Posts Tagged ‘2013’

Taxa de desemprego em dezembro de 2013 é a menor já medida pelo IBGE

3 de fevereiro de 2014

Desemprego04_CarteiraTrabalho

Via Yahoo

A taxa de desocupação verificada em dezembro de 2013, de 4,3%, é a menor da série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002. Em novembro de 2013, a taxa havia sido de 4,6%. Com o resultado, a taxa média de desemprego no ano de 2013 ficou em 5,4%, também a menor da história. O resultado foi 0,1 ponto porcentual abaixo da taxa média de 2012 (5,5%) e 7,0 pontos porcentuais inferior à taxa de 2003 (12,4%).

A população desocupada ficou 6,6% menor em dezembro de 2013 em relação a igual mês do ano anterior, o que significa um total de 75 mil pessoas. Em relação a novembro, os desocupados diminuíram em 6,2%, ou 70 mil pessoas.

Já a população ocupada teve queda de 0,5% em dezembro de 2013 em relação a dezembro de 2012, o que significa 106 mil pessoas a menos. Em relação a novembro, houve aumento de 0,2%, o que representa 37 mil pessoas.

O contingente de pessoas não economicamente ativas aumentou 3,9% em dezembro na comparação a igual mês de 2012, ou 707 mil pessoas. Em relação a novembro do ano passado, esse aumento foi de 0,4%, ou 82 mil pessoas.

Limpinho & Cheiroso: Posts mais lidos em 2013

2 de janeiro de 2014

Retrospectiva2013_Limpinho

Em 2013, o Limpinho teve mais de 800 mil acessos. Abaixo, os posts mais lidos. Clique nos títulos para lê-los.

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Nº DE ACESSOS

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4.607

Natal: Como “grande mídia” transformou em crise 5% de crescimento nas vendas

28 de dezembro de 2013
Natal2013_Folha_Estadao

Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.

Luis Nassif, via Jornal GGN

Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.

Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.

Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop, a associação dos lojistas de shoppings.

Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.

1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos?

2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.

3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D – justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.

4. A Alshop informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.

5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico – que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$151 bilhões em 2012 para R$161 bilhões em 2013, aumento de expressivos 12%.

6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alshop esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas” 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.

Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.

***

Natal: Como transformar 5% de crescimento nas vendas em crise

Via Jornal GGN

As vendas em Shoppings Centers aumentaram 5% em 2013, segundo a associação do setor, próximo aos 6% de crescimento em 2012. Foram abertas novas lojas e, portanto, as vendas distribuídas entre mais lojas. Mesmo com o aparecimento de novas lojas, o faturamento das lojas antigas ficou estável Ou seja, a expansão do consumo foi suficiente para garantir a entrada de novas lojas sem afetar o faturamento das anteriores.

Abaixo, a manchete do G1 ressaltando o crescimento das vendas totais.

Em seguida, da UOL, anunciando o pior Natal em cinco anos, com base na seguinte declaração: “Esse foi o pior Natal em cinco anos. Se não fosse o crescimento orgânico dos shoppings e as expansões, não teria havido crescimento nenhum”, diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.

Ou seja, se o faturamento não tivesse aumentado e os shoppings não tivessem crescido, não teria havido crescimento algum. Durma-se com essa qualidade de informação.

Natal2013_G1

Natal2013_UOL

DCM: A seleção dos jornalistas mais reacionários de 2013

28 de dezembro de 2013

Jornalistas_Tucanos06_Selecao

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Bem, final de ano é tempo de retrospectiva. O DCM acompanhou a mídia com atenção, e então vai montar sua seleção de jornalistas do ano, o time dos sonhos do atraso e do reacionarismo, o TS, o melhor do pior que existiu na manipulação das notícias.

A cartolagem é parte integrante e essencial do TS: Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas etc.

À escalação:

No gol, Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo. Devemos a ele coisas como a magnífica cobertura da meia tonelada de cocaína encontrada no famoso helicóptero do pó, pertencente à família Perrella.

Kamel é também notável pela sagaz tese de que não existe racismo no Brasil, algo facilmente comprovável pelo número de colegas negros de Kamel na diretoria da Globo.

