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O discurso de Obama, a hipocrisia e o silêncio dos culpados

18 de janeiro de 2014
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Obama em discurso no Departamento de Estado dos EUA, em Washington, na sexta-feira, dia 17. Foto de Jim Watson / AFP.

A espionagem continua, mas vai ficar tudo bem. Obama finge ceder à pressão externa e os aliados vão fingir acreditar. A hipocrisia da diplomacia venceu.

José Antonio Lima, via CartaCapital

Em um longo e aguardado discurso realizado na sexta-feira, dia 17, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que Agência de Segurança Nacional (a NSA) vai espionar governos de países aliados e amigos apenas em casos especiais. Seria uma boa notícia, caso a promessa de cessar o escândalo denunciado em 2013 pelo ex-NSA Edward Snowden não estivesse acompanhada de tantos adendos que a tornam praticamente vazia. Ainda assim, isso não deve ser um problema para governos como os de Brasil e Alemanha, líderes da gritaria contra a NSA – a fala de Obama tem tudo para apaziguar os aliados e normalizar as relações desses com Washington.

Obama optou por falar sobre a espionagem de líderes estrangeiros no fim de seu discurso. E escolheu uma das frases bem humoradas que costuma usar para tratar de assuntos sérios. “Os líderes de nossos amigos próximos e aliados merecem saber que, se eu quiser saber o que eles pensam sobre um assunto, vou pegar o telefone e ligar, em vez de recorrer à vigilância”. A descontração, entretanto, não esconde o fato de que a espionagem continuará, quando for necessária. O próprio Obama revelou isso ao dizer que as comunicações dos chefes de estado e governo de aliados e amigos não serão monitoradas “a não ser que haja um convincente fim de segurança nacional”. Quem define se um assunto é ou não de segurança nacional para os EUA são, como se sabe, os próprios EUA.

A justificativa para a manutenção da espionagem, ainda que atenuada, veio em seguida: todos os governos espionam, os EUA só fazem isso de uma forma melhor. “Vou ser claro: nossas agências de inteligência vão continuar a coletar informação sobre as intenções dos governos ao redor do mundo, da mesma forma como os serviços de inteligência de todas as outras nações fazem”, afirmou Obama. “Não vamos pedir desculpas simplesmente porque nossos serviços são mais efetivos”, disse.

Obama aproveitou o discurso para salientar as contradições não apenas de seu governo, mas daqueles que criticam Washington. O presidente dos EUA afirmou que, em privado, muitos líderes reconhecem a importância da vigilância feita pelos norte-americanos e lembrou que as capacidades de monitoramento dos EUA “ajudam a proteger não apenas nossa nação, mas também nossos amigos e aliados”.

O discurso de Obama consagra a hipocrisia na diplomacia, algo que não é apenas comum, mas necessário nas relações entre os países. Uma vez surgido o escândalo, o governo brasileiro, entre outros, manifestou indignação com a espionagem. E estava coberto de razão ao fazer isso, pois as revelações feitas por Snowden romperam o véu de sigilo que cobre a diplomacia, colocando na berlinda a soberania nacional.

Pressionado pelo Brasil e por outros países, Obama fez o que eles desejavam: um discurso de mea culpa, que servirá ao menos para salvar a face dos espionados. Com o passar do tempo, as relações vão melhorar, Dilma Rousseff (ou seu eventual sucessor) pode até mesmo fazer a visita de Estado a Washington adiada no ano passado e tudo ficará bem. Pelo menos até surgir o próximo Snowden.

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5 pontos que Obama apagou da fala sobre NSA-EUA

Lorenzo Franceschi-Bicchierai, via Mashable e enviado por Vila Vudu

Em fala longamente esperada, o presidente Barack Obama propôs ontem algumas mudanças nas atividades de vigilância da Agência de Segurança Nacional dos EUA que vêm causando indignação nos últimos meses. Mas… nem uma palavra sobre mudanças importantes que lhe foram sugeridas pelo grupo interno para reforma do mesmo sistema de vigilância que o próprio Obama criou.

Aqui, cinco pontos sobre os quais Obama ou disse que não mudarão ou apagou completamente, em sua fala sobre a NSA-EUA.

