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PSDB é o partido que mais perdeu filiados em 2013. PT é o que mais ganhou

12 de março de 2014

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Miguel do Rosário, via Tijolaço

Na semana passada, O Globo publicou uma matéria sobre o desempenho dos partidos em termos de filiações em 2013. Só que não deu destaque ao que, obviamente, é o mais importante. O principal partido de oposição, o PSDB, foi o que registrou a maior baixa de filiados: 4 mil baixas no ano passado. O PT foi o partido que mais ganhou filiados em 2013: alta de 37 mil novos militantes.

Trecho da matéria:

“Entre os cinco maiores partidos, PMDB e PSDB foram os que tiveram o pior desempenho no ano passado. Ambos não registraram novos militantes. Pelo contrário, perderam filiados. O exército tucano registrou cerca de 4 mil baixas, e o do PMDB, 1,3 mil. Se isso foi proveniente de desligamentos ou de atualização cadastral – em casos de falecimento, por exemplo –, as estatísticas do TSE não esclarecem.

O PT foi o único nesse grupo a ter incremento de filiados acima da média nacional nos últimos anos, com 37 mil novos militantes.”

Parece que o feitiço lançado nas “jornadas de junho” se voltou contra o feiticeiro.

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Filiações partidárias aumentam nos últimos anos no Brasil

Miguel do Rosário

10/03/2014

Segundo Theo Rodrigues, nosso amigo de Barão de Itararé/RJ e cientista político com mestrado e agora doutorando justamente no tema partidos políticos, o jornal O Globo fez uma interpretação totalmente distorcida dos dados do TSE sobre filiações. Segundo ele, até mesmo o gráfico foi manipulado.

A intenção de O Globo é óbvia: botar mais um tijolinho em sua eterna campanha pela criminalização da política. Afinal, como é possível que brasileiros “bem informados” por nossa imprensa “livre” tenham o desplante de se filiar a um partido?

Segundo o Theo, as manchetes de O Globo, para serem fiéis à realidade, deveriam ser parecidas com essas:

– “Filiações partidárias aumentam nos últimos anos no Brasil”

– “Partidos da oposição perdem filiados nos últimos anos”

– “PT é o partido que mais atrai filiados no Brasil”

– “PMDB é o único partido da base aliada a perder filiados”

A manchete de O Globo: “No ano de protestos, número de filiações a partidos despencou”, segundo Theo, “é a única manchete que não condiz com a realidade”.

Eu também escrevi um post sobre o mesmo assunto.

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A chocante perseguição da Globo à Genoíno

5 de janeiro de 2014

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Miguel do Rosário, via O Cafezinho

Tantos fatos políticos acontecendo no Brasil e o jornal O Globo continua obcecado em perseguir um homem doente e já condenado pela Justiça. O jornal publicou no sábado, dia 4, matéria de quase uma página inteira apenas para informar que Genoíno “mudou de endereço” em Brasília.

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Genoíno estava hospedado na casa de um amigo em Guará, um apartamento minúsculo onde moravam mais de cinco pessoas. O Globo não publicou nenhuma foto, porque não queria transmitir a imagem de “pobre”. O Globo também jamais publicou a foto da casa de Genoíno em São Paulo, pelas mesmas razões.

E agora que Genoíno mudou-se para uma casa num condomínio de classe média, pertencente ao sogro de uma de suas filhas, o jornal entendeu que poderia obter uma fotografia melhor para prejudicar ainda mais a imagem pública do ex-deputado. E, de quebra, perseguir a sua família.

A matéria revela a perseguição de Barbosa e da Globo a Genoíno.

Confira esses trechos:

Na sexta-feira passada, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, relator do “mensalão”, rejeitou o pedido de transferência de Genoíno para São Paulo e deixou claro que, se o ex-deputado quisesse fazer consulta particular com Kalil, teria que convidar o médico para realizar os exames em Brasília. Segundo o advogado Luiz Fernando Pacheco, Genoíno não tem dinheiro para bancar as despesas com viagens de Kalil e, por isso, decidiu se consultar com médico local.

“O Genoíno não teria como pagar essas despesas”, disse.”

Ou seja, ao proibir Genoíno de cumprir prisão domiciliar em seu próprio… domicílio, conforme manda a lei, Barbosa mais uma vez ataca a saúde do parlamentar, porque impede-o de se tratar com seu médico.