Na ala direita, dois jogadores, porque pela esquerda ninguém atua. Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes são os selecionados. Os blogueiros da Veja são entrosados, e pô-los juntos facilita o trabalho de treinamento do TS.

Azevedo se notabilizou, em 2013, por ser comparado por diferentes mulheres a diferentes animais, de pato a rottweiler. Nunes brilhou por lances de genialidade e inteligência – e total ausência de preconceito – como chamar Evo Morales de “índio de franja” e classificar Lula de “presidente retirante”.

Uma disputa interessante entre Nunes e Azevedo é ver quem utilizou mais a palavra “mensaleiros”. Gênios.

Na zaga, uma inovação: duas mulheres. Temos a cota feminina no TS do DCM. Eliane Cantanhede, colunista da Folha, e Raquel Scherazade, a versão feminina de Jabor.

Ambas defenderam valentemente o País dos males do lulopetismo, e fizeram a merecida apologia de varões de Plutarco da estatura de Joaquim Barbosa, o magistrado do apartamento de Miami.

No meio de campo, três jogadores de visão: Jabor, Merval e Míriam Leitão. Sim, a cota feminina subiu durante a montagem do TS.

Jabor se celebrizou em 2013 pela rapidez com que passou da condenação absoluta à louvação incondicional das jornadas de junho quando seus superiores na Globo lhe deram ordem para mudar o tom.

Merval entrará para a história pelo abraço fraternal em Ayres de Britto, registrado pelas câmaras. Merval conseguiu desmontar a tese centenária e mundialmente reverenciada de Pulitzer de que jornalista não tem amigo.

E Míriam Leitão antecipou todas as calamidades econômicas que têm assaltado o País, a começar pela redução da desigualdade e pelo nível de emprego recorde.

Numa frase espetacular em 2013, Míriam disse que só escreve o que pensa. Aprendemos então que ela é tão igual aos patrões que poderia ser o quarto Marinho, a irmãzinha de Roberto Irineu, João Roberto e Zé Roberto.

No ataque, dois Ricardos, também para facilitar o entrosamento. Ricardo Setti e Ricardo Noblat. Setti foi uma revelação, em 2013, no combate ao dilmismo, ao lulismo, ao bolivarianismo, ao comunismo ateu e à varíola. Noblat já é um jogador provado, e dispensa apresentações. Foi o primeiro blogueiro a abraçar a honrosa causa do 1% no Brasil.

Para completar o trio ofensivo, Eurípides Alcântara, diretor da Veja. Aos que temiam que a Veja pudesse se modernizar mentalmente depois da morte de Roberto Civita, Eurípides provou que sempre se pode ir mais adiante.

Suas últimas contratações são discípulos de Olavo de Carvalho, o astrólogo que enxerga em Obama um perigoso socialista. Graças a Eurípides, em todas as plataformas da Veja, o leitor está lendo na verdade a cabeça privilegiada de Olavo.

Na reserva do TS, e abrindo espaço para colunistas que não sejam necessariamente jornalistas, dois selecionados.

O primeiro é Lobão, novo colunista da Veja e novo olavete também. No Roda Viva, Lobão defendeu sua reputação de rebelde ao fugir magistralmente de uma pergunta sobre o aborto.

O outro é o professor Marco Antônio Villa, que conseguiu passar o ano sem acertar nenhuma previsão e mesmo assim tem cadeira cativa em todas as mídias nacionais.

O patrono do TS é ele, e só poderia ser ele: José Serra. Mas Joaquim Barbosa pode obrigar Serra a cedê-la a ele, JB, nosso Batman, nosso menino pobre que mudou o Brasil e, nas horas vagas, arrumou um emprego para o Júnior na Globo.

2013: Retrospectiva de um ano de grandes derrotas e ultracansado

28 de dezembro de 2013

2013

Miguel do Rosário, via O Cafezinho

O ano de 2013 foi curioso para o Brasil. Todos saíram derrotados. A Globo perdeu audiência e foi pega sonegando imposto. O PT viu seus melhores quadros serem presos, um deles (justamente aquele mais traumatizado por quatro anos de tortura na ditadura) foi novamente preso e torturado – desta vez, psicologicamente, de forma ainda mais sádica e cruel, por sete ou oito anos. Genoíno sempre repete para os amigos que a tortura moral infligida pela mídia é muito pior do que a tortura física da ditadura; porque vai direto na sua alma.