1. Todos os outros programas de coleta em massa de dados

O programa de coleta em massa de metadados de conversações telefônicas, que permite que a NSA-EUA recolha e armazene virtualmente todos os dados de telefonemas dos norte-americanos numa base de dados, à qual seus analistas têm acesso, parece que terá fim. Obama apoiou a proposta de seu grupo interno de estudo e revisão desse assunto, que sugeriu que esse banco de dados saia das mãos da Agência de Segurança Nacional dos EUA.

Mas… e quanto à coleta em massa de metadados da Internet, usados para construir grafos sociais com dados dos norte-americanos, atividade legalizada nos termos da seção 702 da Lei Fisa [orig. Foreign Intelligence Surveillance Amendments Act / aprox. “Emendas à Lei da Vigilância Contra Atividade da Inteligência Estrangeira”]? E quanto à vasta coleta de mensagens de texto? E quanto à coleta de milhões de listas de contactos de e-mails e “torpedos”, inclusive os enviados e recebidos por norte-americanos e que pertencem a norte-americanos?

Obama não disse coisa alguma sobre isso. O mais provável é que esses programas continuem intactos. De fato, a Casa Branca até elogiou o “programa da Seção 702”: disse que é “valioso”, no resumo por escrito da fala de ontem [“facts-sheet”], enviado a jornalistas.

2. O Defensor Público, no Tribunal Fisa

O grupo interno de análise e estudo sobre atividades da NSA-EUS criado por Obama recomendou a criação de um “Advogado Defensor do Interesse Público, para defender interesses de privacidade e liberdades civis perante o Tribunal Fisa [orig. Foreign Intelligence Surveillance Court].” Muitos especialistas apoiaram a criação desse Defensor Público, porque, nos julgamentos por esse Tribunal Fisa, não havia “o contraditório”, quer dizer: quando o governo solicita autorização para vigiar alguém, não há quem argumente contra a solicitação.

Obama não confirmou a presença desse Defensor Público: disse que um grupo de especialistas participará das sessões secretas do Tribunal Fisa. Mas esses especialistas não interferirão sempre. Serão ouvidos só em “casos significativos”, se o Tribunal tiver de decidir sobre questões gerais relacionadas à privacidade e a como a NSA-EUA opera a vigilância.

Um alto funcionário do governo Obama defendeu essa decisão, dizendo que até em casos da justiça criminal “comum”, quando o governo pede autorização para vigiar alguém, o juiz pode decidir sem ter de ouvir nenhum advogado da parte contrária ou qualquer tipo de Defensor Público.

“Ouvir pontos de vista externos à questão é quase sempre desnecessário, e seria um custo administrativo a mais” – disse esse funcionário que falou a Mashable, mas pediu que seu nome não fosse citado.

Também o Tribunal Fisa considerou “desnecessário” e potencialmente “contraproducente” criar-se um Defensor Público, em carta que enviou às comissões de Inteligência e Justiça do Senado e da Câmara de Deputados.

3. O trabalho da NSA-EUA para derrubar os padrões de segurança e encriptação

Em setembro, documentos vazados por Edward Snowden revelaram que a NSA-EUA montou vasto esforço, em vários setores, com especialistas de várias áreas, para derrubar os padrões de segurança e encriptação, de modo a permitir que os espiões da NSA-EUA tenham acesso a comunicações que os usuários da Internet acreditam que sejam protegidas.

A NSA-EUA e até o FBI, já foram acusadas de invadir sistemas de encriptação, depois de terem solicitado e conseguido que empresas de software incluíssem “portas do fundo” nos programas vendidos a consumidores. As empresas de software negaram que tivessem feito isso. Mas a NSA-EUA contratou e pagou US$10 milhões à empresa de segurança RSA, em contrato secreto, para que trabalhasse na direção de enfraquecer os protocolos de encriptação.

À luz dessas revelações, o grupo que Obama criou apoiou a criação de tecnologia mais forte de encriptação, argumentando que o governo dos EUA não pode “de modo algum subverter, minar, enfraquecer ou trabalhar para tornar vulneráveis, softwares oferecidos à venda a consumidores como se fossem seguros.”

