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DCM: A seleção dos jornalistas mais reacionários de 2013

28 de dezembro de 2013

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Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Bem, final de ano é tempo de retrospectiva. O DCM acompanhou a mídia com atenção, e então vai montar sua seleção de jornalistas do ano, o time dos sonhos do atraso e do reacionarismo, o TS, o melhor do pior que existiu na manipulação das notícias.

A cartolagem é parte integrante e essencial do TS: Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas etc.

À escalação:

No gol, Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo. Devemos a ele coisas como a magnífica cobertura da meia tonelada de cocaína encontrada no famoso helicóptero do pó, pertencente à família Perrella.

Kamel é também notável pela sagaz tese de que não existe racismo no Brasil, algo facilmente comprovável pelo número de colegas negros de Kamel na diretoria da Globo.

Na ala direita, dois jogadores, porque pela esquerda ninguém atua. Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes são os selecionados. Os blogueiros da Veja são entrosados, e pô-los juntos facilita o trabalho de treinamento do TS.

Azevedo se notabilizou, em 2013, por ser comparado por diferentes mulheres a diferentes animais, de pato a rottweiler. Nunes brilhou por lances de genialidade e inteligência – e total ausência de preconceito – como chamar Evo Morales de “índio de franja” e classificar Lula de “presidente retirante”.

Uma disputa interessante entre Nunes e Azevedo é ver quem utilizou mais a palavra “mensaleiros”. Gênios.

Na zaga, uma inovação: duas mulheres. Temos a cota feminina no TS do DCM. Eliane Cantanhede, colunista da Folha, e Raquel Scherazade, a versão feminina de Jabor.

Ambas defenderam valentemente o País dos males do lulopetismo, e fizeram a merecida apologia de varões de Plutarco da estatura de Joaquim Barbosa, o magistrado do apartamento de Miami.

No meio de campo, três jogadores de visão: Jabor, Merval e Míriam Leitão. Sim, a cota feminina subiu durante a montagem do TS.

Jabor se celebrizou em 2013 pela rapidez com que passou da condenação absoluta à louvação incondicional das jornadas de junho quando seus superiores na Globo lhe deram ordem para mudar o tom.

Merval entrará para a história pelo abraço fraternal em Ayres de Britto, registrado pelas câmaras. Merval conseguiu desmontar a tese centenária e mundialmente reverenciada de Pulitzer de que jornalista não tem amigo.

E Míriam Leitão antecipou todas as calamidades econômicas que têm assaltado o País, a começar pela redução da desigualdade e pelo nível de emprego recorde.

Numa frase espetacular em 2013, Míriam disse que só escreve o que pensa. Aprendemos então que ela é tão igual aos patrões que poderia ser o quarto Marinho, a irmãzinha de Roberto Irineu, João Roberto e Zé Roberto.

No ataque, dois Ricardos, também para facilitar o entrosamento. Ricardo Setti e Ricardo Noblat. Setti foi uma revelação, em 2013, no combate ao dilmismo, ao lulismo, ao bolivarianismo, ao comunismo ateu e à varíola. Noblat já é um jogador provado, e dispensa apresentações. Foi o primeiro blogueiro a abraçar a honrosa causa do 1% no Brasil.

Para completar o trio ofensivo, Eurípides Alcântara, diretor da Veja. Aos que temiam que a Veja pudesse se modernizar mentalmente depois da morte de Roberto Civita, Eurípides provou que sempre se pode ir mais adiante.

Suas últimas contratações são discípulos de Olavo de Carvalho, o astrólogo que enxerga em Obama um perigoso socialista. Graças a Eurípides, em todas as plataformas da Veja, o leitor está lendo na verdade a cabeça privilegiada de Olavo.

Na reserva do TS, e abrindo espaço para colunistas que não sejam necessariamente jornalistas, dois selecionados.

O primeiro é Lobão, novo colunista da Veja e novo olavete também. No Roda Viva, Lobão defendeu sua reputação de rebelde ao fugir magistralmente de uma pergunta sobre o aborto.

O outro é o professor Marco Antônio Villa, que conseguiu passar o ano sem acertar nenhuma previsão e mesmo assim tem cadeira cativa em todas as mídias nacionais.

O patrono do TS é ele, e só poderia ser ele: José Serra. Mas Joaquim Barbosa pode obrigar Serra a cedê-la a ele, JB, nosso Batman, nosso menino pobre que mudou o Brasil e, nas horas vagas, arrumou um emprego para o Júnior na Globo.