Os blogs também perderam. Ficaram imprensados entre um governo assustado e a loucura revolucionária (?) das ruas. As ruas… As ruas também perderam. Depois de mostrar seus enormes pés, as ruas não conseguiram revelar uma cabeça. A lógica do espetáculo rapidamente prevaleceu. Tornou-se uma diversão de final de tarde. Os jovens na rua sem saber porque estavam na rua. Os policiais, também perdidos. E o helicóptero da Globo sobrevoando e tentando vender audiência. Ao final, incêndios, quebra-quebra e audiência em alta da Globonews.

A própria Mídia Ninja, que alça os píncaros da fama e ganha ares de ferramenta revolucionária, termina desempenhando o melancólico papel de parasita do caos (ela só ganha audiência se há quebra-quebra, violências e fogo). E o Fora do Eixo, entidade por trás da Mídia Ninja, se tornou saco de pancadas de coxinhas virtuais.

A imprensa perdeu muito. As ruas foram agressivas contra as mídias tradicionais. Jornalistas eram quase linchados em meio à turba de coxinhas enfurecidos. Quer dizer, nem só coxinhas. Houve cenas épicas, como a de um sujeito que flagrou o repórter da Globo forjando um protesto contra a Dilma. O repórter pediu para uma senhora segurar uma plaqueta contra a presidente. Um homem (um sindicalista) viu a cena e protestou contra aquela fraude sem vergonha, na cara de todo mundo. Foi um boca a boca memorável, que encerrou com o repórter saindo de fininho, sob uma saraivada de xingamentos e cantorias antimídia. Tudo filmado por um celular.

Aliás, as manifestações de rua tiveram um caráter antimídia que a própria mídia, naturalmente, até hoje trata de esconder com unhas e dentes. A Globo pediu desculpas envergonhadas por ter dado “apoio editorial” à ditadura…

Houve protestos de todo o tipo. Foi algo tão grande que é difícil enxergar de perto. Ouvi muita gente caçoar do Arnaldo Jabor, que logo após as primeiras manifestações declarou que os garotos nas ruas não valiam nem 20 centavos. Dias depois, ele muda totalmente de ideia e começa a tecer loas aos protestos.

Bem, eu não critiquei o Jabor por mudar de ideia. Bem aventurados os capazes de mudar, diria o profeta. O problema está na razão pela qual mudamos, que nem sempre é louvável.

Eu mesmo me portei igual ao Arnaldo Jabor, só que às avessas. Quando ele criticou, eu elogiei. Quando ele passou a elogiar, eu passei a criticar.

Porque aconteceu uma coisa sinistra, que os coxinhas e os Black Blocs não perceberam. Em questão de dias, a mídia se adaptou à nova realidade e iniciou uma estratégia de manipulação que chegou facilmente às ruas. Se a pauta dos protestos era difusa, a Globo oferecia a solução para todos os seus problemas. O foco é a corrupção, foi o título de um post de Merval Pereira no auge dos protestos. A mídia também conseguiu transformar a PEC 37, que regulamentava o poder de investigação do Ministério Público, em alvo dos manifestantes. A PEC 33, que impunha limites ao STF, sumiu do mapa.

Com certeza, entre as primeiras e as últimas manifestações, houve reunião emergencial de barões da imprensa e caciques de oposição, provavelmente em alguma sala de luxo no instituto Millenium. Eles tomaram decisões rápidas, o que é a grande vantagem de centros de comando enxutos, unificados e com orçamento infinito. Não estou falando da cúpula do partido comunista chinês, mas do grupinho de endinheirados que domina a mídia brasileira. Duas ou três famílias de banqueiros, três ou quatro famílias donas das principais infraestruturas de mídia no país, e pronto, tem-se um bloco de poder avassalador. O STF é o mais fácil de dominar, porque são poucos, mas o neocoronelismo midiático que vivemos alcança todos os setores, com ênfase nas classes A e B, onde figura a elite do serviço público e das empresas privadas.