Obama nada disse sobre isso em sua fala. Mas um porta-voz da Casa Branca disse que Obama e seu governo “apoiam o objetivo da recomendação com vistas a proteger a integridade dos padrões da encriptação comercial.” Mas o problema é que, até agora, a Casa Branca nada fez além de – segundo um porta-voz da Casa Branca – ter solicitado um estudo, que será preparado pelo assessor especial para ciber-segurança e pelo Gabinete de Políticas para Ciência e Tecnologia.

Para os especialistas, essa questão é vitalmente importante.

“O presidente deve dizer claramente, sem ambiguidades e sem margem para dúvidas, que a política do governo dos EUA visa a fortalecer, não a enfraquecer, a ciber-segurança, e que renuncia a todas as práticas correntes nas agências de inteligência que visem a introduzir ‘portas do fundo’ e ‘pontos vulneráveis’ em produtos vendidos a consumidores” – disse Daniel Castro, analista sênior da Fundação para Inovação Tecnológica e Tecnologia da Informação [orig. Information Technology and Innovation Foundation (ITIF).

4. Revisão Judicial das Cartas da Segurança Nacional [National Security Letters, NSL]

O FBI vem usando as NSLs há anos, para exigir que empresas de internet e de telefonia entreguem dados de seus clientes e usuários. Essas Cartas são uma espécie de “salvoconduto” administrativo, para liberar o FBI de ter de pedir autorização judicial antes de requerer os dados diretamente às empresas. Essas cartas ordenam que os agentes que recebam os dados não revelem a existência deles a ninguém nem aos interessados no caso em que o FBI esteja investigando, nem no momento nem por muitos anos depois de as cartas terem sido redigidas.

Os especialistas que trabalharam no grupo interno que Obama criou sugeriram mudar esse procedimento, reformando a lei, para tornar indispensável a aprovação de um juiz, em todos os casos em que seja usada alguma Carta de Segurança Nacional. Obama apoiou mais “transparência”, mas não disse uma palavra sobre a necessidade de supervisão judicial.

5. Espionagem nas bases de dados de empresas comerciais norte-americanas em todo o mundo

Documentos vazados por Snowden revelaram em outubro que a NSA-EUA vem recolhendo vastas quantidades de dados de usuários da Internet, porque tem acesso aos links que conectam os centros de dados das empresas Google e Yahoo.

Obama não disse uma palavra sobre isso. Porta-voz da Casa Branca, contatado por nós, não quis comentar.

Espionagem despertou nova frente de luta anti-imperialista

28 de dezembro de 2013

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Via Vermelho

O ano de 2013 foi marcado, entre outros acontecimentos importantes na esfera internacional, pela revelação dos atos de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês). As denúncias feitas por Edward Snowden, ex-funcionário da agência, desmascararam os programas federais de espionagem norte-americanos. Por meio do software Prism, a NSA espionou áudios, vídeos, fotografias, correios eletrônicos, documentos, conversações e conexões na internet de milhões de pessoas, empresas e governos de pelo menos 35 países.

Para obter os dados privados, a NSA grampeou satélites, linhas telefônicas e cabos de fibra ótica e conseguiu livre acesso a grandes servidores dos oligopólios da informática – Facebook, Hotmail, Yahoo e Google, entre outros, que têm bilhões de usuários em todo o mundo.

As ações, características de um Estado bandido, não só violaram a liberdade individual de cidadãos dos Estados Unidos, como atingiram chefes de Estado e de governo de outros países, entre estes a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.

Com a desfaçatez que caracteriza os ocupantes da Casa Branca, o presidente de turno dos Estados Unidos, Barack Obama, tentou justificar o injustificável, alegando que a espionagem é ação “defensiva” para proteger o país e o mundo do “terrorismo”. Aqui se encontra mais um ponto de convergência da administração de Obama com a de seu antecessor, que produziu as horripilantes doutrinas da guerra infinita e da guerra preventiva e as realizou contra países e povos soberanos. O ex-presidente George W. Bush, ao anunciar a sua doutrina de segurança nacional após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, proclamara legitimar o conjunto das ações militares, espionagem e assassinatos seletivos sob a elástica rubrica de “guerra ao terrorismo”.