A reportagem não menciona a denúncia do advogado de Pacheco, o qual informou que Barbosa compara Genoíno a Fernandinho Beira Mar ao negar a sua transferência para seu estado natal. Nem sei como comentar isso. Beira Mar é um preso de altíssima periculosidade, que, suspeita-se, ainda controla o tráfico de dentro da cadeia e sempre fugiu da autoridade. Genoíno se entregou à Justiça voluntariamente e foi condenado a regime semiaberto. Não oferece perigo nenhum à sociedade. É um herói político por sua luta contra a ditadura e foi um dos parlamentares mais respeitados do Congresso Nacional. Hoje é um homem alquebrado pela tortura midiática que lhe foi infligida, num processo viciado e político, segundo a opinião de vários juristas importantes, como Celso Bandeira de Mello.

Mais um trecho da matéria:

Procurado por O Globo, o ex-deputado não respondeu ao pedido de entrevista. Uma mulher, que estava na área externa da casa no momento da chegada da equipe de reportagem, disse que o ex-deputado está proibido de falar com jornalistas.

“Ele está cumprindo silêncio obsequioso, uma punição típica do Santo Ofício”, disse Pacheco.

Um dos vizinhos do ex-deputado disse a O Globo que uma única vez viu Genoíno fazendo exercícios físicos nos fundos da casa. Janelas e portas da casa estão sempre fechadas.

“Não tenho visto ele sair. Ele está recluso”, disse o vizinho, que pediu para não ter o nome publicado no jornal.”

Genoíno está “proibido” de dar entrevistas. Por aí se vê o apreço que o Judiciário – e a mídia, que dá a notícia sem trazer uma crítica – tem pela liberdade de expressão. Marcos Pereira, acusado de estupro, pode dar entrevistas à vontade. Outro dia revi Crime real, filme de Clint Eastwood, interpretado pelo próprio, que faz um jornalista que descobre, no dia da condenação à morte de um prisioneiro, que ele é inocente. O condenado dá entrevistas normalmente ao principal jornal da cidade.

Genoíno, não. Ele não pode dar entrevistas porque Joaquim Barbosa, que trocou o juiz responsável pelos réus do “mensalão” por um outro, mais obediente e mais tucano, tem medo do que Genoíno possa dizer. Barbosa parece fazer de tudo para que Genoíno não sobreviva às humilhações midiáticas constantes que ele tem lhe imposto, a começar pela prisão sensacionalista, num feriado de 15 de novembro, e seu translado para um presídio em Brasília, a milhares de quilômetros de sua residência. E ao mantê-lo em regime fechado, quando a sua sentença determinava a prisão em regime semiaberto.

A troco de que O Globo entrevista vizinhos da casa onde está Genoíno? Qual o interesse em saber se as janelas da casa estão abertas ou fechadas? Não está claro que isso constitui mais uma perseguição, porque constrange não apenas o condenado mas todos os seus parentes que lhe deram abrigo? Não é mais uma razão para a Justiça autorizar que ele vá para seu domicílio, e cumpra lá a sentença de prisão domiciliar, conforme manda a lei e conforme se permite a todos os condenados nesse regime?

Mico: O Globo derruba matéria sobre Aécio Boladasso

3 de novembro de 2013

Miguel do Rosário, via O Cafezinho

Na manhã de sexta-feira, dia 1º/11, enquanto saboreio um cafezinho quente, faço um tour pelos meus blogs preferidos. Vou ao Tijolaço e vejo um post sobre Aécio Neves, assunto sempre interessante para os aficionados em política, visto que é o principal candidato da direita.

O post menciona uma nova fanpage de Aécio Neves, Aécio Boladasso, e dá link para uma matéria no site da Globo. Pois é. Mas quando tento entrar na matéria, me deparo com a seguinte mensagem.

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Ué, vou no Google, e vejo que a matéria está lá, linkada.

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O link está certo. A matéria teria sido derrubada a pedido de Aécio?

Fui ver a fanpage: https://www.facebook.com/AecioNevesBoladasso. Então entendi por que a Globo derrubou a matéria, o que na internet é um mico federal, pois o link fica por meses, às vezes anos, no ar, quebrado, levando a lugar nenhum.