Camiseteria Reaça, a butique dos coxinhas

22 de novembro de 2013

Via Jornalismo Wando

Navegando pelos mares revoltosos da internet, fui levado pela correnteza e acabei encalhando num site socialista. Não chegou a ser um naufrágio, mas foi tão assustador quanto. Caí no blog da jornalista Cynara Menezes, que publicou uma entrevista com o biógrafo de Che Guevara. Em determinado momento, John Lee Anderson afirmou:

“Isto é o que enlouquece os de direita, o que os incomoda: que o Che siga potente como um símbolo, um mártir, um herói. Que herói eles têm para ostentar à raiz da Guerra Fria, alguém que a garotada queira pôr em camisetas? Pinochet?”

Bastou para eu interromper a leitura da entrevista e me revoltar. Como assim? Esse Che Guevara não é herói coisíssima nenhuma. Li na Veja que, além de andar armado com metralhadoras e ter matado pessoas durante as guerras, ele… – não sei se pode falar, é meio pesado… – não tomava banho! Como que um argentino barbudo, violento e fedido pode ser um herói? Só mesmo para esses esquerdinhas malucos.

Então comecei a relembrar os ídolos reaças que foram alçados à condição de heróis pela juventude. São tantas as figuras heroicas que nem sei por onde começar. Tivemos Margareth Thatcher, a diva reaça da Inglaterra, aclamada por seu povo. Tivemos também a família Bush, que espalhou a ideologia democrática pelo mundo. No Brasil tivemos Carlos Lacerda, o patrulheiro do bem, sempre atento ao perigo comunista. Ronald Reagan, Papa Bento 16, Jair Bolsonaro, enfim, a lista é infinita.

Hoje vivemos um ótimo momento para a família #SouReaçaMasTôNaModa. Temos vários integrantes atuantes em todos os setores da sociedade. Da música à política. Nem vou citar todos nossos ídolos contemporâneos para não correr o risco de esquecer alguém e deixar algum companheiro de luta chateado.

Bom, mas enquanto esse assunto rolava nas redes sociais, a socialista-morena Cynara me desafiou:

“Por que então você não abre uma camisetaria online só com estampas de ídolos reaças?”

É claro que eu topei. São tantos os homens e mulheres de direita que fizeram e fazem a cabeça dos jovens reacionários que não tinha como esse empreendimento não dar certo. Arregacei as mangas, convoquei alguns colaboradores, criei os primeiros modelos e no dia seguinte abri a lojinha. Veja como ficou a “Camiseteria Reaça”, a sua camiseteria online.

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Nem preciso falar que arrebentamos logo na inauguração. Esses são os primeiros modelos, mas já contamos com inúmeras estampas bacanas em nossa loja. Escolha o seu reaça favorito e encomende uma camiseta do bem para agregar valor ao seu look nesse verão.

Entre no site e faça já o seu pedido: camiseteriareaca.tumblr.com

Vista essa ideia!

* Em breve abriremos uma unidade física em Higienópolis.

Leandro Fortes: A demência verde-amarela

6 de setembro de 2013

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Leandro Fortes, via Facebook

Essa tal OCC – mistura tupiniquim de CCC com Ku Kux Klan – organizou um guia hilário para os manifestantes do 7 de setembro que estão sendo convocados nos hospícios para pedir uma intervenção militar a fim de evitar o golpe comunista de 2014.

Algumas orientações são intrigantes:

● Usem e abusem de fitas de todos os tipos – coloquem na cabeça (Rambo) no pescoço, braços, enfim sejam criativos. Podem até usar fitas pretas como forma de expressar luto por tudo aquilo que este desgoverno está fazendo conosco.

● Dizeres sugeridos: Intervenção militar já; 39 Ministérios pra quem?; Tantos partidos pra que? Comunismo? Coisa nojenta. Militares já. Índice desaprovação; Saúde 81% – Educação 49% – Segurança Pública 67% – Drogas 45% – Corrupção 89%; Plebiscito é golpe comunista; Urnas eletrônicas é golpe. Quero o comprovante do voto; Institutos de pesquisas é [sic] uma farsa. Governo compra resultados (maquia, manipula). Mais ou menos por aí. Ao escreverem formulem uma pergunta ou façam uma afirmação. A reivindicação tema principal é: Intervenção militar já. Com este tipo de pedido as forças armadas serão simpáticas ao movimento.

Então, se na multidão do 7 de Setembro aparecer um maluco vestido de Rambo tentando ser simpático com as forças armadas, não chamem a polícia, porque será inútil. Trata-se de um combatente anticomunista altamente treinado.

