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Paulo Moreira Leite: Vergonha no STF

10 de outubro de 2013
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Lewandowski se recusou a demitir advogada Adriana Leineker Costa, a pedido de Joaquim Barbosa.

O grande problema da mais nova investida do presidente do STF, Joaquim Barbosa, contra o jornalista Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo, é a certeza de que ele não está falando a verdade.

Paulo Moreira Leite em seu blog

Numa situação constrangedora para o País, uma autoridade que responde por um dos três poderes da República decidiu empenhar-se uma operação mesquinha. Usou de sua autoridade para tentar forçar a demissão da advogada Adriana Leineker Costa, funcionária do gabinete ocupado por Ricardo Lewandowski, onde ela trabalha desde 2000. Na época em que a doutora chegou ao STF, nem o atual presidente do STF nem o vice sequer tinham o direito de imaginar que hoje em dia estariam dando expediente por ali.

Num ofício em que procura justificar seu gesto, mas apenas envergonha as partes envolvidas, Barbosa alegou que a presença de Adriana Leineker Costa configura uma situação “aética” em função de uma “relação marital” com um “jornalista-setorista de um grande veículo de comunicação” que exerce sua atividade nas dependências do tribunal, utilizando-se “da infranet, internet e telefones colocados a sua disposição”. Diz Joaquim que, em função de sua relação “marital”, o marido da funcionária usufrui de “situação capaz de gerar desequilíbrio na relação entre jornalistas encarregados de cobrir nossa rotina de trabalho.”

Por trás de um palavreado típico de quem não expressa o pensamento com clareza, o presidente do STF cometeu várias atitudes inconvenientes em nome de fantasias absurdas. Para começar, não há base legal para se afastar uma pessoa de seu emprego em função do casamento, assunto que diz respeito à vida privada de todo mundo. Mesmo que a doutora Adriana fosse casada com um criminoso de alta periculosidade, cumprindo pena em presídio de segurança máxima, teria o direito integral a garantir o próprio sustento num emprego digno, exercido depois de prestar concurso público, cumpridas todas as exigências legais. Depois da Idade Média, nenhuma autoridade tem o direito de imiscuir-se na vida privada de homens e mulheres que, recentemente, conquistaram inclusive o direito de unir-se a pessoas do mesmo sexo, não custa recordar. Visões preconceituosas que incluíam no passado expressões como “más companhias”, “tipos indesejáveis” e “passado duvidoso” não fazem parte do convívio numa sociedade democrática.

A nenhuma autoridade cabe a prerrogativa de zelar por um suposto “equilíbrio” na “relação entre jornalistas” encarregados da cobertura da área em que atuam. Num País onde a censura é proibida pela Constituição, não cabe ao presidente do STF, nem à presidenta da República, nem ao delegado da esquina e nem ao pipoqueiro do parque de diversões tomar qualquer providência para orientar, definir, equilibrar ou desequilibrar o trabalho dos jornalistas. Quem deve cuidar dessa tarefa é o pauteiro do jornal, profissional encarregado de distribuir repórteres pelas diversas áreas de cobertura. Quem julga se um trabalho está equilibrado, ou não, é outro jornalista, o editor.

Em qualquer caso, a organização de uma cobertura é, na forma e na essência, uma atribuição exclusiva de quem escreve e de quem lê uma notícia. Faz parte de sua liberdade que, por definição, não é equilibrada nem desequilibrada – apenas é.

Toda pressão externa para interferir nesse trabalho nada mais é do que uma forma de pressão, abuso e intimidação.

E é neste terreno, das liberdades e garantias individuais, que a intervenção do ministro do STF se mostra preocupante. Foi a Felipe Recondo a quem Joaquim Barbosa se dirigiu em 2010, em termos grosseiros e inaceitáveis, quando este tentou cumprir a obrigação profissional de lhe dirigir uma pergunta – e foi interrompido antes que pudesse terminar a questão. O caso produziu um escândalo e uma sequência vexatória. A assessoria de imprensa do STF divulgou, na época, uma nota onde sustentava a desculpa de que a reação descontrolada se deveria às dores nas costas de Joaquim Barbosa.