A fanpage é uma comédia, mas num sentido totalmente oposto ao que pretendia a pessoa que a pôs no ar. E está sendo, com justiça, estraçalhada pelo sarcasmo dos internautas.

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PS: Os comentaristas já acharam o cache da página.

PS 2: A coisa é pior que eu pensei. O blog Pragmatismo Político apurou que a Globo deu destaque à notícia quanto a página tinha apenas um fã. É muito desespero para tentar agradar o PSDB.

PS 3: Globo bota de novo matéria no ar.

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Imagem do post original de O Globo comprova que o jornal noticiou a página assim que ela foi criada, quando havia apenas um único fã. Após repercussão, jornal primeiro mudou o corte da foto, escondendo o número 1. Depois tirou a reportagem toda do ar.

“Aécio Boladasso” é lançado no Facebook, no Twitter e em… O Globo

Inspirado em “Dilma Bolada”, surge “Aécio Boladasso” no Facebook e no Twitter na tarde de quinta-feira, dia 31/10. Pouco depois foi noticiado em O Globo, quando tinha apenas um único “fã”.

Lino Bocchini, via CartaCapital

Legenda: Imagem do post original de O Globo comprova que o jornal noticiou a página assim que ela foi criada, quando havia apenas um único fã. Após repercussão, jornal primeiro mudou o corte da foto, escondendo o número 1. Depois tirou a reportagem toda do ar.

“Sou lindo, sou tucano, sou futuro presidente dessa nação por um Brasil melhor”. Esta é a apresentação da página “Aécio Boladasso”, que segundo os registros da rede social surgiu na quinta-feira, dia 31/10, às 13h30. No Twitter, apareceu pouco depois, por volta de 14h30.

Menos de quatro horas depois, às 18h23, o site de O Globo destacou em sua home uma reportagem completa sobre a novidade, com declarações de Jefferson Monteiro, criador da “Dilma Bolada”. O próprio printscreen (reprodução de tela) que acompanhava a reportagem original do jornal comprova que, quando O Globo fez o texto, apenas uma única pessoa havia curtido o perfil.

Quando este texto estava sendo concluído, às 21h50, eram 724 fãs no Facebook e 127 no Twitter. O perfil oficial do senador mineiro e pré-candidato do PSDB à presidência tem 26 mil seguidores, mas nunca foi usado. A página oficial de Aécio no Facebook é “curtida” por 190 mil pessoas.

“Dilma Bolada” tem 162 mil seguidores no Twitter e 553 mil no Facebook. A presidenta Dilma Rousseff, que recentemente voltou às redes sociais, tem mais de 2 milhões de seguidores no Twitter e 91 mil no Facebook.

Mal-estar em O Globo: As manifestações chegam à redação

24 de outubro de 2013

Globo_Jornal21102013Boatos sustentam: cancelamento de assinaturas cresceu dez vezes, depois da capa que tentou criminalizar professores.

Ivson Alves, via Coleguinhas Uni-vos e lido no Outras Palavras

“Quem escreve para jornal é desocupado ou psicopata.”

A frase acima marcou o ponto mais baixo – alguém pode achar mais alto, não eu – do mal-estar interno na redação de O Globo causado pela primeira abaixo, da edição de quinta-feira, dia 17.

Tecla de retrocesso.

No meio da tarde daquele dia, o e-mail interno geral de O Globo começou a receber centenas de e-mails revoltados com a capa “retrato de bandido” acima (sim, sei qual é o endereço). A imensa maioria – talvez uns 80% – era composta de um texto padrão, educado, que dizia algo como ser inaceitável O Globo fazer uma capa daquela, e 20% eram textos próprios, muitos com impropérios (as minhas fontes não quiseram me passar nenhum, argumentando, com razão, que a vigilância interna deve estar em níveis de alerta vermelho-sangue). No mesmo dia, o cancelamento diário de assinaturas, que normalmente já não é desprezível (em torno de 10), subiu algo entre 10 e 20 vezes, segundo as fontes. A torrente de e-mails continuou até mais ou menos às 9:30 de sexta-feira, quando o sempre competente setor de tecnologia de O Globo conseguiu uma forma de bloqueá-la.

Aí o problema real começou.