PS.: Vem cá, que diabos significa “drogas 45%”? É volume, peso ou preço?

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Leia também:

Extrema-direita prepara manifestação golpista para 7 de setembro

O 7 de setembro e a tristeza de Flaubert

Funcionário fantasma do PSDB é um dos líderes do movimento golpista de 7 de setembro

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Perfil de um reacionário: Medíocres e perigosos

10 de junho de 2013

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Via CartaCapital

O reacionário é, antes de tudo, um fraco. Um fraco que conserva ideias como quem coleciona tampinhas de refrigerante ou maços de cigarro – tudo o que consegue juntar mas só têm utilidade para ele. Nasce e cresce em extremos: ou da falta de atenção ou do excesso de cuidados. E vive com a certeza de que o mundo fora da bolha onde lacrou seu refúgio é um mundo de perigos, pronto para tirar dele o que acumulou em suposta dignidade.

Como tem medo de tudo, vive amargurado, lamentando que jamais estenderam um tapete a sua passagem. Conserva uma vida medíocre, ele e suas concepções e nojos do mundo que o cerca. Como tem medo, não anda na rua com receio de alguém levar muito do pouco que tem (nem sempre o reacionário é um quatrocentão). Por isso, só frequenta lugares em que se sente seguro, onde ninguém vai ameaçar, desobedecer ou contradizer suas verdades. Nem dizer que precisa relaxar, levar as coisas menos a sério ou ver graça na leveza das coisas. O reacionário leva a sério a ideia de que é um vencedor.

A maioria passou a vida toda tendo tudo ao alcance – da empregada que esquentava o leite no copo favorito aos pais que viam uma obra de arte em cada rabisco em folha de sulfite que ele fazia – cultivou uma dificuldade doentia em se ver num mundo de aptidões diversas. Outros cresceram em meios mais abastados – e bastou angariar postos na escala social para cuspir nos hábitos de colegas de velhos andares. Quem não chegou onde chegaram – sozinhos, frise-se – não merece respeito.

Rico, ex-pobre e falidos, não importa: o reacionário ideal enxerga em tudo o que é diferente um potencial de destruição Por isso se tranca e pede para não ser perturbado no próprio mundo. Porque tudo perturba: o presidente da República quer seu voto e seus impostos; os parlamentares querem fazê-lo de otário; os juízes estão doidos para tirar os direitos acumulados; a universidade é financiada (por ele, lógico) para propagar ideias absurdas sobre ideais que despreza; o vizinho está sempre de olho em sua esposa, em seu carro, em sua piscina. Mesmo os cadeados, portões de aço, sistemas de monitoramento, paredes e vidros antibala não angariam de todo sua confiança. O mundo está cheio de presidiários com indulto debaixo do braço para visitar seus familiares e ameaçar os nossos (porque os nossos nunca vão presos, mesmo quando botam fogo em índios, mendigos, prostitutas e ciclistas; índios, mendigos, prostitutas e ciclistas estão aí para isso, quem mandou sair de casa e poluir nosso caminho de volta ao lar).

Como não conhece o mundo afora, a não ser nas viagens programadas em pacotes que garantem o traslado até o hotel, e despreza as ideias que não são suas (aquelas que recebeu de pronto dos pais e o ensinaram a trabalhar, vencer e selecionar o que é útil e o que é supérfluo), tudo o que é novo soa ameaçador. O mundo muda, mas ele não: ele não sabe que é infeliz porque para ele só o que não é ele, e os seus, são lamentáveis.

Muitas vezes o reacionário se torna pai e aprende, na marra, o conceito de família. Às vezes vai à igreja e pede paz, amor, saúde aos seus. Aos seus. Vê nos filhos a extensão das próprias virtudes, e por isso os protege: não permite que brinquem com os meninos da rua nem que tenham contato com ideias que os retirem de sua órbita. O índice de infarto entre os reacionários é maior quando o filho traz uma camisa do Che Guevara para casa ou a filha começa a ouvir axé e namorar o vocalista da banda (se ele for negro o infarto é fulminante).

Mas a vida é repleta de frestas, e o tempo todo estamos testando as mais firmes das convicções. Mas ele não quer testá-las: quer mantê-las. Por isso as mudanças lhe causam urticárias.

Nos anos de 1970, vivia com medo dos hippies que ousavam dizer que o amor não precisava de amarras. Eram vagabundos e irresponsáveis, pensava ele, em sua sobriedade.