Não se deve esperar, no entanto, que o caso receba o tratamento que deveria, embora estejamos falando de algo tão essencial para um País como a palavra do presidente do Supremo Tribunal Federal.

Foi esta palavra que se colocou em dúvida com a dor nas costas de 2010, e é ela que se coloca em dúvida, com o argumento de “aética” sobre a “relação marital” e o jornalismo “desequilibrado” de 2013. Mas todos podem ficar tranquilos, pois logo o caso estará esquecido.

Da mesma forma, a prisão de Claudia Trevisan, correspondente do mesmo jornal, quando tentava entrevistar Joaquim Barbosa em Yale, talvez nunca venha a ser inteiramente esclarecida.

O que se teme, na verdade, é que este comportamento condenável do presidente do Supremo possa contaminar a avaliação de seu papel Ação Penal 470. A cada dia que passa, surgem vozes autorizadas em torno do julgamento para condenar a falta de garantia aos réus e o pouco respeito exibido pelos direitos da defesa. Os acusados falam de irregularidades e episódios mal explicados. Descrevem inquéritos mantidos em segredo, provas que poderiam ser úteis, mas jamais foram exibidas na hora certa. Eles também se queixam de documentos públicos, como inquéritos da Polícia Federal, auditorias de empresas estatais, que não foram devidamente esclarecidos pelos ministros no tribunal.

São elementos coerentes com o retrato de um juiz que divulga notas à imprensa que ninguém leva a sério, e invade a vida privada de uma funcionária da Justiça para atingir a reputação de um repórter, detentor de um Prêmio Esso, a mais alta distinção da carreira, a quem acusa de agir de forma “desequilibrada”. A menos que se queira acreditar que as pessoas mudam de personalidade na mesma velocidade com que trocam de roupa, seria bom perceber que uma coisa tem muita relação com a outra.

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Joaquim Barbosa quer demitir esposa de jornalista a quem agrediu

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Joaquim Barbosa quer demitir esposa de jornalista a quem agrediu

4 de outubro de 2013
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JB está impossível. Quer também demitir funcionários de outros ministros.

Ganha mais um capítulo a relação conturbada entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e os meios de comunicação. Agora, ele quer a cabeça da funcionária Adriana Leineker Costa, lotada no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski. A conduta “antiética”, segundo Barbosa, é o fato de ela ser casada com Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo. O jornalista é o mesmo que o presidente do STF mandou “chafurdar no lixo” quando investigava gastos extraordinários dos ministros. Dias atrás, outra jornalista do Estadão, a correspondente Cláudia Trevisan, foi presa, nos Estados Unidos, ao tentar entrevistá-lo. Será que o Brasil tem um déspota à frente do Poder Judiciário?

Via Brasil 247

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, deu mais uma demonstração cabal de que tem dificuldades para conviver com os meios de comunicação. Na terça-feira, 1º/10, ele encaminhou um ofício ao ministro Ricardo Lewandowski nos seguintes termos:

Senhor Ministro,

Durante minha ausência do País, no período de 24 a 30 de setembro passado, Vossa Excelência encaminhou ofício ao presidente do Tribunal de Justiçado Distrito Federal e dos Territórios solicitando prorrogar a cessão de Adriana Leineker Costa para continuar exercendo o cargo em comissão de Assessor de Ministro, nível CJ-3.

2. Considerando possuir a servidora relação marital com jornalista setorista de um grande veículo de comunicação, que exerce suas funções nas dependências do Supremo Tribunal Federal utilizando-se da intranet, internet e telefones colocados a sua disposição, reputo antiética sua permanência em cargo em comissão junto a Gabinete de um dos Ministros da Casa, além de constituir situação apta a gerar desequilíbrio na relação entre jornalistas encarregados de cobrir nossa rotina de trabalho.