As ações de espionagem do governo de Barack Obama provocaram contradições internas e chocaram o imperialismo estadunidense com outras potências e contribuíram para isolar ainda mais política e diplomaticamente os Estados Unidos. A presidenta brasileira fez duras críticas em sua alocução de abertura dos trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas, que três meses depois aprovou, por unanimidade, o projeto de resolução O Direito à Privacidade na Era Digital, apresentado por Brasil e Alemanha como reação às denúncias de espionagem internacional praticada pelos Estados Unidos em meios eletrônicos e digitais.

Segundo a resolução adotada pela ONU, as pessoas devem ter garantidos, no ambiente digital, os mesmos direitos que têm fora dele. As normas internacionais que fundamentaram a proposta conjunta são o Artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Artigo 17 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – que mencionam o direito à privacidade, a inviolabilidade de correspondência e a proteção contra ofensas.

É um documento moderado, feito para obter a unanimidade dos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas não deixa de ser um reconhecimento da legitimidade das queixas apresentadas pelos países que foram atingidos pelas ilegalidades da NSA e um passo importante para dar continuidade e aprofundar o debate, no âmbito das Nações Unidas, sobre o direito à privacidade nas comunicações eletrônicas.

Ainda que isto não paralise as ações de espionagem do imperialismo estadunidense, constitui um importante marco legal para reagir a estas com mais autoridade, legitimidade e margem de manobra. Em 2013, a batalha contra as ações de espionagem dos Estados Unidos entrou na ordem do dia como uma das frentes da luta anti-imperialista.

Edward Snowden faz campanha para obter asilo no Brasil

19 de dezembro de 2013

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Além de abaixo-assinado na internet, autor das denúncias de esquema de espionagem norte-americano também enviou carta a senadores.

Via RBA

O ex-consultor de empresa que prestava serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, Edward Snowden, quer asilo político do governo brasileiro. Por meio de uma campanha na internet que permite a assinatura de petições, Snowden pretende obter o apoio da população brasileira para vir ao país. Esta deverá ser a segunda vez que o ex-consultor pede asilo ao governo brasileiro. Quando as primeiras denúncias sobre espionagem dos Estados Unidos vieram à tona, Snowden pediu asilo político a 21 países, entre os quais o Brasil.

Na época, o governo negou o pedido. A concessão de asilo político é uma possibilidade prevista pela Constituição e é uma prerrogativa do Executivo, por meio do Ministério da Justiça.

“Se Snowden estivesse no Brasil, seria possível que ele pudesse fazer muito mais para ajudar o mundo a entender como a NSA e aliados estão invadindo a privacidade de pessoas no mundo todo, e como podemos nos proteger”, informa o texto da campanha na internet.

“O país mais adequado para abrigar alguém que denuncia irregularidades, o país cuja presidente fez um discurso veemente na ONU [Organização das Nações Unidas] denunciando a espionagem é o Brasil”, acrescenta o texto.

Esta semana, o ex-consultor enviou uma carta à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), uma das relatoras da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem, no Senado, em que se dispõe a colaborar com o governo brasileiro caso haja “possibilidades legais” para tal.

Na terça-feira, dia 17, a CPI se reúne para discutir o tema e a possibilidade do asilo brasileiro a Snowden está na pauta. Em julho, o assunto chegou a ser debatido na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado. Por unanimidade, os parlamentares recomendaram a concessão de asilo ao ex-consultor.

Edward Snowden está atualmente na Rússia. O país lhe concedeu asilo temporário de um ano, prazo que expira em meados de 2014. As denúncias feitas por Snowden sobre as práticas de espionagem dos Estados Unidos causaram reações em vários países, entre os quais o Brasil. O tema chegou a ser discutido na ONU, para que sejam elaboradas normas internacionais com o objetivo de proteger dados na internet.

Washington Araújo: O Grande Irmão está nu

10 de novembro de 2013

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Washington Araújo em seu Cidadão do Mundo

Acostumados a mandar e desmandar nos destinos do mundo, a declarar quem é do Bem e quem é do Mal, a apequenar a Organização das Nações Unidas decidindo apenas por seus próprios interesses por todo o período do pós-Guerra (1945-2013), declarando guerras, sempre fora de suas fronteiras e de preferências em regiões ricas em ouro negro, o sempre cobiçado petróleo que move as grandes economias do mundo, a verdade é que os Estados Unidos da América mostrar ser não mais que pigmeu moral vestido de gigante defensor da justiça e da liberdade, do respeito aos direitos humanos e da segurança internacional.