Depois vieram os punks, os excluídos de aglomerações urbanas desajeitadas, os militantes a pedir o alargamento das liberdades civis e sociais. Para o reacionário, nada daquilo faz sentido, porque ninguém estudou como ele, ninguém acumulou bens e verdades como ele e, portanto, seria muito injusto que ele e o garçom (que ele adora chamar de incompetente) tivessem o mesmo peso numa urna, o mesmo direito num guichê de aeroporto, o mesmo assento na mesa de fast food.

Para não dividir espaços cativos, frutos de séculos de exclusão que ele não reconhece, eleva o tom sobre tudo o que está errado. Sabendo de seus medos e planos de papel, revistas, rádios, televisão, padres, pastores e professores fazem a festa: basta colocar uma chamada alarmista (“Por que você trabalha tanto e o País cresce tão pouco?”) ou música de suspense nas cenas de violência (descontrolada!) na tevê para que ele se trema todo e se prepare para o Armagedon. Como bicho assustado, volta para a caixinha e fica mirabolando planos para garantir mais segurança aos seus. Tudo o que vê, lê e ouve o convence de que tudo é um perigo, tudo é decadente, tudo é importante, tudo é indigno. Por isso não se deve medir esforços para defender suas conquistas morais e materiais.

E ele só se sente seguro quando imagina que pode eliminar o outro. Primeiro, pelo discurso. No começo, diz que não gosta desse povinho que veio a seu estado rico tirar espaço dos seus. Vive lembrando que trabalha mais e paga mais impostos que a massa que agora quer construir casas em seu bairro, frequentar os clubes e shoppings antes só repletos de suas réplicas. Para ele, qualquer barberagem no trânsito é coisa da maldita inclusão, aqueles bárbaros que hoje tiram carta de habilitação e ainda penduram diplomas universitários nas paredes. No tempo dele, sim, é que era bom: a escola pública funcionava (para ele), o policial não se corrompia (sobre ele), o político não loteava a administração (não com pessoas que não eram ele).

Há que se entender a dor do sujeito. Ele recebeu um mundo pronto, mas que não estava acabado. E as coisas mudaram, apesar de seu esforço e de sua indignação.

Ele não sabe, mas basta ter dois neurônios para rebater com um sopro qualquer ideia que ele tenha sobre os problemas e soluções para o mundo – que está, mas ele não vê, muito além de um simples umbigo. Mas o reacionário não ouve. Os ignorantes são os outros: os gays que colocam em risco a continuidade da espécie, as vagabundas que já não respeitam a ordem dos pais e maridos, os estudantes que pedem a extensão de direitos (e não sabem como é duro pegar na enxada), os maconheiros que não estão necessariamente a fim de contribuir para o progresso da nação, os sem-terra que não querem trabalhar, o governante que agora vem com esse papo de distribuir esmola, combater preconceitos inexistentes (“nada contra, mas eles que se livrem da própria herança”), os países vizinhos que mandam rebas para emporcalhar suas ruas.

O mundo ideal, para o reacionário, é um mundo estático: no fundo, ele não se importa em pagar impostos, desde que não o incomodem. Como muitos não o levam a sério, os reacionários se agrupam. Lotam restaurantes, condomínios e associações de bairro com seus pares, e passam a praguejar contra tudo.

Quando as queixas não são mais suficientes, eles juntam suas solidões e ódio à coletividade (ironia) e se organizam. Juntos, eles identificam e escolhem os porta-vozes de suas paúras em debates nacionais. Seus representantes, sabendo como agradar à plateia, são eleitos como guardiões na moralidade. Sobem a tribunas para condenar a perversidão, o aborto, a bebida alcoólica, a vida ao ar livre, as roupas nas escolas. Às vezes são hilários, às vezes incomodam.

Mas, quando o reacionário se vê como uma voz inexpressiva entre os grupos que deveriam representá-lo, bota para fora sua paranoia e pragueja contra o sistema democrático (às vezes com o argumento de que o sistema é antidemocrático). E se arma. Como o caldo cultural legitima seu discurso e sua paranoia, ele passa a defender crimes para evitar outros crimes – nos Estados Unidos, alvejam imigrantes na fronteira; na Europa, arrebentam árabes e latinos; na Candelária, encomendam chacinas e, em QGs anônimos, planejam ataques contra universitários de Brasília que propagam imoralidades.

O reacionário, no fim, não é patrimônio nacional: é um cidadão do mundo. Seu nome é legião porque são muitos. Pode até ser fraco e viver com medo de tudo. Mas nunca foi inofensivo.

