a) Dilmas

b) Moeda é coisa de burguês! Viva o escambo!

c) Companheiros

O que faremos se 100 mil pessoas confirmarem presença?

a) Faremos um Pyongyang shake. Harlem é um bairro estadunidense e imperialista

b) Faremos um Harlem Shake

c) Vamos dar as mãos. 1, 2, 3! Quem errar o passo, perde a vez.

O que faremos com o Facebook

a) Mudar a opção “curtir” para “apoiado camarada”

b) Mudar o nome para “Foicebook”

c) Mudar o fundo para vermelho.

Confira aqui a página do evento e todas as enquetes e confirme sua presença… ou não.

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Leandro Fortes: Manual da analfabeta política

5 de junho de 2013

Golpe_Comunista02

Leandro Fortes, no Facebook e lido no Esquerdopata

Para quem estava crente que o Golpe Comunista de 2014 seria mamão com mel, prepare-se: as hordas tucanas estão se armando para a guerra!

Dani e seus amiguxos do Shopping Higienópolis, por exemplo, bolaram esse vídeo-manual com todas as orientações para você, jovem cristão preocupado com a tradição, a família e a propriedade, mobilizar as massas contra as doutrinas vermelhas que ameaçam a nação. Ou, como diz Dani, esse símbolo da juventude do PSDB, “o próximo passo do PT”.

Dani escorrega um pouquinho no português quando avisa que “o pessoal do Libertários querem (sic) fazer um aplicatim (?)” e quando diz que é filiada “no” PSDB, mas esse povo que foi alfabetizado em inglês comete muito esses errinhos mesmo.

Vale mesmo é a disposição de Dani para, na praça de alimentação do shopping, organizar o germe da resistência ao golpe comunista, assim, sozinha, com a cara, a coragem e a mesada do papai.

Quero deixar aqui meu apoio a Dani e dizer que achei uma sacanagem o rapaz de camisa verde atrás dela, aos 0:43s, tirar meleca justo quando ela começava a explicar a estratégia de combate aos vermelhos. Deve ser um petralha infiltrado.

Força, Dani! Mas não esqueça de limpar essa babinha de Yogoberry na boca antes de falar, que é muito nojento.

O canibalismo comunista da Veja

4 de junho de 2013
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A pintura do século 18 mostra a construção de Jamestown, a primeira cidade “canibal-comunista”, local que deu origem à expressão “comunista come criancinha”.

Juremir Machado, via Correio do Povo

Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista Veja a sério. Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor meio sem graça, apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia brasileira atual. Mas há um traço de original nesse humor: ele é ideológico. Na semana semana, porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os ossos do socialismo” é uma obra-prima de charlatanismo, de reacionarismo delirante e de besteirol histórico. Segundo o repórter, que assina a matéria, há uma relação direta entre canibalismo e comunismo. Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em Jamestown, na América do Norte, loucos de fome, comeram seus semelhantes.

Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo de seus parceiros de aventura no Novo Mundo. A revista Veja não tem a menor dúvida: “Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária e o fruto do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu”. Uau! A cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à preguiça, que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao canibalismo. A saída viria com a propriedade privada. É reportagem para Prêmio Esso de estupidez.

O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que ocupam na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, a situação dificilmente teria chegado a esse ponto”. Todos os demais aspectos de adaptação e de conjuntura são desconsiderados. O reducionismo ideológico surge como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador, que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços hoje bem conhecidos do capitalismo norte-americano: o empreendedorismo e a aptidão para a competição”. Disso teria decorrido que, em 1775, os norte-americanos “já eram mais altos que os ingleses”. Tem gente batendo os dentes nos consultórios de dentista, onde Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É um riso nervoso.

Nem os primatas do Pânico fariam melhor.

Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar e comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção. Um colono comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a origem da expressão “comunista comedor de criancinha”. Na verdade, encontrou algo mais grave, o comunista comedor de feto. Sem contar que Duda Teixeira chegou ao elo perdido, a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: “Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que colonos caíram na selvageria que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno”. O capitalismo nada mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.

Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.

“Golpe comunista 2014 no Brasil” tem mais 35 mil confirmados

17 de maio de 2013

Golpe_Comunista01

Página do evento viralizou na rede social e abriga dezenas de enquetes bem-humoradas.

Via CartaCapital

Evento “Golpe comunista 2014 no Brasil” tem mais de 35 mil confirmados Criada para satirizar o temor de determinados setores conservadores da sociedade, segundo os quais o Brasil estaria à beira de uma ditadura comunista, o evento “Golpe Comunista 2014 no Brasil” passou na sexta-feira, dia 17, de 35 mil pessoas com “presença confirmada” no Facebook. O evento foi criado pela página Golpe Comunista 2014. Desde sua criação, a página do evento vem abrigando dezenas de enquetes bem-humoradas de seus participantes confirmados, tais como:

Capa de iPhone com o Che Guevara, comprar ou não comprar? a) Claro! Dá pra xingar muito no Twitter com estilo!; b) Lógico! Hay que revolucionar pero sin perder la fofura; c) Não, prefiro uma com a foto do Kim Jong-un.

Que traje usar no golpe? a) Todo mundo nu!; b) Uniforme da FFLCH; c) Se for homem, ir de saia.

Depois dos médicos, o que mais iremos importar de Cuba? a) Mecânicos de carro vintage; b) O cirurgião plástico do Zé Dirceu; c) Blogueiros.

Qual será o nome da moeda após a libertação? a) Dilmas; b) Moeda é coisa de burguês! Viva o escambo!; c) Companheiros

O que faremos se 100 mil pessoas confirmarem presença? a) Faremos um Leningrado shake. Harlem é um bairro estadunidense e imperialista; b) Faremos um Harlem Shake; c) Vamos dar as mãos. 1, 2, 3! Quem errar o passo, perde a vez.

O que faremos com o Facebook? a) Mudar a opção “curtir” para “apoiado camarada”; b) Mudar o nome para “Foicebook”; c) Mudar o fundo para vermelho.

Confira aqui a página do evento e todas as enquetes e confirme sua presença… ou não.