3. Estando a servidora lotada no Gabinete de Vossa Excelência, agradeceria o obséquio de suas considerações a respeito.

Atenciosamente,

Ministro Joaquim Barbosa

Presidente

A conduta “antiética” atribuída por Barbosa à servidora Adriana Leineker Costa é o fato de ser casada com o jornalista Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo.

Recondo é o mesmo a quem Barbosa sugeriu “chafurdar no lixo”. O motivo: ele investigava gastos dos ministros com passagens aéreas e com outras despesas, como a reforma de R$90 mil nos banheiros de Joaquim Barbosa.

Dias atrás, o presidente do STF esteve envolvido em outra polêmica, quando a jornalista Cláudia Trevisan, também dos Estados Unidos, foi presa quando tentava entrevistá-lo, nos Estados Unidos.

A despeito da consulta, o ministro Lewandowski já mandou avisar que não irá reconsiderar a decisão de manter a servidora em seu gabinete.

A agonia do “Estadão”

9 de abril de 2013

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A verdade é que muita árvore foi derrubada à toa pelo jornal dos Mesquitas.

Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo

O Estadão está virtualmente morto. Está cumprindo todas as excruciantes etapas da agonia dos jornais (e das revistas) na era da internet: demissões, demissões, demissões. Menos páginas, borderôs menores. E futuro nenhum.

Pode ser que, em breve, o Estadão circule duas ou três vezes por semana, como está acontecendo com tantos jornais no mundo. A Folha, em outras circunstâncias, vibraria. Na gestão Frias, um dos dogmas na Barão de Limeira era que apenas um jornal sobreviveria em São Paulo. Semimorto o Estado, ficaria a Folha, portanto.

Mas os problemas da Folha são exatamente os do Estado. Pela extrema má gestão dos Mesquitas, eles apenas estão levando mais cedo o Estadão ao cemitério. Isso quer dizer que não vai sobrar nenhum.

Lamento, evidentemente, cada emprego perdido por jornalistas que tiveram o azar de estar na hora errada na redação errada sob a administração errada derivada da família proprietária errada. Os demitidos, importante que eles se lembrem disso, terão a oportunidade de respirar ares mais enriquecedores, sobretudo na mídia digital.

Mas o jornal, em si, não deixará saudade. Qual a contribuição do Estadão ao País?

O golpe de 1964, por exemplo. O Estadão, como o Globo, tem um currículo impecável quando se trata de abraçar causas ruins e misturar genuínos interesses privados com interesses públicos fajutos. No mundo perfeito, segundo o Estadão, os brasileiros serviriam basicamente de mordomos para os Mesquitas.

Ainda hoje, moribundo, gasta suas últimas reservas na defesa de um país em que o Estado (governo) deve servir de babá para uma minoria que, no poder, fez do Brasil um dos campeões mundiais em desigualdade.

Que colunista se salva? Quem oferece uma visão alternativa? Quem quer um País melhor, menos injusto?

Dora Kramer? Pausa para risada.

Os editorialistas mentalmente decrépitos que davam conselhos à Casa Branca mas jamais conseguiram cuidar do próprio quintal? Nova pausa.

Articulistas como Jabor? Pausa mais longa, porque é gargalhada.

O Estadão pertence a um mundo em decomposição e cujo passamento não deixa ninguém triste. Combateu o mau combate. Perdeu, e se vai. Poderia ter ido antes. Muitas árvores teriam sido poupadas.