A reacionária imprensa esportiva adentra ao gramado

4 de junho de 2013

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Davis Sena Filho em seu blog Palavra Livre

Há muitos meses percebi que os colunistas, comentaristas, repórteres, âncoras e blogueiros da velha imprensa corporativa passaram a fazer comentários, ilações e até mesmo a ironizar e desprezar, de forma sistemática, os megaeventos esportivos que vão acontecer no Brasil. Estranho. E explico o por quê. Como pode os jornalistas, por exemplo, da CBN, do SporTV, da Globo, da Band, da Jovem Pan, do jornal Lance!, da revista Placar, do Esporte Espetacular, da ESPN, da Fox Sports e do Globo Esporte serem contra eventos que propiciarão lucros gigantescos às empresas nas quais eles trabalham? Respondo: pode.

O jornalista esportivo por vontade própria ou a mando de seu chefe, editor ou diretor passou a fazer também oposição ao governo federal. Como qualquer ser que respira – mesmo se viver na ignorância e na alienação –, o jornalista esportivo tem instinto de preservação e de sobrevivência, sendo que seu problema maior se traduz na preservação do emprego, que se soma ao reacionarismo arraigado em seus valores de classe média. Dos valores elencados, o principal deles é o de se livrar da companhia das massas, porque acreditam em um mundo VIP, onde se sintam “especiais” e bafejados pela sorte e pelos olhares e os cuidados dos deuses.

A maioria dos jornalistas esportivos é originária da classe média. Por meio de gerações aprenderam a desprezar e a menosprezar o Brasil e tudo o que representa o brasileiro, bem como, ultimamente, alinharam-se aos jornalistas de política e de economia da imprensa de negócios privados, porque passaram a fazer também uma campanha insidiosa, pérfida e sem trégua aos governantes trabalhistas, que assumiram, constitucionalmente, há 11 anos o poder no Brasil por meio das urnas, ou seja, conquistaram a maioria dos votos do povo brasileiro.

Eu quero dizer que os jornalistas esportivos “adentraram ao gramado”, como afirmavam os narradores antigos, e passaram a fazer uma injusta e intolerante campanha contra, inclusive, os interesses da Nação, porque se juntaram, a mando de seus patrões, a seus colegas das editorias de política e econômica, como forma de fazer uma frente que desqualifique o trabalhador brasileiro e desmoralize o governo da presidenta trabalhista Dilma Rousseff, além de atingir, sem sombra de dúvida, o ex-presidente Lula, cujo governo trabalhista garantiu que a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas fossem realizadas no Brasil.

Os jogos e os eventos esportivos vão fazer com que o País deixe como herança à população um legado em infraestrutura, receba bilhões em recursos financeiros no decorrer desta década, realidades que vão fomentar ainda mais a economia interna, e, consequentemente, vão propiciar a criação de milhares de empregos, além de fazer com que o Brasil fique exposto à mídia mundial, que vai mostrar o Brasil a todos os povos, que, curiosos, poderão, um dia, visitar o Brasil como turistas e ajudar a desenvolver ainda mais a economia brasileira. Quaisquer governos ou povos desejam ou querem ser sedes de jogos com visibilidade planetária. Quem rema contra a maré, para variar, são sempre os mesmos portadores de complexo de vira-latas: a imprensa burguesa, a direita partidária, setores atrasados do empresariado urbano e rural e a classe média tradicional, que consome os produtos de péssima qualidade editorial da imprensa de mercado.

Mesmo assim a campanha nebulosa da imprensa esportiva não cessa. É intermitente. As grandes corporações de comunicação deste País vão ganhar dinheiro a rodo com a realização dos grandiosos eventos. A Globo e seus canais fechados, por exemplo, vão lucrar como nunca lucraram, mas mesmo assim, por causa de ideologia e preconceitos históricos, apostam no “suicídio” financeiro, no fracasso dos jogos e dão tiros nos pés, porque o ódio é incomensurável. A verdade é que nossas “elites” brancas, reacionárias, perversas, colonizadas e de passado escravagista preferem aplicar o veneno em si mesmas do que cooperar para que o Brasil e seu povo se tornem um sucesso no que diz respeito a realizar os eventos esportivos, com competência somada à alegria tão comum ao povo brasileiro.