As ruas, os coxinhas e os Black Blocs também perderam. O Congresso se aproveitou da confusão das pautas e não adotou nenhuma delas. Os Black Blocs, depois de usados pela mídia, foram descartados.

E agora, ao final do ano, quando o Senado teria a oportunidade de introduzir pautas progressistas na reforma do Código Penal, o relator Pedro Tacques, o mesmo Pedro Tacques que tanto elogiou a rebelião das ruas – sobretudo quando enxergou nelas um sopro de oposição popular – agora lhes passa uma sórdida rasteira, ao eliminar os poucos avanços que havia no texto. Tacques removeu os avanços em relação ao aborto e às drogas.

A democracia perdeu feio em 2013. Perdeu nas manifestações, quando reprimiu com violência, primeiro; e perdeu quando deixou a coisa rolar frouxa demais, em seguida. Perdeu com o avanço do STF sobre o Legislativo. Perdeu com o bloqueio absoluto imposto pela grande imprensa ao debate sobre a democratização da mídia.

Dilma perdeu. A barbada de 2014 não é mais tão certa. Há variáveis mais complexas e instáveis em ação. Sua aprovação encerra o ano vinte ou mais pontos abaixo do que tinha em seu início.

A oposição perdeu. Aécio Neves conseguiu a incrível proeza de figurar como um príncipe na mídia e… cair nas pesquisas. Campos fez algo ainda mais extraordinário: uniu-se a uma campeã eleitoral, que entrou em seu partido e passou a lhe apoiar publicamente e… perdeu intenções de voto (aumentou na primeira pesquisa após sua união com Marina, mas começou a cair em seguida).

O trensalão, o helicóptero do pó, a máfia de fiscal da prefeitura, a coisa de repente ficou feia, em termos “éticos”, para a oposição. Seu discurso de vestais ficou ainda mais ridículo e falso do que sempre foi. […]

O ano termina, portanto, com um aspecto terrivelmente cansado, como se não tivesse transcorrido apenas um ano, mas uma década. Tenho a impressão, por isso mesmo, de que todos estão exaustos.

Já pensou se fosse o Hugo Chavez? Ângela Merkel é reeleita pela terceira vez na Alemanha

23 de setembro de 2013

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A chanceler Ângela Merkel subiu no domingo, dia 22, no palco da sede de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), em Berlim, após ser confirmada no cargo para seu terceiro mandato seguido. Embora tenha assegurado o cargo, Merkel não obteve a maioria absoluta no Bundestag, o Parlamento alemão, e terá de fazer alianças. Já pensou se fosse o Hugo Chavez ou qualquer outro candidato progressista da América Latina? Iria faltar adjetivo para a “grande mídia” detonar a eleição.

Uma esponja chamada Ângela Merkel

Flávio Aguiar, de Berlim, via Carta Maior

Uma pessoa de meus conhecimentos aqui na Alemanha me confessou que, eleitora fiel dos Verdes há décadas, desta vez pretendia votar na CDU, ou melhor, na chanceler Ângela Merkel. Na última hora recuou, porque os Verdes estavam indo mal nas pesquisas de intenção de voto. Mas minha intuição, confirmada no noticiário da segunda-feira, dia 23, o day after da eleição de domingo, dia 22, foi a de que milhares de tradicionais eleitores dos Verdes não recuariam. E assim, parece, aconteceu. A chanceler, uma política extremamente habilidosa e convincente, agiu como uma esponja, puxando para si votos de quase todo o espectro político alemão.

Mas se isto representou um perigo para seus adversários, foi mortal para seu aliado, o FDP, sempre apresentado como business friendly, o que, traduzindo livremente, significa “amigo do mercado”. Segundo a revista Der Spiegel, citando institutos de pesquisa, Ângela Merkel e sua CDU/CSU literalmente “chuparam” 2,21 milhões de votos do FDP, além de terem ganho o voto de 1,25 milhão de eleitores que tradicionalmente não votam (o voto não é obrigatório na Alemanha).