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À beira da falência: “Estado de Minas” coloca sede à venda e “Estadão” demite jornalistas

7 de abril de 2013

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A semana passada terminou com duas notícias que mostram a crise que vive a imprensa hegemônica no País: o jornal Estado de Minas está vendendo sua sede e O Estado de S.Paulo, após “pesquisas qualitativas e entrevistas em profundidade com diversos setores da sociedade”, resolveu enxugar a publicação e acabar com vários cadernos. Com isso, o diário da famiglia Mesquita irá demitir dezenas de jornalistas. Pelo visto, a crise não é só financeira, mas também de credibilidade, porque o número de assinantes e de venda em banca está caindo vertiginosamente. Isso que dá querer tratar os leitores como idiotas. Podem esperar, para os próximos anos, novas baixas da mídia golpista. E viva a blogosfera!

Jornal Estado de Minas coloca sua sede à venda

Com informações do Brasil 247

A exemplo do que está ocorrendo com o Washington Post, que colocou à venda sua sede nos Estados Unidos, o Estado de Minas, mais tradicional jornal mineiro, também busca um comprador para o edifício onde está instalada sua redação. Trata-se de um prédio na Avenida Getulio Vargas, num dos pontos mais valorizados de Belo Horizonte. De acordo com fontes do mercado imobiliário local, o jornal, que pertence aos Diários Associados, estaria pedindo R$50 milhões, mas teria ofertas de, no máximo, R$30 milhões.

A venda da sede do Estado de Minas é mais um capítulo da crise da mídia impressa. O jornal mineiro enfrenta custos crescentes, queda de circulação e diminuição da receita publicitária. A direção do grupo deve transferir a redação para a sede da TV Alterosa, retransmissora do SBT em Minas Gerais.

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Estadao_Logo02Estadão anuncia mudanças e deve demitir 50 jornalistas

Com informações da CartaCapital

Em comunicado interno divulgado na sexta-feira, dia 5, o diretor de Conteúdo de O Estado de S.Paulo, Ricardo Gandour, anunciou mudanças na “configuração de cadernos” do centenário jornal diário. O anúncio foi acompanhado pela notícia, ainda não oficializada, de que cerca de 50 profissionais da redação serão demitidos. Dezenas de jornalistas haviam deixado o jornal recentemente em razão do fechamento do Jornal da Tarde. O anúncio interno foi republicado no site Blue Bus.

Segundo Gandour, o Estadão terá, a partir do próximo dia 22, apenas três cadernos e um suplemento. Haverá somente uma edição, que será fechada às 21h30. Antes, havia as versões “nacional”, que fechava antes, e a “São Paulo”, que rodava no fim da noite e permitia a inclusão de notícias de última hora aos leitores paulistanos. Isso significa, por exemplo, que o Estadão não conseguirá noticiar jogos de futebol iniciados a partir das 22 horas.

Um único caderno trará as editorias Política, Internacional, Metrópole (incluindo os temas da atual Vida) e Esportes. O segundo caderno trará Economia, Negócios e Tecnologia. O Caderno 2 amplia a cobertura de entretenimento e incorporará comportamento digital e literatura.

A decisão foi tomada, segundo a nota, em razão de pesquisas qualitativas e entrevistas em profundidade com diversos setores da sociedade. Esses levantamentos, ainda de acordo com o editor, mostraram que os leitores querem mais conveniência e eficiência de leitura e um jornal mais compacto em dias úteis.

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Em uma semana, dois jornalões morrem e acaba a parceria do Estadão com a ESPN em rádio

Revista “Caros Amigos” demite todos os funcionários em greve

12 de março de 2013

Caros_Amigos

Via Aldeia Gaulesa

Fiquei sabendo com espanto desta notícia. Primeiramente achei estranho a redação da revista Caros Amigos, uma das principais revistas destinadas a um jornalismo crítico no Brasil, ter seus funcionários em greve. Pior do que a revista permitir que a situação chegasse a este extremo é a decisão tomada pela redação para sanar o problema: a demissão sumária de todos os grevistas.

Uma decisão trágica que coloca em contradição o que a revista, supostamente, defendia. Fica aqui a nossa total solidariedade a todas e todos os trabalhadores demitidos desta forma arbitrária pela revista. Lamentável vermos uma revista que foi outrora uma referência para muitos leitores do Brasil caminhar, a passos largos, para o seu fim.