Todos os setores e segmentos da economia vão ter lucros. Cresci a ver os jornalistas esportivos a choramingar misérias porque o Brasil estava há décadas a não receber e realizar eventos esportivos internacionais. Era o sonho dos empresários midiáticos e de seus empregados, que, diuturnamente, apregoam o “fracasso” e a “incompetência” do Brasil. Até a África do Sul foi sede de uma Copa do Mundo, mas o Brasil, que é um país industrializado, a sexta maior economia do mundo e que sempre teve tudo por causa de sua competência, como bem comprova a privatização de suas estatais, porque só vende quem tem o que vender, não vai conseguir fazer uma Copa do Mundo, talvez porque vai faltar bolas e apitos, o que, sobremaneira, vai inviabilizar os jogos e a vinda de milhões de turistas. Dá um tempo, né? É o complexo de vira-lata e a baixa estima na veia!

Contudo, sabemos que o Brasil foi sede de uma copa no já longínquo ano de 1950. O Brasil rural, onde quase 70% da população morava no campo, realizou a copa. Agora em pleno século 21, no terceiro milênio, o Brasil, seu governo trabalhista e os trabalhadores brasileiros não têm competência, segundo nossa imprensa alienígena, derrotista, negativista e de essência arbitrária. Tornou-se impossível ouvir, assistir e ler as “abobrinhas” e ter paciência com a insensatez e a total falta de sabedoria de tais escribas, agentes da derrota, da baixa estima e do ódio ao Brasil.

Antes, os jornalistas esportivos eram proibidos de comentar sobre política e até mesmo falar sobre economia. Entretanto, com o advento dos megaeventos no Brasil em um tempo em que os mandatários eleitos são do campo trabalhista e do PT, a ordem nas redações é para boicotar as Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas até esses eventos começar. A partir daí, como sempre, as aves de mau agouro, os abutres dão um tempo, pois afinal eles têm de comer carniça, que se traduz em ganhar muito dinheiro, para logo depois de encerrado os jogos recomeçar a flagelação e a desqualificação de quem proporcionou tamanhas festas esportivas. Afinal, as eleições presidenciais vão ser realizadas em outubro de 2014.

A direita brasileira é assim: uma das mais perversas e poderosas do mundo. Os senhores da casa grande não vão dar água a quem necessita, no caso o Brasil. Onde e quando se viu os senhores de escravos e seus capatazes de classe média cooperarem e se solidarizarem? Se alguém viu é porque está completamente equivocado, desnorteado ou de porre. A corrente dos entreguistas e colonizados que não deseja um Brasil independente, soberano e com seu povo emancipado. É, na verdade, o campo político mais antigo do País e composto por escravagistas desde 1500, em que seus latifúndios estão, geração após geração, disseminados, simbolicamente, nas mentes, na cultura, nas estruturas sociais e no imaginário da classe média tradicional e de grande parte dos donos dos meios de produção.

E é por isso que jornalistas de política, de economia e agora os esportivos estão escalados no mesmo time, a compor uma grande frente contra o Brasil e o povo brasileiro. Quando, certo dia, os trabalhistas do PT saírem do poder, talvez tudo que é feito neste País vai merecer os aplausos dos escribas reacionários e dos pequenos mussolinis das classes média e rica. Mesmo assim me arrisco a afirmar que os barões da imprensa, se tiverem de escolher, sempre optarão pelos interesses dos grandes bancos e dos trustes internacionais e dos governos imperialistas, a exemplo da Inglaterra, da França e principalmente dos EUA. Eles são autoritários, arrogantes, presunçosos com o Brasil, a África e a América Latina.

Por sua vez, falam grosso com a Bolívia e o Paraguai, e fino com os EUA e a Inglaterra. Essas pessoas se transformam em seres subservientes, venais, colonizados e pusilânimes quando tratam com seus senhores, que dominam o capitalismo em âmbito mundial e financiam e propagam a guerra por meio de invasões armadas de pirataria e rapinagem, como ocorreu e ocorre com a Líbia, o Iraque, o Afeganistão, a Palestina e a Síria, cuja oposição armada é financiada pelas potências ocidentais, por intermédio da Otan, da CIA e do Departamento de Estado dos EUA.

A imprensa esportiva reacionária adentrou ao gramado. Este lamentável campo, sem ter conhecimento e discernimento para meter a mão em tal cumbuca. A maioria dos jornalistas esportivos, por ideologia ou meramente oportunismo, aposta no fracasso dos eventos. Contudo, eles vão, mais uma vez, perder o jogo para o povo brasileiro. É isso aí.