Em política, há uma frase – “vaca está estranhando bezerro” – que se encaixa perfeitamente no que aconteceu na redação de O Globo após o bloqueio dos e-mails de protesto. A parte mais nova dos repórteres respondeu o e-mail da tecnologia, avisando do bloqueio das mensagens, protestando contra a censura, sob o argumento geral – comportando variações – de que não se poderia ignorar a insatisfação dos leitores, no mínimo porque eles são os clientes.

O “aquário” não gostou, claro, considerando a manifestação como uma espécie de motim, mas isso faz parte da tradição autoritária de O Globo. O que não faz – ou fazia – parte dessa tradição é que jornalistas mais velhos apoiassem o bloqueio – ou seja, o cerceamento do direito dos leitores de opinar sobre o jornal que compram – e, mais, se manifestassem contra a discussão do tema no e-mail geral da redação.

Nesse contexto é que Ilimar Franco, titular do Panorama Político, enviou a frase que iniciou esse post e define bem o abismo que separa os estamentos mais altos da redação de O Globo – incluídos aí não apenas os que habitam o “aquário” – e a “jovem guarda” da redação, que, até por dever de ofício, está mais ligada ao que ocorre nas ruas (e agora está meio em pânico com as consequências da capa “retrato de bandido” para seu dia a dia, já suficientemente perigoso ultimamente).

Num mundo menos imperfeito, a manifestação das moças e rapazes geraria não esse tipo de resposta de Ilimar, mas uma meditação dos “aquarianos” e seus aliados quanto aos caminhos que estão sendo seguidos pelo jornal. Talvez, nessa meditação, se chegasse à conclusão que as recentes manifestações no País – tirando os casos de violência gratuita, que são espetaculosos, geram medo, e, com isso, tendem a distorcer o raciocínio, mas não mudam o curso da História – apontam para uma mudança de patamar na democracia brasileira, que, como sabemos, não chega a ter nem 30 anos, como uma grande parte dos manifestantes.

Essa mudança de patamar é causada pela passagem da consciência do nível de subsistência de parte significativa da população – aquele no qual o importante é contar com energia elétrica e ter dinheiro, a fim de comprar a geladeira que permitirá guardar os alimentos por mais tempo, liberando uma parte dele, antes usado de obtê-los – para aquele em que o tal tempo ganho pela existência da geladeira fica à disposição para outras tarefas, como refletir sobre o futuro da família, especialmente a educação dos filhos, e sobre por que raios ele/ela precisa deslocar-se 100 quilômetros para a consulta com um médico que nem sempre está lá, levando um tempo enorme no trajeto devido ao péssimo transporte público.

A adaptação a esse novo tipo de racionalidade é um problema que afeta, em primeiro (e em segundo e terceiro) lugar os políticos e as diversas instâncias governamentais e suas burocracias. Outras instituições da sociedade, porém, terão que passar por esse processo e seria de bom alvitre para elas irem pensando nisso. Entre essas instituições, até pelo seu papel central na sociedade, estão os meios de comunicação.

No caso específico de O Globo, a reflexão deveria partir de sua direção de redação, já que, por sua posição no processo de produção, tem acesso privilegiado aos dados reais do problema, entre eles aqueles trazidos pela “jovem guarda”, que anda pelas ruas e enfrenta-os diretamente. Levar essas reflexões aos Marinho é dever dos “aquarianos”. Se não o cumprirem, serão cobrados lá na frente.

E quanto à “jovem guarda”? Bem, se eu tivesse menos 20 anos e fosse tão bem preparado como eles são hoje em dia, e diante desse literal mundo de oportunidades que a mídia e as indústrias criativas e de serviço oferecem, eu estaria pensando seriamente em pular fora desse barco, pois já dá para ouvir as chapas de aço rangendo e uns barulhos estranhos vindo lá da casa de máquinas, enquanto os oficiais se esbaldam no salão de baile.

Paulo Moreira Leite: Joaquim, Pedro 1º e o racismo

30 de julho de 2013

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Um eventual candidato Joaquim Barbosa corre o risco de se tornar vítima do racismo à brasileira?

Paulo Moreira Leite em seu blog

Na entrevista a Miriam Leitão publicada no domingo, dia 28, em O Globo, Joaquim Barbosa usou a questão racial para definir seu futuro político. Tanto para falar de uma eventual candidatura presidencial, como para explicar reportagens recentes a seu respeito, o presidente do STF colocou o tema no centro das explicações e argumentos.

