Jornal que, em 1997, denunciou a compra de votos para aprovação da emenda à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirma que Narciso Mendes, personagem central do livro O Príncipe da Privataria, do jornalista Palmério Dória, é mesmo o personagem que a Folha apresentava como “Senhor X” em suas reportagens; Mendes gravou deputados admitindo terem recebido propina de R$200 mil para votar a favor da reeleição; segundo o jornal, revelação é “histórica”; no caso Watergate, a identidade de Mark Felt, fonte das notícias que derrubaram Richard Nixon, foi preservada durante 33 anos; aqui, o escândalo de FHC não deu em nada.
Via Brasil 247
Na reta final do julgamento da Ação Penal 470, um discurso do ministro Celso de Mello chamou a atenção. Segundo ele, o tratamento conferido ao réu José Dirceu foi “benigno”, uma vez que se tratava de corromper as instituições para permitir que um determinado grupo se perpetuasse no poder.
Curiosamente, no sábado, dia 31/8, chegou às livrarias a obra O Príncipe da Privataria, do jornalista Palmério Dória, que aborda uma compra efetiva de votos para que um determinado grupo se perpetuasse no poder. Em 1997, para que a emenda que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fosse aprovada, parlamentares foram comprados, alguns receberam R$200 mil, e o pagamento foi operado por personagens que hoje despontam no escândalo do metrô.
Nada foi feito, ninguém foi denunciado e nenhum dos personagens se transformou em réu. Naquele ano de 1997, o principal denunciante da história era apontado pela Folha como “Senhor X”, um personagem que gravou deputados admitindo terem recebido a propina. No livro, Palmério revela que ele era o empresário e ex-deputado Narciso Mendes.
Na edição de sábado, dia 31/8, pela primeira vez, a Folha confirma que Mendes foi efetivamente o “Senhor X” ou seu “garganta profunda”. Num texto de Ricardo Mendonça, o jornal classifica a revelação de Palmério Dória, que é também colunista do 247, como “histórica”.
No Brasil, Mendes permaneceu incógnito durante 16 anos. Nos Estados Unidos, a identidade de Mark Felt, o vice-presidente do FBI que denunciou o escândalo Watergate, foi preservada durante 33 anos. A diferença é que, lá, o presidente Richard Nixon caiu. Aqui, FHC festeja a prisão de réus, que, como diz Celso de Mello, corromperam as instituições para se perpetuar no poder.
Abaixo, a reportagem de Ricardo Mendonça, em que a Folha confirma a identidade de seu informante e lembra que o caso nunca foi investigado:
Livro contra FHC revela fonte que provou compra de votos
“Senhor X” gravou deputados que disseram receber para aprovar reeleição em 97. Empresário Narciso Mendes assume identidade 16 anos após escândalo que abalou governo tucano.
Ricardo Mendonça
O livro O Príncipe da Privataria, um libelo contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que está sendo lançado pelo jornalista Palmério Dória, traz uma revelação histórica sobre a compra de votos no Congresso a favor da emenda constitucional da reeleição, esquema denunciada pela Folha em 1997.
Tratado pelo jornal como “Senhor X” em diversas reportagens, o homem que naquele ano gravou deputados admitindo a venda de votos assumiu sua real identidade.
Trata-se do empresário e ex-deputado Narciso Mendes, 67 anos, dono de um jornal e de uma retransmissora do SBT em Rio Branco (AC). Em 16 anos, ele nunca havia falado publicamente sobre o assunto. A seu pedido, seu nome era preservado pelo jornal.
O depoimento de Mendes admitindo ter colhido as provas da compra de votos é tema dos capítulos 11 e 12 de O Príncipe da Privataria (399 páginas, Geração Editorial).
Na época, Mendes já era ex-deputado. Com bom trânsito na bancada do Acre, ele afirma que aceitou gravar os colegas e entregar o material ao repórter Fernando Rodrigues, autor da série de reportagens da Folha sobre a compra de votos, porque era “intransigentemente contra” a emenda que viria a favorecer FHC.
Seu único pedido era a manutenção do anonimato, condição que o jornal aceitou por entender que o interesse jornalístico se sobrepunha à necessidade de revelação de seu nome. Com a iniciativa do próprio em revelar sua identidade, a Folha entende que o acordo está encerrado.
Histórico
Nas gravações do “Senhor X” em 1997, dois deputados do Acre, Ronivon Santiago e João Maia (ambos do PFL, hoje DEM) diziam ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de R$200 mil, o equivalente a R$530 mil hoje.
Outros três deputados eram citados de forma explícita nas gravações. As conversas sugeriam que dezenas teriam participado do esquema.
A denúncia causou abalo no governo, mas o assunto nunca foi investigado. A tentativa de criação de uma CPI foi abafada. O então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não pediu a abertura de inquérito.