Desvelada a imensa e muito atuante rede de espionagem patrocinada pela Casa Branca mundo afora, onde milhões de cidadãos de países historicamente alinhados a Washington têm sua privacidade acintosamente violada, países como Brasil, França, Alemanha, Espanha, México, pelo menos o que já é do conhecimento público nessa última semana de outubro de 2013, tem não apenas seus cidadãos espionados, mas também seus presidentes, primeiros-ministros, chanceleres, presidentes de megacorporações e outras autoridades de outros escalões.

A situação é mais que grave: é inaceitável, indesculpável, inadmissível, E insustentável. A teia da espionagem até o momento revelada mostra a desenvoltura com que o governo estadunidense tem tratado seis países em particular, dos quais apenas a Venezuela poderia ser considerada “não-alinhada” com Washington. São os seguintes:

1. Brasil: as mensagens de Dilma Rousseff foram interceptadas clandestinamente, e também as comunicações de sua principal empresa estatal, a Petrobras, dona de um dos mais promissores e valiosos campos de petróleo do mundo, aqui conhecido apenas como pré-sal.

2. México: tiveram e-mails espionados nada menos que o ex-presidente Felipe Calderón e o atual mandatário mexicano, Peña Nieto.

3. França: nada menos que 70.300.000 ligações telefônicas foram subtraídas de sua privacidade, espionadas pela agência norte-americana.

4. Alemanha: nada menos que o celular da chanceler Ângela Merkel foi grampeado.

5. Itália: a prática ilegal atingiu políticos, empresários e militares que foram espionados por meio de um rastreamento em massa de chamadas telefônicas e comunicações, sendo que a agência norte-americana contou com o apoio ostensivo da inteligência inglesa.

6. Venezuela: de Chavez e Maduro tiveram mensagens espionadas, notadamente às que tratam de compras militares e de vendas de petróleo.

Outros 29 líderes mundiais foram monitorados pelo serviço de inteligência dos Estados Unidos, segundo reportagem divulgada no último dia 23 de outubro pelo jornal britânico The Guardian. Ficamos sabendo pelo jornal, que a Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA) passou fazer essa espionagem após receber a relação dos números de telefones de um funcionário de um outro departamento do governo.

Constrangimentos diplomáticos em série

Nunca as embaixadas norte-americanas passaram a ter tanto trabalho para justificar o injustificável. Os embaixadores passaram a ser chamados com maior frequência a dar explicações. E há o constrangimento implícito e explícito de mostrar alguma coerência para ações claramente de nações inimigas sendo emuladas por nações ditas amigas. No caso da França, um óbice a mais: é um dos cinco países-membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Paladino dos direitos humanos, os Estados Unidos sai bastante avariado de uma avalanche de episódios que se tiveram um início com os vazamentos dos arquivos de Edward Snowden, ex-analista da CIA e da NSA, atualmente asilado na Rússia, parecem não ter data certa para terminar.

Não precisamos ter mais que meia dúzia de neurônios para juntar as peças do tremendo quebra-cabeças em que o Grande Irmão do Norte se meteu: se nações amigas, se presidentes de nações amigas, se tantos milhões de cidadãos de nações amigas são assim monitorados pelo governo estadunidense, como deve ser essas orquestradas as ações de espionagem contra interesses de países como Rússia e China, donos de vistosos arsenais nucleares? E como tais ações se intensificam quando os alvos são países com o perfil do Irã, também persistente em sua busca por poderio militar nuclear?

Ordem mundial além de defeituosa, está podre

Sempre no topo da escala que mensura as maiores economias do planeta, os Estados Unidos colocam sob suspeição seu poderio financeiro, comercial e militar. Teria alcançado a posição que ocupa há tantas décadas fazendo uso de meios espúrios, condenáveis, com o roubo de informações sigilosas e atinentes à soberania de outras nações ou teria chegado onde chegou por méritos próprios, com livre empreendedorismo, com observância de princípios éticos e morais adequados a seus históricos postulados de adesão a tratados internacionais dos quais é autor e signatário há tantos anos?