Além disto o FDP perdeu 450 mil votos para o novo partido Alternative für Deutschland, AfD, definido como “anti-Europa”, defendendo que os países endividados, como Grécia, Portugal e outros, saiam da União Europeia ou pelo menos da Zona do Euro e só voltem depois de terem suas economias saneadas. Como resultado, o FDP estará fora do Bundestag pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra, por não atingir a cláusula de barreira, 5% dos votos. Ficou com 4,8% (contra 14,6% em 2009). O clima em sua sede, no domingo, era de velório ou missa fúnebre de corpo presente.

Já o AfD comemorava seu resultado, embora também tenha ficado fora do Bundestag. Fundado há poucos meses, disputava pela primeira vez as eleições e ficou com 4,7%, um resultado mais que promissor. Como definir o conservadorismo deste partido? De um lado, é como se os professores universitários que votam no PSDB, no Brasil, resolvessem fundar o próprio partido. Algo assim que misture solenidade acadêmica, retórica pomposa e um nacionalismo conservador mas algo difuso, porque não se apresenta como tal. Pelo contrário, quer se apresentar como cosmopolita e bem pensante. É bom lembrar que “nacionalismo”, aqui, para grande parte da cultura política alemã, ainda é um palavrão inaceitável. O AfD, pelas pesquisas publicadas na segunda, tomou votos de todo mundo, até da Linke (360 mil). Da CDU, tomou 300 mil.

O SPD social-democrata tinha e não tinha o que comemorar. Melhorou seu resultado, indo de 23% na eleição de 2009 para 25,7%. Estes números lembram o que aconteceu com o FDP este ano. O SPD, formando o que se chama “Grande Coalizão” com a CDU/CSU, no primeiro governo de Merkel, definhou. Mas isto foi insuficiente, para um partido que aspirava chegar ao governo com os Verdes, batendo as coligações de Merkel. Agora o SPD está diante de um dilema: integrar ou não um novo governo de Merkel, repetindo a “Grande Coalizão” e arriscando definhar de novo diante da esponja Ângela Merkel. Se integrar, poderá ter um poderoso instrumento de barganha, porque Merkel, a rigor, precisa formar uma coalizão. A CDU/CSU ficou com 311 cadeiras no Bundestag, contra 319 das oposições desunidas (192 para o SPD, 64 para a Linke e 63 para os Verdes). Para a chanceler, é muito arriscado fazer um governo “puro sangue”, coisa que não acontece na Alemanha desde os tempos de Konrad Adenauer. Quanto ao SPD, poderá cobrar caro pela coalizão, pedindo algo como o Ministério de Relações Exteriores ou até o das Finanças (este será mais difícil) e, certamente, a vice-chancelaria. Mas como já se disse, a coalizão poderá sair-lhe caro, mais uma vez.

A Linke caiu na votação, de 11,9% em 2009 para 8,6% este ano. Chegou até a perder votos para a CDU/CSU (120 mil). Ainda assim, o clima em sua sede era de moderada comemoração. Primeiro porque o partido enfrentou momentos difíceis no passado recente. Um de seus principais líderes, Oskar Lafontaine, chegou a anunciar que se retiraria da política por motivos de saúde. Chegou-se a pensar que a Linke poderia implodir. Mas o partido conseguiu sobreviver, com a afirmação da liderança de Sahra Wagenknecht, que vai ocupando o espaço aberto mas não abandonado por Lafontaine, ao lado do candidato a chanceler, Gregor Gysi. Conseguiram manter redutos importantes, como em Berlim, com 19% da votação. Além disso, com o fracasso, visto a seguir, dos Verdes, a Linke tornou-se a terceira força no Parlamento. Isto vai ajudar o partido a furar uma certa “invisibilidade” que parte da mídia lhe dedica. Por outro lado, esta maior visibilidade vai expor mais suas tensões internas.