Em 21 de maio de 1997, oito dias após o caso ter sido publicado, Santiago e Maia renunciaram. Os ofícios enviados ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB/SP), eram idênticos. Ambos alegaram “motivos de foro íntimo”.
Dez anos depois, em sabatina na Folha, FHC não negou que tenha ocorrido compra de votos, mas disse que a operação não foi comandada pelo governo. “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou. Que compra de voto? […] Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos.”
Apanhado
Apesar do tom escandaloso do subtítulo, “A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e FHC ganhou sua reeleição”, o livro não traz material exclusivo sobre a venda de estatais durante o governo tucano (1995-2002).
As várias denúncias citadas, muitas vezes apresentadas de forma confusa e imprecisa, são reproduções de notícias publicadas em jornais e revistas da época. Já os argumentos econômicos são colagens de artigos publicados nos anos 90 pelo jornalista Aloysio Biondi (1936-2000), ex-colunista da Folha.
A informação mais polêmica do livro não está no material de Dória, mas na “Carta do Editor”, assinada na introdução por Luiz Fernando Emediato, dono da Geração.
Emediato diz que em 1991, quando denúncias contra o então presidente Fernando Collor começaram a surgir, ouviu uma confissão de uso de caixa 2 da boca do próprio FHC numa viagem aos EUA.
Ele diz ter ouvido de FHC o seguinte: “A diferença entre nós e eles [a turma de Collor] é que nós gastamos o dinheiro em campanhas, enquanto eles enfiam uma boa parte em seus próprios bolsos.”
Por escrito, o assessor do Instituto FHC Xico Graziano afirmou que o ex-presidente não se lembra de ter estado com Emediato nos EUA. Graziano classificou a frase atribuída a ele como “absurda” e disse que ela “jamais teria sido por ele pronunciada”.
***
Leia também:
Leandro Fortes: A privataria e as desventuras do príncipe
O Príncipe da Privataria: Livro revela como FHC comprou sua reeleição
Emprego: Um semestre de Dilma é melhor do que oito anos de FHC
Por que a reeleição de FHC nunca chegou ao STF
Para a reeleição de FHC, Cacciola doou R$50 mil
Proer, a cesta básica dos banqueiros
FHC só lançou programas sociais a quatro meses da eleição de 2002
A Folha noticiou a compra de votos por FHC para a reeleição, mas depois se “esqueceu”
Histórico catastrófico da era FHC
Vídeo: Entenda como e por que FHC quebrou o Brasil três vezes
Celso Lafer descalço em aeroporto exemplifica submissão de FHC aos EUA
Em vídeo, Itamar Franco esclarece que o Plano Real não é obra de FHC
Conheça o apartamento de FHC em Paris. Ele tem renda pra isso?
Vídeo: FHC tenta mentir em programa da BBC, mas entrevistador não cai nas mentiras
Adib Jatene: “FHC é um homem sem palavra e Serra, um homem sem princípios.”
FHC compra o Congresso: Fita liga Sérgio Motta à compra de votos para reeleição
FHC comprou o Congresso. O STF não vai fazer nada?
FHC disse muitas vezes: “Não levem a sério o que digo.”
FHC e a reeleição comprada: Por que a Veja não consulta seus arquivos?
O retrato do desgoverno de FHC
Governo FHC: O recheio da pasta rosa e o caso do Banco Econômico
Os crimes de FHC serão punidos?
O Brasil não esquecerá os 45 escândalos que marcaram o governo FHC
FHC ao FMI: “CEF, Banco do Brasil e Petrobras estão à venda.”
As viagens de FHC, de Lula e a escandalização seletiva
Dinheiro da CIA para FHC
A festa de 500 anos do Brasil de FHC dá prejuízo de R$10 milhões ao estado da Bahia
Vídeo em que FHC chama os aposentados de vagabundos
Documentos revelam participação de FHC e Gilmar Mendes no mensalão tucano
FHC: “Nós, a elite, temos tendência à arrogância.”
Bob Fernandes escancara a relação de FHC com a espionagem dos EUA
Contratada por FHC, Booz Allen já operava como gabinete de espionagem dos EUA
Se cuida, FHC: Vem aí a CPI da Espionagem da CIA
A empresa que espionava o Brasil prestava consultoria ao governo de FHC
Era Lula cria mais empregos que FHC, Itamar, Collor e Sarney juntos
FHC já defendeu uma nova Constituinte, mas agora acha autoritarismo. Pode?
FHC se diz contra 100% dos royalties para a educação
FHC já admite que Aécio não tem condições de ser candidato
Como a Globo deu o golpe da barriga em FHC e enviou Miriam para Portugal
Você precisa fazer login para comentar.