Fica patente com a revelação dos “Documentos Snowden” que a presente Ordem Mundial está apodrecendo a olho nu.

Uma comunidade, seja tribal, seja internacional, não consegue sobreviver por muito tempo se sua unidade essencial estiver corrompida, esgarçada. E essa unidade essencial somente pode existir se houver um mínimo de confiança mútua entre os pares, entre as parte afetadas e afetáveis por decisões e resoluções que objetivem assegurar o bem-estar comum e a segurança coletiva de seus membros.

Vivemos uma época em que há muito se encontra consagrada a percepção que informação é poder. Poder é riqueza. Riqueza é desenvolvimento social, econômico e científico.

Quanto do desenvolvimento social, econômico e científico amealhado pelos Estados Unidos da América foi alcançado por meios lídimos?

Não podemos em sã consciência mensurar quanto desse desenvolvimento foi conquistado através de meios absolutamente ilegítimos, ações criminosas, acesso ilegal a informações confidenciais que poderiam não apenas impedir o desenvolvimento de outras nações, mas também desvalorizar seus principais ativos econômico-financeiros, beneficiando de forma fraudulenta seus próprios conglomerados industriais, comerciais e científicos, tanto os de natureza civil quanto os de natureza militar.

Para atenuar o vexame de ser pilhado em flagrante escalada de delitos, a Casa Branca tem se socorrido do senso comum – “espionamos sim, mas que país não espiona outro?”

Mas aqui o assunto requer outro tipo de análise.

Assumir tal premissa é o mesmo que afirmar algo tão estúpido quando “roubamos sim, mas quem não rouba?” – “sequestramos, torturamos e matamos sim, mas que nação não faz isso?” Como vemos, fica cada vez mais difícil explicar o inexplicável. O senso comum ao invés de ajudar, expõe as vísceras da hipocrisia que permeia as relações internacionais em toda a sua extensão.

É óbvio que cada país precisa – e certamente dispõe – de serviços de inteligência, de espionagem e contraespionagem. E o objetivo que legitima esses serviços é um só: proteger sua soberania nacional, resguardar seu território, assegurar a inviolabilidade de seus recursos naturais, econômicos, financeiros, científicos, tecnológicos. E são necessários por que não vivemos em uma Ordem Mundial de ouro, antes, uma ordem mundial de chumbo, de barro; Ordem mundial formada por seres humanos com todas as suas glórias e tragédias… e em constante ebulição.

Informações privilegiadas e igualmente criminosas

O que não se admite é que toda e qualquer pessoa, do cidadão comum ao presidente de uma nação amiga, seja alvo de espionagem indiscriminada (por exemplo, a França, Alemanha, México, Itália, Espanha, Venezuela); que suas principais empresas, fontes de riqueza perene das nações sejam monitoradas por meios ilegais e claramente criminosos. (Como, aliás, é bem o caso da nossa Petrobras!)

Imaginemos o escarcéu que irrompe em Nova Iorque, Berlim, Londres, Paris ou São Paulo quando se descobre no mercado de ações o uso de informações privilegiadas a beneficiar este ou aquele governo nacional, conglomerado empresarial, ou apenas este ou aquele acionista.

De pronto se busca a fonte do vazamento da informação e, em se identificando, processos são instaurados e se for provada a culpa, punições são imediatamente estabelecidas. E isto se faz apenas para se proteger a lisura das relações econômico-financeiras e para assegurar a observância de regras justas e claras a todos os participantes de negócios nas Bolsas de Valores. Este mesmo raciocínio é absolutamente válido em se tratando de licitação para compra de caças militares, negócios de vários bilhões de euros e que visam aumentar (ou modernizar) os meios de defesa militar de um país… Não seria licitação com cartas marcadas, com um dos países interessados em fechar o negócio se valendo de informações vitais e essenciais à concretização do negócio?

