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Mauro Santayanna: O estado brasileiro e as multinacionais

30 de março de 2013

Multinacionais01

Mauro Santayanna em seu blog

O governo brasileiro tem tratado com deferência o senhor Emilio Botin, dono do Grupo Santander, já investigado pela Justiça espanhola, entre outras coisas, por remessas ilegais de dinheiro para o exterior e duvidosas contas na Suiça, pertencentes à sua família desde os tempos do franquismo. Ele comanda um grupo que teve de pegar, direta e indiretamente, no ano passado – em dinheiro e títulos colocados no mercado – mais de €50 bilhões emprestados; demitiu 2 mil empregados no Brasil no mesmo período; e teve queda de 49% em seu lucro global nos últimos 12 meses, devido, entre outras razões, a provisões para atender a ativos imobiliários “podres” no mercado espanhol.

A mera leitura dos comentários dos internautas espanhóis sobre o senhor Botin daria, a quem estivesse interessado, ideia aproximada de como ele é visto em seu próprio país e de como há quem preveja, com base em argumentos financeiros, que a bicicleta do Santander pode parar de rodar nos próximos meses, com a quebra do grupo ou, pelo menos, de seu braço controlador, ainda em 2013.

Nos últimos dez anos, as remessas de lucro para as matrizes de multinacionais – muitas delas estatais controladas direta ou indiretamente por governos estrangeiros – chegaram, no Brasil, a US$410 bilhões, ou pouco mais que nossas reservas internacionais, duramente conquistadas no mesmo período.

Ora, se as multinacionais trazem dinheiro e contribuem para aumentar o clima de competição em nossa economia, é natural que elas mandem seus lucros para o exterior. O problema é que na indústria, na área de infraestrutura ou de telecomunicações, quem está colocando o dinheiro somos nós mesmos.

O BNDES tem colocado a maior parcela de recursos e assumido a maior parte do risco, em empresas que mandam, apesar disso, ou por causa disso mesmo, bilhões de dólares para seus acionistas no exterior, todos os anos. Mais de 70% da nova fábrica da Fiat em Pernambuco foi financiada com dinheiro público. A Telefônica da Espanha recebeu do BNDES mais de R$4 bilhões em financiamento para expansão de “infraestrutura” nos últimos anos. E mandou mais de US$1,6 bilhão para seus acionistas espanhóis, que controlam 75% da Vivo, nos sete primeiros meses do ano passado.

A OI, que também recebeu dinheiro do BNDES, emprestado, e era a última esperança de termos um “player” de capital majoritariamente nacional em território brasileiro, corre o risco de se tornar agora uma empresa portuguesa, com a entrega de seu controle à Portugal Telecom, na qual o governo português – que já dificultou inúmeras vezes a compra de empresas lusitanas por grupos brasileiros, no passado – conserva mecanismos estratégicos de controle.

Empresas estatais estrangeiras, como a francesa ADP (aeroportos de Paris) ou a DNCS, que montará aqui os submarinos comprados pelo Brasil à França, pertencem a consórcios financiados com dinheiro público brasileiro. Essa é a mesma fonte dos recursos que serão emprestados às multinacionais que vierem a participar das concessões de aeroportos, de rodovias (com cinco anos de carência para começar a pagar) e de ferrovias, incluindo o trem-bala Rio-São Paulo.

A Caixa Econômica Federal adquiriu por R$7 mil, em julho, pequena empresa de informática e depois nela se associou minoritariamente à IBM. No mês seguinte, depois de constituída a nova sociedade, agora controlada pelos norte-americanos, com ela celebrou, sem licitação, contrato de mais de R$1,5 bilhão – operação que se encontra em investigação pelo TCU.

Qual é o lucro que o Estado brasileiro leva, financiando, direta e indiretamente, a entrada de empresas estrangeiras de capital privado e estatal em nosso território para, em troca, em lugar de reinvestirem os seus lucros por aqui, continuarem mandando tudo o que podem para fora?

Com a queda dos juros no exterior por causa da crise e da recessão que assolam a Europa e o Japão, existe liquidez bastante para que essas empresas busquem dinheiro lá fora para bancar, pelo menos, a parte majoritária de seus investimentos no Brasil.