Não é a primeira vez que Joaquim age dessa forma. Num de seus primeiros conflitos com jornalistas, assim que se tornou presidente do STF, ele reagiu com truculência quando um repórter – negro – perguntou se ele estaria mais tranquilo depois de ter sido confirmado no mais alto posto da mais alta corte de Justiça do País.

Referindo-se ao repórter como “brother”, o ministro o acusou de estar usando estereótipos racistas ao fazer a pergunta. Referindo-se a outra jornalista que faz reportagens sobre o STF, definiu-a como branquela.

Em sua entrevista, Miriam Leitão perguntou: “O Brasil está preparado para um presidente da República negro?”

“Não”, disse Joaquim. E prosseguiu: “Porque acho que ainda há bolsões de intolerância muito fortes e não declarados no Brasil. No momento em que um candidato negro se apresente, esses bolsões se insurgirão de maneira violenta contra esse candidato.”

Referindo-se a reportagens recentes sobre seu filho – e também sobre seu apartamento em Miami –, o presidente do Supremo afirmou: “Já há sinais disso na mídia. As investidas da Folha de S.Paulo contra mim já são um sinal. A Folha de S.Paulo expôs meu filho, numa entrevista de emprego. No domingo passado, houve uma violação brutal de minha privacidade. O jornal se achou no direito de expor a compra de um imóvel modesto nos Estados Unidos. Tirei dinheiro de minha conta bancária, enviei o dinheiro por meios legais, previstos na legislação, declarei a compra no Imposto de Renda. Não vejo a mesma exposição da vida privada de pessoas altamente suspeitas da prática de crime.”

Reforçando a ideia de que sofre uma forma de perseguição, Joaquim Barbosa analisou:

“Há milhares de pessoas públicas no Brasil. No entanto, os jornais não saem por aí expondo a vida privada dessas pessoas públicas. Pegue os últimos dez presidentes do Supremo Tribunal Federal e compare.”

Em outro parágrafo, o presidente do STF criticou a atuação dos jornais, com um raciocínio que, pronunciado por personalidades ligadas ao governo, dificilmente deixaria de ser apontado aflitivamente como ameaça à liberdade de imprensa:

“É um erro achar que um jornal pode tudo. Os jornais e jornalistas têm limites. São esses limites que vêm sendo ultrapassados por força desse temor de que eu eventualmente me torne candidato.”

Joaquim também ameaçou:

“Nos últimos meses, venho sendo objeto de ataques também por parte de uma mídia subterrânea, inclusive blogs anônimos. Só faço um alerta: a Constituição brasileira proíbe o anonimato, eu teria meios de, no momento devido, por meio do Judiciário, identificar quem são essas pessoas e quem as financia. Eu me permito o direito de aguardar o momento oportuno para desmascarar esses bandidos.”

Há muito a falar sobre essa entrevista.

Eu acho que, do ponto de vista dos valores democráticos, a ideia – “O Brasil está preparado para Joaquim?” – contém um viés estranho. É como se Joaquim Barbosa, até hoje um eventual candidato a presidente, numa lista com pelo menos quatro nomes fortes entre os oposicionistas, não fosse um concorrente igual a todos os outros, mas a encarnação de um destino necessário para o bem de um país que, no entanto, estaria relutando em reconhecer suas prerrogativas.

Numa democracia, não é um país que pode ou não estar preparado para um presidente. Antes, é um candidato a presidente que deve se mostrar preparado para governá-lo. Isso implica, como primeiro passo, ter preparo para vencer eleições, o que só é possível pelo debate político. Sem esse debate, não estamos falando de eleição, mas de coroação.

Há quase dois séculos, em 1823, Pedro 1º chegou a dizer que só iria defender a Constituição “se ela fosse digna do Brasil e digna de mim”. Lula, o mais popular político brasileiro da história, já foi envolvido em visão semelhante. Durante três campanhas presidenciais (1989, 1994 e 1998), vários dirigentes do PT adoravam dizer que Luiz Inácio Lula da Silva não conseguia eleger-se porque havia preconceito contra um trabalhador de fábrica, sem diploma universitário nem grande educação formal.

Como é natural em sociedades capitalistas, a questão de classe pode ser omitida, disfarçada, distorcida, mas é sempre fundamental. Lula enfrentava – e enfrenta até hoje, apesar de tudo – um preconceito pesado em função de sua origem.