Pequeno almanaque do reacionário de sofá

23 de dezembro de 2012

Reacionario01Pedro Munhoz, via BHaz

As redes sociais proporcionam meios rápidos e eficientes para toda e qualquer pessoa expor, rapidamente, de forma descompromissada e atingindo um público cada vez mais amplo, suas opiniões. Isso não é algo negativo, pelo contrário, é uma das coisas que mais me fascina no mundo virtual. Os comentários e opiniões resultantes dessa liberdade retratam, porém, uma realidade das mais preocupantes e que, para além do ambiente virtual, dizem muito sobre a nossa sociedade.

Se não há como discordar do fato de que ninguém é obrigado a conhecer razoavelmente um assunto qualquer, acho especialmente alarmante o número de pessoas que, sem se debruçar um segundo sequer sobre temas polêmicos e delicadíssimos, expressam suas opiniões pré-moldadas com a desenvoltura de quem sabe realmente do que está falando. Pois bem: opiniões pré-moldadas existem em todos os espectros ideológicos e, para além do campo político propriamente dito, atingem inclusive campos do conhecimento técnico, como o direito, a medicina e a economia. Vou abordar, porém, neste artigo, apenas uma classe de comentários: os dos reacionários de sofá.

Os reacionários de sofá são aqueles que, preguiçosamente, no conforto de suas residências, absorvem passivamente as opiniões vociferadas pela grande mídia contra toda e qualquer posição política que possa implicar uma mudança positiva para um grupo com o qual ele não se identifica. Outras vezes, eles não precisam nem mesmo recorrer à mídia para terem uma opinião qualquer sobre um assunto com o qual ele não tem o mínimo de contato: basta recorrer aos preconceitos que lhe foram incutidos na infância.

São quase sempre individualistas, pois não conseguem cogitar a defesa de um interesse qualquer que não seja o seu próprio. Também gostam de pautar os seus discursos por alarmismos apocalípticos, derivando consequências genéricas gravíssimas de medidas que muitas vezes têm um escopo bastante restrito. Ressentem-se ferozmente de terem nascido no Brasil e odeiam os brasileiros, a quem, do sofá de suas casas ou da cadeira de suas escrivaninhas, taxam de passivos, indolentes, comodistas e estúpidos.

Pois bem: essa é uma pequena coletânea de conceitos caros a esse tipo de usuário das redes sociais que pretende ser uma modesta contribuição para estudos posteriores dessas mentalidades tão peculiares. Separei alguns verbetes sobre os quais nossos reacionários adoram opinar. Estou aberto a contribuições.

Atenção: as opiniões abaixo não retratam a opinião deste colunista. Na verdade, são o seu oposto.

Cotas raciais

1. Vão instaurar o racismo no Brasil.

2. Racismo contra brancos.

3. Tem de melhorar a educação pública.

4. Trabalhei para pagar o cursinho de meus filhos e querem dar as vagas deles para quem não pagou.

5. São inúteis, pois o Brasil não é racista.

6. Sou contra, pois minha bisavó era negra e nasci branco.

7. E a igualdade, coméquifica?

8. Governo premiando a vagabundagem.

9. Meu vizinho é negro e é mais rico do que eu.

10. Meu cunhado é negro e trabalhou honestamente pra pagar o cursinho dos filhos.

Racismo

1. Não existe no Brasil.

2. O racismo dos negros contra os brancos é maior do que o dos brancos contra negros.

3. Se eu andar com uma camisa escrita 100% branco eu vou preso.

4. Tenho vários amigos negros, mas [preencher com conclusão preconceituosa a sua escolha].

5. Deveria ter o dia do Orgulho Branco.

6. Todo mundo protesta contra o racismo, mas ninguém protesta contra a corrupção.

Homossexualidade (pronunciar “homossexualismo”)