Para os Verdes o resultado foi péssimo. Caíram de 10,7% para 8,4%. Perderam 550 mil votos para o SPD e 420 mil para a CDU/CSU. Ficaram em quarto lugar, atrás, ainda que por poucos pontos, da Linke. Teriam a opção – que pode ser suicida – de se oferecer para compor o governo de Merkel, mas isto parece altamente improvável, senão impossível. O que aconteceu? Em primeiro lugar, a campanha Verde foi muito fraca, sem conseguir definir bandeiras nítidas. Em segundo lugar, porque mais uma vez a “esponja” tomou-lhes uma das suas principais bandeiras, a luta contra a utilização de usinas nucleares para produção de energia. Quando estavam no governo com o SPD, os Verdes chegaram a aceitar o envio de tropas alemãs para o Afeganistão, em troca do compromisso de fecharem-se as usinas até 2018. Quando chegou ao governo, com o FDP, Merkel quis recuar na decisão. Mas aí aconteceu Fukushima, e na sequência Merkel construiu um grande acordão para fechá-las até 2021. Isto foi um tiro no ouvido para os Verdes, que já vinham perdendo pontos devido à ruptura com sua tradição pacifista. Outros fatores importantes foram a exposição de suas disputas internas (coisa de que a Linke conseguiu escapar), a falta de renovação de seus quadros e uma acusação exposta insistentemente na mídia de que no passado teriam favorecido “o sexo com e entre crianças”. Traduzindo para hoje em dia, isto assumiu uma conotação de pedofilia e exibicionismo. Claro: o contexto era outro, a discussão era outra, mas como só acontecer nestes casos, até provar-se de que tromba de elefante não é tomada, o leite se derrama e a reputação se perde.

Somando e diminuindo, podem-se afirmar, com cautela, os seguintes pontos:

1. Caso o SPD decida integrar o governo – e Merkel aceite – o resultado poderá ser ruim para… David Cameron, do outro lado do Canal da Mancha. Pressionado pela sua direita, Cameron quer renegociar a repartição de poderes com a União Europeia. Merkel, com o FDP a tiracolo, vinha manifestando certo aceite desta renegociação. Agora, com o SPD na cadeira ao lado, isto ficará mais difícil, com a persistente política pró-europeia dos social-democratas.

2. Mesmo que o SPD integre o governo, não haverá grandes, talvez nem mesmo pequenas mudanças nas políticas da Alemanha e do Banco Central Europeu, nem da Comissão Europeia em relação aos “planos de austeridade” ora em curso. Muito provavelmente Jens Weidmann continuará sendo o diretor-presidente do Banco Central Alemão e, com seus 18% de votos, continuará influenciando basicamente, com seu ideário fortemente neoliberal, as políticas do BCE, ainda que este, nos últimos tempos, tenha demonstrado maior independência em relação à Alemanha. Pleiteará o SPD o cargo, caso integre o governo? Não se pode ainda dizer, mas mesmo que pleiteie, não haverá mudança de escola numa nova gestão.

3. Ainda caso o SPD venha a integrar o novo governo de Merkel, haverá uma maior aproximação com a França de François Hollande.

4. Último comentário: quais as razões do sucesso pessoal de Merkel? Bom, uma delas certamente é sua habilidade de isolar adversários, e também, é bom não esquecer devido ao caso do FDP, de enredar aliados em sua teia. Mas há uma outra razão, mais profunda. Merkel tem um estilo extremamente sóbrio de proceder e até de vestir-se. Ela encarna decididamente um ideal identitário da cultura social e política alemã. Desde muito tempo, Merkel é a primeira figura política alemã de grande presença e reconhecimento internacionais. Talvez desde os tempos mesmo de Adenauer e Willy Brandt. Helmut Kohl foi o primeiro-ministro da queda do Muro e da reunificação, mas nem ele nem Gehrard Schröder, o social-democrata que veio depois, eram figuras internacionalmente carismáticas. Merkel o é, e paradoxalmente, por encarnar o anticarisma. Ela é a líder sem sex-appeal, sem a força aparente de qualquer sedução. Por isso mesmo ele parece continuamente “casada com a Alemanha”, ela personifica este ideal identitário alemão que implica também uma forma de cruzada continental, numa afirmação, sempre discreta, mas muito persistente, de que “o que é bom para a Alemanha é bom para a Europa”. Isto significa remoldar a cena europeia, afastando-a do antigo estado do bem estar social, visto como perdulário e dissipador, e aproximando-a dos ideais de poupança e moderação nas contas públicas, como extensão das contas privadas, a cortina perfeita para recobrir, com o manto probo da respeitabilidade, a orgia financeira em que se transformaram vastos setores da economia europeia e mundial.