Era o eleitor que não estava preparado? Ou era o candidato?

A pergunta deixou de fazer sentido quando Lula deixou de se apresentar como predestinado – “trabalhador vota em trabalhador”, dizia na primeira campanha – e conseguiu oferecer uma proposta política abrangente, coerente com sua biografia e suas relações com os trabalhadores, capaz de falar aos interesses do conjunto da sociedade, em especial dos brasileiros mais humildes. Foi assim que se tornou um candidato imbatível, com três vitórias presidenciais consecutivas no currículo.

A pergunta de fundo é outra. Um eventual candidato Joaquim corre o risco de se tornar vítima do racismo à brasileira?

Minha resposta é depende. No mundo da cultura moderna, o preconceito é uma sobrevivência real, mesmo em declínio. Perde funcionalidade, embora ajude a manter hierarquias e privilégios.

Em função disso pode ser reconstruído, enfraquecido, fortalecido ou combatido ao sabor das circunstâncias e conveniências de cada momento, a partir de opções culturais, políticas e históricas aquele universo que se chama indústria cultural, onde os jornais, revistas e tevê ocupam um lugar central.

Até novelas podem servir para debater questões dessa natureza, nós sabemos. Atitudes preconceituosas podem ser estimuladas com maior ou menor sutileza, em determinado momento e tratadas de forma crítica, como estigma, em outro.

A lendária “falta de preparo” de Lula para governar o País foi uma observação permanente de seus adversários – e da maioria dos meios de comunicação – antes e depois da vitória de 2002. A tese cumpria a função política de criar uma rejeição acima de qualquer análise racional. Nem sei se todos observadores acreditavam naquilo que diziam e escreviam. Suas palavras expressavam a visão política de quem considerava que as ideias que Lula trazia na bagagem não eram convenientes a seus interesses.

A partir deste critério é preciso reconhecer, para além de todos os méritos e talentos individuais, que Joaquim Barbosa só tornou-se uma personalidade popular, a ponto de ser reconhecido em pesquisas eleitorais, porque foi endeusado pelos meios de comunicação durante o julgamento do “mensalão”. Não quero julgar cada uma de suas sentenças ou acusações. Mas fatos são fatos.

Chega a ser preocupante saber que Joaquim não está satisfeito com o tratamento que recebe dos meios de comunicação. Fica até difícil imaginar até onde vai seu palmômetro.

Em 40 anos de jornalismo, nunca vi aplauso igual desde que Joaquim aceitou a denúncia contra os réus do “mensalão”. Em 2012, durante o julgamento, foram quatro meses consecutivos de aplausos, elogios, imagens dramáticas e reportagens favoráveis. Revistas competiam para ver quem fazia a comparação mais favorável e produzia o editorial mais elogioso. Jornalistas tarimbados e jornais de prestígio renunciaram a qualquer espírito crítico para fazer uma cobertura unilateral e tendenciosa, contra os réus e contra os argumentos da defesa.

Ainda agora, quando os acórdãos trouxeram supressões e alterações que chamam a atenção de todo leitor mais atento, não vejo quem ouse discutir – com seriedade – os argumentos que questionam a consistência de várias decisões.

Em agosto, quando o julgamento deve ser retomado, os meios de comunicação irão cobrar de Joaquim aquilo que ele já deixou claro que pretende oferecer: penas duríssimas, condenações longas, prisões, muitas prisões, e mais prisões, e revisões magras – se houverem.

Não vejo divergências nem discordâncias. O jogo está definido.

Com ênfase e convicção, espera-se que Joaquim faça aquilo que lhe pedem e será bem tratado. O jogo é político. Interessa, a partir de agosto, reconstruir o ambiente de espetáculo do segundo semestre de 2012, preparando a sucessão presidencial, em 2014.

Com a clareza que mestres de sua estatura podem exibir, o professor Umberto Eco, que aprendi a ler na rebeldia de minha pós-adolescência, e tive a honra de contratar para ser colunista da Época quando era diretor de redação, acaba de publicar um artigo onde diz que “nos dias de hoje, um país pertence a quem controla os meios de comunicação”. (O título do artigo, curiosamente, é “Por uma guerrilha da semiótica”).