Agora, seria razoável imaginar como nada de extraordinário, nada de anormal, nada de ilícito e nada de criminoso que um governo se utilize de informações privilegiadíssimas de outros países para seu autobenefício, e de forma sistemática conseguidas por meios espúrios?

Quando um Estado utiliza seu poder de maneira intrusiva na vida das pessoas, dentro ou fora de suas fronteiras nacionais, podemos afirmar que tal país se move em direção a uma obscurantista forma de “totalitarismo”

O governo estadunidense tem buscado lançar um verniz de normalidade a seus serviços de inteligência ao invocar a necessidade de continuar sua luta contra o terrorismo. E que tal luta se torna mais eficiente quando seu país tem informações valiosas de maquinações de planos de terroristas, mercenários e meliantes contumazes na cena internacional.

Também não se sustenta tal premissa.

Por acaso, o Brasil ou a França, a Alemanha ou a Itália são conhecidos redutos de facções e células terroristas? Por acaso, governantes como Dilma Rousseff, François Hollande, Ângela Merkel ou Enrico Letta, apenas para mencionar uns poucos dos chefes de Estado espionados, são conhecidos por financiar ou dar abrigo a grupos terroristas? A resposta é um sonoro e duplo “não”.

Longe de se esgotar, a revelação dos “Documentos Snowden” continuará agitando o já frágil equilíbrio internacional ainda por – supomos – muito tempo.

Será que não existe um acordo entre o russo Vladimir Putin e Edward Snowden de não “vazar” ações de espionagem contra a Rússia? Que outras informações Snowden não liberou de forma claramente privilegiada para Putin, como moeda de troca para obter asilo em Moscou por um ano?

E as revelações sobre a China, quando virão à luz? Qual será a reação dos chineses?

Na presente Ordem mundial pode existir tudo. Menos mocinhos. Pois é, o Grande Irmão está nu, completamente nu.

Dilma refuta visão colonizada da Folha

9 de novembro de 2013

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Altamiro Borges em seu blog

Sem citar a Folha de S.Paulo – “um jornal a serviço dos EUA” –, a presidenta Dilma Rousseff contestou na quarta-feira, dia 6, a ideia ridícula de que o Brasil também faz espionagem ilegal e criminosa. “Não dá para comparar o que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] fez, até porque não violou a privacidade. Está previsto na legislação brasileira, não cometeram nenhuma ilegalidade. Se tivesse cometido, teriam sido afastados”, afirmou à agência de notícias Reuters.

Na segunda-feira, dia 4, a Folha estampou uma manchete espalhafatosa – “Governo brasileiro vigiou diplomatas estrangeiros” – e tentou comparar a ação da Abin com a política criminosa dos EUA de monitorar telefonemas e e-mails de milhares de cidadãos no mundo. Uma matéria no portal UOL, que também pertence à famiglia Frias, chegou a afirmar que “todo mundo espiona, não há virgens”.

O Nobel da espionagem

As “reporcagens” do Grupo Folha parecem ter sido encomendadas pelo presidente Barack Obama, o prêmio Nobel da espionagem mundial. No exato momento em que o Brasil e a Alemanha se uniram para questionar na Organização das Nações Unidas (ONU) as práticas ilegais dos EUA, elas serviram para comparar duas iniciativas distintas – uma de invasão de privacidade e de ingerência imperialista; outra de defesa da soberania nacional.

Segundo a notícia da Reuters, a presidenta Dilma Rousseff fez questão de defender as atividades da Abin, que monitorou diplomatas russos, iranianos e iraquianos – durante o governo Lula –, agindo conforme a legislação brasileira. “Ela disse que essas operações não podem ser comparadas às realizadas pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), que espionou cidadãos, autoridades e empresas brasileiras”.

Aparato de violação da privacidade

“Acho que não pode comparar o que a Abin fez em 2003 e 2004, até porque tem um lado dessa ação que era contra inteligência, porque estavam achando que tinham interferências em negócios privados, negócios públicos no Brasil. Foi preventivo. Não levou a nenhuma consequência de espionar ninguém na sua privacidade… No outro caso, não é isso. No outro caso, é um aparato de violação da privacidade, dos direitos humanos e da soberania do país”.