Abaixo segue a nota da equipe da redação em greve sobre este desfecho.

Diretor da Caros Amigos demite equipe da redação em greve

O diretor-geral da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, chamou hoje (11/3/2013) a equipe de redação e anunciou que a empresa está demitindo todos os trabalhadores que se encontravam em greve desde sexta-feira, dia 08/03, alegando “quebra de confiança”. Nós, integrantes da equipe de redação da revista Caros Amigos – responsáveis diretos pela publicação da edição mensal, o site Caros Amigos, as edições especiais e encartes da Editora Casa Amarela – lamentamos a decisão da Direção. Consideramos a precarização do trabalho e a atitude unilateral como passos para trás no fortalecimento do projeto editorial da revista, que sempre se colocou como uma publicação independente, de jornalismo crítico e de qualidade, apoiando por diversas vezes, inclusive, a luta de trabalhadores de outras áreas contra a precarização no mercado de trabalho.

A greve é um instrumento legal, previsto na Constituição brasileira e direito de todos os trabalhadores. Foi adotada como medida para tentar melhorar as condições de trabalho na revista e foi precedida por uma série de incansáveis diálogos por parte desta equipe, desde que ela começou a ser montada em 2009. As tentativas foram sempre no sentido de atingir o piso salarial para todos os profissionais, encerrar os atrasos no pagamento dos salários e direitos como férias e 13º, que nos atingiram por mais de uma vez, de conquistar o registro dos funcionários fixos e uma melhor relação com colaboradores freelancers, que também convivem e conviveram com baixas remunerações e atrasos nos pagamentos. Diante de alegações por parte da direção sobre dificuldades financeiras vividas pela empresa por se tratar de uma publicação alternativa, convivemos com salários mais baixos que os pisos e os praticados pelo mercado, e também com a inexistência de muitos direitos trabalhistas. Aceitamos negociar gradativamente a correção desses problemas de forma a fazer com que a Caros Amigos, “a primeira à esquerda”, não se tornasse agente de exploração de seus funcionários e avançasse nessa frente conforme suas possibilidades. Trabalhamos para ampliar a receita da empresa, seja pelo prestígio do trabalho realizado, muitas vezes premiado, seja pelo aumento do trabalho em forma de outras publicações como especiais e encartes.

Em todos os anos entre 2009 e 2013, mantivemos o diálogo salutar com a Direção, buscando negociar melhores condições para desenvolvermos o trabalho com o qual estávamos comprometidos. Isso foi feito por meio de cartas de toda a redação à direção, conversas de comissões da redação com a direção e inúmeras negociações entre o editor-chefe e diretor-geral. Apesar de todos nossos esforços em construir uma boa relação interna, fomos pegos de surpresa com o anúncio de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe ou redução do salário dos 11 funcionários de 32 mil para 16 mil ao todo, conforme relatado em nota divulgada na data de anúncio da greve e que segue novamente ao final desta.

O anúncio de medida drástica que atinge diretamente os trabalhadores foi feito em forma de comunicado pelo diretor-geral, sem margem para negociação. Ainda buscamos pelo diálogo reverter o problema junto à direção por uma semana. Sem margem para conversa, recorremos à paralisação como forma de ampliarmos nossas vozes, mas fomos surpreendidos mais uma vez com o comunicado da demissão coletiva.

Nossa luta não é – e nunca foi – contra a revista Caros Amigos. Pelo contrário, reforçamos a importância de publicações contra-hegemônicas e críticas em um cenário difícil para a democratização da comunicação no Brasil, que cerceia a variedade de vozes. Nossa luta é, portanto, para o fortalecimento e a coerência de um veículo fundamental do qual sempre tivemos o maior orgulho de participar. Vimos a público lamentar profundamente que essa crise provocada pela direção venha causar sérios prejuízos ao projeto editorial da Caros Amigos, que contou por todos esses anos com nossa dedicação.