1. Doença que precisa de tratamento.

2. Falta de vergonha na cara.

3. Homossexuais querem ter mais direitos do que eu.

4. Abominação aos olhos de Deus.

5. Imoralidade.

6. Falta de “couro” na infância.

7. Homossexuais querem converter as crianças ao homossexualismo.

8. Homossexuais são pedófilos.

9. Eles querem ser respeitados, mas não se dão o respeito.

10. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Movimento gay

1. Prega a promiscuidade.

2. Daqui a pouco vai ser proibido ser hetero.

3. Quer acabar com a religião.

4. Quer acabar com a família.

5. Daqui a pouco não vou poder dizer aos meus filhos que é errado ser gay.

6. Sinônimo de ditadura gay.

7. Quer converter as crianças ao homossexualismo (sic).

8. Por que eles não lutam contra a corrupção? Lamentável!

9. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Feminismo

1. Chamar de feminazis.

2. Preconceito contra homens.

3. E a igualdade, coméquifica?

4. Quer desestabilizar a família.

5. Falta de sexo.

6. Falta de louça pra lavar.

7. Feministas são feias.

8. Feministas são lésbicas.

9. Não sou feminista, sou feminina.

10. Por que elas não lutam contra a corrupção? Lamentável.

Marcha das vadias

1. Dizem que são vadias e depois não querem ser estupradas. Absurdo!

2. Comeria todas elas.

3. Só tem gorda mostrando os peitos.

4. Não se dão o respeito.

5. Não respeitam nossas crianças.

6. Querem arrumar um macho.

7. Falta de louça pra lavar.

8. Atrapalha o trânsito.

9. Deviam protestar contra a corrupção.

10. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Marcha da maconha

1. Querem drogar as nossas crianças.

2. Afronta à moral.

3. Bando de vagabundos.

4. Daqui a pouco vão vender crack na porta da igreja.

5. Polícia neles.

6. Atrapalha o trânsito.

7. Está tudo invertido.

8. Saudades da ditadura.

9. Falta de lote pra capinar.

10. Deviam protestar contra a corrupção.

Ditadura militar

1. Naquele tempo não existia corrupção.

2. Naquele tempo não existia maconha.

3. Naquele tempo não existia homossexualismo.

4. Naquele tempo não existia violência.

5. Naquele tempo as escolas eram de Primeiro Mundo.

6. É uma coisa boa, pois brasileiro não sabe votar.

7. Salvou o Brasil da ditadura comunista.

8. Poucas pessoas foram mortas e torturadas e quem foi morto ou torturado mereceu.

9. Saudades daquela época.

10. Todo mundo critica a ditadura no Brasil, mas ninguém critica Cuba. Lamentável!

Direitos humanos

1. Chamar de “direito dos manos” e se achar genial.

2. Direito dos vagabundos.

3. Direitos humanos para humanos direitos.

4. Ninguém defende os direitos humanos das vítimas.

5. Defensor dos direitos humanos devia ter sua filha estuprada.

6. Está tudo invertido.

7. A culpa da violência é desse pessoal que defende os direitos humanos.

8. Um cidadão de bem não pode nem espancar e torturar um vagabundo que tentou roubar seu tablet.

9. Na época da ditadura não existia isso e era tudo muito melhor.

10. Ficam defendendo bandido, mas deviam lutar contra a corrupção. Acorda Brasil!

Povo brasileiro

1. Não gosta de trabalhar.

2. Não sabe votar.

3. Tem o governo que merece.

4. É ladrão.

5. Não tem cultura.

6. Só pensa em futebol, Carnaval e cerveja.

7. É o povo brasileiro que estraga o Brasil.

8. Só sabe reclamar.

9. Mudei para Miami por causa do povinho que vive no Brasil.

10. Não tem moral.

11. Não luta contra a corrupção! Acorda Brasil!

Corrupção

1. Culpa do brasileiro que não sabe votar.

2. Pena de morte para políticos corruptos.

3. Culpa do PT.

4. Não existia na época da ditadura.

5. Todos os brasileiros são corruptos (menos eu).

6. Não existe nos Estados Unidos.

7. Não existe na Europa.

8. Está tudo invertido.

9. Ninguém luta contra a corrupção.

10. Como todo mundo é corrupto e não sabe votar, ninguém tem o direito de reclamar da corrupção, pois o Brasil tem o governo que merece.

E por ora encerro esse pequeno almanaque. Se essas são as suas opiniões, parabéns: você é um perfeito reacionário de sofá que, surfando no mais rasteiro senso comum, não contribui em nada para o avanço da discussão desses temas. Se não, você talvez pudesse pensar em adotar esses conceitos para você. É certeza de aplausos nos ambientes virtuais e vai-lhe poupar muitas infindáveis discussões via Facebook ou Twitter com outros reacionários de sofá que constituem, com certeza, o tipo mais teimosamente imune à argumentação da internet.

Se você se recusa a adotar os conceitos acima colocados, deixo para vocês uma dica: por que vocês não lutam contra a corrupção? Acorda Brasil! [Brincadeira!]

Pedro Munhoz é advogado e historiador.

Nota do Limpinho: Ficaram faltando frases reaças como “os políticos são tudo farinha do mesmo saco” (quem diz isso vota no PSDB), “sou apartidário, mas odeio o PT e gosto do FHC”, “os nordestinos vieram pra São Paulo e estragaram a cidade”, “Lula deu o Bolsa Esmola por isso é tão popular”…