Se houver interesse numa candidatura presidencial de Joaquim Barbosa, decisão que envolve diversas considerações de ordem política, o presidente do STF será autorizado a mobilizar o eleitorado negro para tentar dar votos à oposição. Basta conversar com esses cidadãos para encontrar, em todos eles, uma admiração real pela posição que Joaquim Barbosa ocupa. A carta racial terá, neste caso, grande utilidade eleitoral, não tenham dúvida. Joaquim poderá falar a uma parcela imensa de brasileiros que recebe um tratamento discriminatório desde a abolição da escravatura.

Será um debate riquíssimo, quando se recorda que, em nome de sua herança, Dilma Rousseff terá inúmeras realizações a apresentar, inclusive um programa de cotas que possíveis aliados de Joaquim combateram de todas as formas, inclusive com recursos ao Supremo e intelectuais recrutados especialmente para o mesmo fim.

Inventora da falsa doutrina da “democracia racial”, a cúpula da sociedade brasileira saberá esconder o próprio racismo se isso for conveniente para seus interesses.

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STF paga viagem de jornalista de “O Globo”

7 de maio de 2013
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Joaquim Barbosa na Costa Rica.

Eis um caso inaceitável de infração de ética de mão dupla.

Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo

Um asterisco aparece no nome da jornalista de O Globo que escreve textos sobre Joaquim Barbosa em falas na Costa Rica. Vou ver o que é o asterisco. E dou numa infração ética que jamais poderia acontecer no Brasil de 2013. A repórter viaja a convite do Supremo.

É um dado que mostra várias coisas ao mesmo tempo. Primeiro, a ausência de noção de ética do Supremo e de O Globo. Viagens pagas já faz tempo, no ambiente editorial mundial e mesmo brasileiro, são consensualmente julgadas inaceitáveis eticamente. Por razões óbvias: o conteúdo é viciado por natureza. As contas do jornalista estão sendo bancadas pela pessoa ou organização que é central nas reportagens.

Na Abril, onde me formei, viagens pagas há mais de 20 anos são proibidas pelo código de ética da empresa. Quando fui para a Editora Globo, em 2006, não havia código de ética lá. Tentei montar um, mas não tive nem apoio e nem tempo.

Tive um problema sério, na Globo, em torno de uma viagem paga que um editor aceitou. Era uma boca-livre promovida por João Dória, e o editor voltou dela repleto de brindes caros, outro foco pernicioso de corrupção nas redações.

Fiquei absolutamente indignado quando soube, e isso me motivou a fazer de imediato um código de ética na editora. Surgiu um conflito do qual resultaria minha saída. Dias depois de meu desligamento, o editor voltou a fazer outra viagem bancada por Dória, e desta vez internacional.

Bem, na companhia do editor foi o diretor geral da editora, Fred Kachar, um dos maiores frequentadores de boca livre do circuito da mídia brasileira. Isto é Globo.

De volta à viagem de Costa Rica.

Quando ficou claro que viagens pagas não podiam ser aceitas eticamente, foi a Folha que trouxe uma gambiarra ridícula. A Folha passou a adotar o expediente que se viu agora em O Globo: avisar que estava prevaricando, como se isso resolvesse o caso da prevaricação.

A transparência, nesta situação, apenas amplia a indecência. A Globo sabe disso. Mas quando se trata de dinheiro seus limites morais são indescritivelmente frouxos.

Durante muito tempo, as empresas jornalísticas justificaram este pecado com a alegação de que não tinham dinheiro suficiente para bancar viagens. Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Observe o patrimônio pessoal dos donos da Globo, caso tenha alguma dúvida. É ganância e despudor misturados – e o sentimento cínico de que o leitor brasileiro não repara em nada a engole tudo.

Então a Globo sabe que não deveria fazer o que fez. E o Supremo, não tem noção disso?

É o dinheiro público torrado numa cobertura jornalística que será torta moralmente, é uma relação promíscua – mídia e Judiciário – alimentada na sombra.

Para usar a teoria do domínio dos fatos, minha presunção é que o Supremo não imaginava que viesse à luz, num asterisco, a informação de que dinheiro do contribuinte estava sendo usado para bancar a viagem da jornalista do Globo.

Como dizia meu professor de jornalismo nas madrugadas de fechamento de revista, quando um texto capital chegava a ele e tinha de ser reescrito contra o relógio da gráfica, a quem apelar?