Os chineses, por exemplo, têm dinheiro suficiente para financiar tudo o que fizerem no Brasil, sem tomar um centavo com o BNDES. Usar o banco para aumentar o conteúdo nacional nos projetos é inteligente. Mas, se estamos financiando empresas estatais estrangeiras, por que não podemos financiar nossas próprias estatais, não apenas para diminuir a sangria bilionária, em dólares, para o exterior, mas também para regular o mercado e os serviços prestados à população, como já ocorre com os bancos públicos no mercado financeiro?

Não se trata de expulsar ou discriminar o capital estrangeiro. Mas o bom sócio tem que trazer, ao menos, know-how e dinheiro próprio. A China sempre tratou – até por uma questão cultural – com superioridade quem quer investir lá dentro, e cresceu quase dez por cento ao ano, nos últimos 20 anos, porque sempre entendeu ser o mercado interno seu maior diferencial estratégico.

Aqui, continuamos financiando a entrada de empresas estrangeiras com dinheiro público, dando-lhes terrenos de graça, isentando-as de impostos, como se não fôssemos a sétima economia do mundo.

O desenvolvimento nacional tem de estar baseado no tripé capital estatal, capital privado nacional, e capital estrangeiro. Nosso dinheiro, parco com relação aos desafios que enfrentamos no contexto do crescimento da economia, deve ser prioritariamente reservado para empresas de controle nacional, que, caso sejam privadas, se comprometam a não se vender para a primeira multinacional que aparecer na esquina. Quem vier de fora, que traga seu próprio dinheiro, e o invista, preferivelmente, em novos negócios, que possam expandir o número de empregos, a estrutura produtiva e aumentar a parcela de recursos disponíveis para o investimento.

Luciano Martins Costa: A “barriga” de alto custo da Veja

13 de janeiro de 2013

Veja_Bradesco_Santander

Luciano Martins Costa, via Observatório da Imprensa

Operadores e autoridades do mercado brasileiro de ações ainda estavam lidando, na quinta-feira, dia 10, com um problema criado na véspera pela edição digital da revista Veja. No final da tarde de quarta-feira, o portal de notícias Veja.com noticiou que o Bradesco estaria adquirindo as operações do Banco Santander no Brasil.

Com base em um suposto comunicado enviado aos funcionários do Santander, anunciando que a fusão iria acontecer ainda neste semestre, Veja manteve a informação incorreta como manchete durante 22 minutos, até que os bancos a obrigaram a retirar o texto do ar e publicar um desmentido.

Na manhã de quinta-feira, dia 10, o site especializado Infomoney reproduziu o desmentido de Veja, observando que o equívoco havia provocado “uma euforia no mercado”, resultando numa forte valorização dos papéis do Santander no pregão tardio da Bovespa – o mercado after hours, período de negociação que ocorre após o fechamento do pregão regular.

A valorização das ações do Santander chegou perto do teto máximo de oscilação positiva para o período, provocando um movimento atípico para o after hours. Para se ter uma ideia do volume provocado pelo erro da publicação, o Infomoney lembra que os papéis do Santander, que costumam ter um volume diário de negociações em torno de R$300 mil, chegaram a movimentar R$32 milhões após a falsa notícia da fusão com o Bradesco.

Olhando de lado

Segundo fontes do mercado de ações, o erro de Veja.com potencializou boatos de que o Santander teria interesse em negociar suas operações no Brasil para salvar sua matriz europeia, gerando a euforia que elevou artificialmente o valor das ações.

O princípio de crise surgido na quinta-feira só não se alastrou porque a Bovespa, os bancos envolvidos e outros protagonistas entraram em campo para abafar o caso, mas não está descartada a possibilidade de uma investigação para apuração de responsabilidades.

Se o site da Veja afirmou que havia baseado a notícia em e-mails enviados pela direção do Santander aos funcionários, é de se esperar que a revista apresente esses documentos, mesmo que decida preservar suas supostas fontes.

Na manhã de sexta-feira, dia 11, a imprensa registra uma situação desigual no balanço do mercado de ações: dos três principais bancos brasileiros, os títulos do Itaú e do Bradesco fecharam em declínio na quinta-feira, enquanto os papéis do Santander se destacavam entre os mais valorizados, além de aparecerem entre os mais negociados na véspera, num contexto completamente atípico.

No entanto, os jornais não se interessaram pelo problema e o público foi informado por sites especializados, como blogs de analistas financeiros e o portal Comunique-se, que noticiou o desmentido de Veja.com, reproduzindo a informação original do site Infomoney.