Apesar da confusão criada pela Folha, que tentou jogar na defensiva o governo brasileiro, a presidenta voltou a criticar a política imperial dos EUA. “Dilma também afirmou que a falta de um pedido de desculpas do governo norte-americano foi um dos fatores que a levaram a adiar a visita de Estado que tinha marcada para o mês passado aos EUA. Ela revelou que seu governo propôs aos EUA um acordo para que fosse mantida a visita de Estado, que incluía um pedido de desculpas e o compromisso de que as atividades de espionagem parariam”.

“A questão é a seguinte: eu iria viajar. A discussão que derivou das denúncias nos levou a fazer a seguinte proposta aos EUA: só tem um jeito de a gente resolver esse problema. Eles teriam de se desculpar pelo que aconteceu e dizer que não aconteceria mais. Não foi possível chegar a esse termo”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff.

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Leia também:

A vassalagem da Folha de S.Paulo

Venezuela de Chavez liderou lista de alvos de espionagem dos EUA

8 de novembro de 2013
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A Venezuela de Hugo Chavez entrou na lista da espionagem em 2007, segundo o New York Times.

Via Agência Efe

A Venezuela integrava em 2007 uma seleta lista de seis alvos prioritários para a espionagem da NSA, preocupada pela ameaça com a influência que o governo de Hugo Chavez poderia representar para os interesses norte-americanos na América Latina, de acordo com documentos publicados neste domingo no jornal New York Times.

A Venezuela de Chavez fez parte, junto de China, Coreia do Norte, Irã, Iraque e Rússia da lista de “alvos de longo prazo” para os agentes da Agência Nacional de Segurança (NSA) em 2007, de acordo com um memorando oficial vazado pelo ex-analista da CIA Edward Snowden e cedido ao jornal nova-iorquino pelo britânico The Guardian.

A agência vigiou os e-mails oficiais e pessoais de dez funcionários do mais alto escalão do Ministério do Planejamento e Finanças da Venezuela, ainda de acordo com o NYT.

A missão da NSA no país sul-americano era “ajudar os encarregados políticos (norte-americanos) a prevenir que a Venezuela alcançasse seus objetivos de liderança regional e persiga políticas que impactem negativamente os interesses globais dos EUA”, segundo o memorando oficial de 2007.

O governo do então presidente norte-americano, George W. Bush, se via “em uma competição pela liderança na América Latina com o líder da Venezuela, o esquerdista Hugo Chavez”, indica o NYT.

Por isso, o documento da NSA instruía os agentes a “avaliar o progresso de Chavez em suas iniciativas de alcançar alvos de poder regional nas arenas política, econômica, energética e ideológica”.

A agência se mostrava especialmente preocupada pela possibilidade de que houvesse interferência na provisão de petróleo da Venezuela, o terceiro fornecedor mundial de petróleo aos EUA, e por isso insistia em vigiar “a estabilidade do regime, particularmente no setor energético”.

A NSA estudava “a amplitude e profundidade das relações da Venezuela com países de preocupação estratégica para os Estados Unidos, particularmente Irã, Cuba, China e Rússia”.

Uma apresentação de PowerPoint de agosto de 2010 revela que a agência seguia de perto os empréstimos de bilhões de dólares à Venezuela da China, para sistemas de radares e perfuração petrolífera; Rússia, para mísseis e aviões de combate; e Irã, para uma fábrica de aviões não tripulados.

Um funcionário da NSA no Texas “rastreava a cada dia as mensagens privadas de burocratas venezuelanos, buscando intrigas que pudessem proporcionar uma pequena vantagem política”, assinalou o jornal nova-iorquino.

Houve situações nas quais “a agência parecia saber mais das relações dentro de uma rede de narcóticos que os próprios narcotraficantes”, porque controlava os celulares “de toda a rede de compra, transporte, provedores e intermediários desde Holanda a Panamá e Bogotá”, garantiu o NYT, que cita um relatório oficial.

A NSA também cooperou com o exército colombiano, já que “sua tecnologia de espionagem, instalada em um avião do Departamento de Defesa dos EUA que voava a 18.300 quilômetros de altura no espaço aéreo da Colômbia”, deu uma vez “a localização e os planos dos rebeldes das Farc”, assinala o diário.