Saímos desse espaço de forma digna diante de uma situação que tornou a greve inevitável, na esperança que nossos apelos sirvam de acúmulo para o futuro da Caros Amigos de modo que ela se torne exemplo não só no campo editorial, mas nas relações que mantém com seus funcionários e colaboradores. Esperamos que o compromisso assumido com colaboradores durante a gestão dessa equipe seja louvado e que eles recebam seus pagamentos sem atrasos. Também que sejam honrados nossos diretos trabalhistas. Agradecemos todos que se solidarizaram com nossa situação e os que seguirão nos apoiando nessa nova etapa. Esperamos que esta experiência sirva de acúmulo e motivo de debate sobre a precarização, o achatamento de salários, a piora nas condições de trabalho e atitudes patronais – que existem tanto em empresas da grande imprensa quanto nas da contra-hegemônica – no sentido de buscarmos melhores condições para todos exercerem suas profissões. Por fim, esperamos que o exemplo comece pela imprensa contra-hegemônica com a correção de práticas como esta.

São Paulo, 11 de março de 2013.

1. Alexandre Bazzan

2. Caio Zinet

3. Cecília Luedemann

4. Débora Prado

5. Eliane Parmezani

6. Gabriela Moncau

7. Gilberto Breyne

8. Hamilton Octavio de Souza

9. Otávio Nagoya

10. Paula Saltai

11. Ricardo Palamartchuk

Dilma reage a crítica de revista britânica à economia brasileira

7 de dezembro de 2012

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Via Agência Brasil

A presidenta Dilma Rousseff rebateu na sexta-feira, dia 7, o artigo da revista britânica The Economist, que sugere a demissão da equipe econômica brasileira, sob comando do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Dilma disse que não se deixará influenciar pela opinião de uma revista estrangeira e destacou que a situação nos países desenvolvidos é mais grave do que a do Brasil.

“Em hipótese alguma, o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto do povo brasileiro, vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira”, disse a presidenta, antes do almoço oferecido aos participantes da Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, no Itamaraty.

Segundo Dilma, o Brasil cresceu 0,6% no último trimestre e crescerá mais no próximo, o que não motiva a recomendação da revista. “Não vi, diante dessa crise gravíssima pela qual o mundo passa, com países tendo taxas de crescimento negativas, escândalos, quebra de bancos, quebradeiras, nenhum jornal propor a queda de um ministro.”

Ao ser perguntada se a situação dos demais países era pior que a do Brasil, a presidenta foi enfática. “Vocês não sabem que a situação deles é pior que a nossa? Pelo amor de Deus!”, disse ela. “Nenhum banco, como o Lehman Brothers, quebrou aqui. Nós não temos crise de dívida soberana, a nossa relação dívida/PIB é de 35%, a nossa inflação está sobre controle, nós temos US$378 bilhões de reserva.”

A presidenta reafirmou que é favorável à liberdade de imprensa, apesar de divergir do conteúdo publicado em alguns veículos. A reação de Dilma à publicação britânica ocorre em meio a discussões sobre regulação dos meios de imprensa na Argentina e no Equador, países cujos presidentes, Cristina Kirchner e Rafael Correa, respectivamente, estavam presentes nas reuniões.

“Eu sou a favor da liberdade de imprensa. Não tenho nenhum ‘senão’ sobre o direito de qualquer revista ou jornal dizer o que quiser”, ressaltou a presidenta. Para ela, a reação da revista britânica pode ter sido motivada pela queda dos juros no Brasil.

“[Será que] tudo isso se dá porque os juros caíram no Brasil? Os juros não podiam cair aqui? Aqui tinha que ser o único, como dizia um economista antigo nosso [Delfim Netto], ou o último peru de Ação de Graças?”, acrescentou a presidenta, referindo-se à hipótese de o Brasil só ter condições de baixar os juros quando todos os países da região já tivessem feito.