Erro infantil

A direção de Veja tratou de amenizar os efeitos da “barrigada” por meio de uma nota oficial se desculpando com seus leitores, afirmando que a falsa notícia “trazia em seu próprio enunciado a chave de sua falsidade”, pois, segundo a publicação: “O texto dizia infantilmente que a negociação da fusão fora informada pela instituição [Santander, N. do A.] a funcionários. Como qualquer pessoa do meio financeiro sabe, uma operação desse tipo tem de ser, por lei, mantida em sigilo e comunicada antes de qualquer outra forma de divulgação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)”.

Foram apenas 22 minutos de exibição da informação falsa, de 17h59 a 18h21 de quarta-feira, dia 9, mas os danos podem ter sido grandes para quem comprou ações em alta e vai ficar esperando acontecer a fusão do Bradesco com o Santander para recuperar o investimento.

A estranha simbiose entre os meios tradicionais de comunicação, que faz com que todos eles tratem de dar grande repercussão a escândalos e denúncias sem checar as origens, desta vez funciona ao contrário. Um erro documentado, com desmentidos distribuídos em notas oficiais de dois dos maiores bancos do País, vai ficar por isso mesmo.

Azar dos leitores de Veja.com que, “infantilmente”, acreditaram que dois bancos com ações na Bolsa iriam comunicar oficialmente seu matrimônio por meio de e-mails para funcionários.

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Luis Nassif: O mercado de capitais e o jogo da notícia

13 de janeiro de 2013
A Folha se retratou em letras pequenas.

A Folha se retratou em letras pequenas.

Luis Nassif em seu Advivo

O mercado de capitais é aquele em que se aplicam as regras mais severas visando resguardar a isonomia das informações. Em países modernos, pune-se o uso de informações privilegiadas, a disseminação de informações falsas e todos os fatos que possam provocar manipulação de cotações.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é incumbida da fiscalização do mercado e das informações. É eficaz quanto à identificação e punição de vazamentos de informações privilegiadas e de manipulações do mercado em geral. Mas absolutamente omissa em episódios que envolvam a mídia.

Dias atrás, a Folha divulgou que o governo havia feito uma convocação extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), devido ao risco iminente de racionamento de energia.

Era notícia falsa. Mas foi repercutida durante todo o dia, apesar dos desmentidos que constavam do site do Ministério das Minas e Energia e das informações prestadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

No mercado de energia, em que atuam apenas profissionais, não houve mudanças nas cotações. Na Bovespa, onde há maior heterogeneidade dos investidores, as cotações das elétricas oscilaram bastante. Ainda mais depois das perdas sofridas pela Eletrobras com as decisões do governo em relação à renovação das concessões.

As ações caíram e ontem [10/1], dois dias depois da escandalização, e voltaram a subir. Papéis da Cesp subiram 3,49%; da Eletropaulo, PN 2,53%; e da Eletrobras, PNB 2,27%. Nesses movimentos, muita gente ganhou muito dinheiro, à custa dos que perderam.

Ontem [10/1] foi a vez do portal da Veja divulgar uma notícia sem pé nem cabeça: a da suposta fusão entre o Bradesco e o Santander, que já teria sido comunicada aos funcionários.

A diferença do primeiro episódio é que, no caso da Veja, reconheceu-se o erro e providenciou-se a devida correção 20 minutos depois. O que não impediu oscilações de monta no mercado. É mais um capítulo complicado na perda de referencial pela mídia.

Permitiu-se que a politização passasse a interferir em todo o noticiário. Não existem mais filtros adequados. Em outros tempos, “barrigas” – informações falsas – eram punidas, ou pelo próprio jornal ou pelos concorrentes. Hoje em dia, desde que se atinja o objetivo político proposto, tudo é tolerado.

Em países mais modernos, existem modelos de autorregulação. E as instituições reguladoras de mercado mantem uma fiscalização severa sobre abusos de informações que possam acarretar distorções de preços de ativos.

Trata-se de um movimento terrível não apenas para o país como para a própria mídia. Na economia, a informação é essencial para alocação de recursos, decisões de investimento, planejamento estratégico.

Cabe ao jornalista o papel de intermediar os fatos, transformando-os em notícias. Por sua condição, o público supõe que tenha acesso a fontes inacessíveis para os mortais comuns, que trate as informações com discernimento, especialmente quando mexem com a poupança do público.

No entanto, por aqui varre-se tudo para baixo do tapete. O álibi político deu autorização para o jornalista matar, não apenas reputações mas os fatos. E tudo impunemente e às claras.

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